quarta-feira, 28 de novembro de 2012

No Ano do Dragão, ao público em 06/12/2012


No Ano do Dragão é um livro de Crônicas.
O gênero tem sido relacionado a dissertar e à prosa poética, no entanto, são técnicas também importantes para o gênero: a descrição e a narração. O que é dissertar? É buscar pertencimento a comunidades argumentativas sendo necessária a predominância da disposição lógica de indícios, suposições, deduções, e opiniões que busquem respaldar um conjunto de sequências argumentativas. O que é prosa poética? É a responsável maior pelo viés autobiográfico da crônica, pois expressa a visão de mundo da (do) cronista. Mas o que é descrever, quando se trata de crônica? Descrever é buscar lugares descritivos. Na descrição há elementos para a realização de fatos, mas não ocorre a interação entre os elementos. O que é narrar? É escolher um foco para uma escrita constituída basicamente de verbos que expressam ação e encadeiam causas e consequências, revelando a interação de elementos para a realização de fatos (por exemplo, o diálogo entre os personagens). A escolha do foco narrativo determina se haverá um Narrador-Observador (que narra de uma perspectiva de fora da história) ou um Narrador-Personagem (que participa do enredo e usa ‒ eu ou nós ‒ para narrar).

Sobre a Autora
Edna Domenica Merola é Mestre em Educação e autora de: Aquecendo a Produção na Sala de Aula (2001); Cora, Coração (2011); A Volta do Contador de Histórias (2011).
Edna Domenica Merola é poetisa, além de cronista.

"Release"
No Ano do Dragão (2012) é um livro de crônicas que tem personagens poetisas ou não, místicas ou não,... O foco narrativo de alguns textos é em primeira pessoa, outros não. Sua temática é contemporânea. Os narradores das crônicas referidas são oniscientes. Tudo isso faz suspeitar se há, não só na obra em pauta, mas na crônica em geral, certa veia autobiográfica. No entanto, o viés recorrente no gênero é a leitura de mundo que os autores expressam na construção da ficção sob a própria percepção do momento social vivido no cotidiano (Esse momento é percebido como 'realidade compactuada').


No Ano do Dragão refere-se desde o título ao ano em que a obra foi concluída (2012). No horóscopo chinês, o Dragão é associado ao que nunca cessa de encantar ou de agitar a imaginação. Traz várias histórias cheias de diálogos e no final delas prevalece a visão de quem sente o lado poético da vida e reflete com autonomia.

As personagens vivem situações plurais que incorporam a subjetividade de: Estela, Catarina, Évora, Renata, Júlia, Clara, Noêmia, Concheta, Romana, América, Antonia, Francesca, Ana Maria, Mercedes, Maria. Há também os personagens como: Cosmo, Miguel, Homero, o cachorro Jamil, o poeta Eremita, Lin Paí Ô, Sr $; os irmãos João e Tiago; o casal Eduardo e Mônica. Há ainda personagens sem nomes próprios como: a amiga, a ufóloga, a escritora, a ex-chefe, a moça da foto, a prima, a princesinha, a bruxa, a cantora, o pai, o colega, o carona, o fugitivo, o médico, o genro. Alguns temas (mesmo não sendo autobiográficos) absorvem as décadas vividas, pois os personagens abstraem e sintetizam o lado plural do ser humano. 

Vamos! É só um dragão!

(desenho de Marcelo Moreira)

A primeira crônica: De mãos dadas com um Dragão é um convite à leitura como exercício de abertura à ficção. 

A segunda crônica - Certo Dia do Ano do Dragão - inicia com um relato de fatos situados num dia sete e finaliza com versos de sete sílabas (cujo eu poético é  a personagem narradora).

Nonsense no Ano do Dragão traz à baila a questão da contestação, da inventividade e da alegria.

Os Dois Irmãos: diferentes culturas e personalidades podem interagir harmonicamente? Dois irmãos e um grupo de estudantes de Antropologia respondem a esta questão.
Locomoções: a percepção da história de vida, na cidade de São Paulo, acaba tendo por foco o uso do carro. O texto imprime o tom de testemunho histórico.

Sexta-feira Treze:relatos de dias macabros mesclam-se com impressões pessoais sobre eles.

Na crônica Meu Pai, há certo tom nostálgico em relação a admirar pessoas por seus hábitos e valores, pelo espírito crítico e pela responsabilidade em relação ao crescimento do outro.

História de Família, narra a vida de imigrantes italianos, centrando-se na personagem Antônia e em sua luta pela existência.
Adendo em Confissão revela uma faceta anarquista de uma italiana politicamente correta.

Anos de Chumbo,retrata uma história vocacional que sofreu interferências da mudança repentina do vestibular, no Brasil, em 1970.

Em Ponto de Partida, a lembrança de uma peça teatral assistida na juventude, retoma o gosto pela inovação que revigora a vida.
Júlia e Homero:enquanto acompanha o tratamento da prima, Júlia resolve mudar de cidade, mas também adoece.Como a leitura de Homero poderia ajudá-la?

Noêmia e o Eremita: ao mudar-se para uma nova comunidade, Noêmia foi vítima de bullying, até encontrar Eremita.

Sonho, narra fatos que envolvem a interpretação de um sonho, tomando por material explicativo o mito de Cronos.

Em O Cofre, uma mulher reluta em entender como funciona a ganância humana. Em T.O.C., uma dona de casa subjugada pela família consegue virar o jogo.
Uma História ‘da China’ tem por pano de fundo os valores neoliberais tratados de forma caricatural e lúdica.

Peixe Mais do que ‘Vivo’ critica o envio de emails com conteúdo ideológico pró-guerra. Romana e América,é uma reflexão sobre correntes de orações em redes sociais.
Pudim a Dostoievski: na impossibilidade de encontrar ajuda externa, Estela entra em contato consigo mesma, num momento de descoberta existencial.

Fábula é crítica ao personalismo, característica incorporada via colonização, mas ainda peculiar ao povo brasileiro.

Em A Moça da Foto, as habilidades femininas são decisivas para solucionar um impasse que envolve um jovem casal de anfitriões.

História de ‘Era Uma Vez’ aborda o tema da superação do egocentrismo como tarefa de crescimento.
Os mini-textos – Ex Super ‘$’; Problema; O Buraco, Praia da Joaquina – trazem críticas de cunho social que tomam um ar jocoso devido às características caricaturais.

Bruxa Florianopolitana retrata uma reação comum frente à intempérie, mas que se torna singular sob o viés local.

Pântano do Sul: retrata festas de uma praia do sul da cidade de Florianópolis.

Em Floripa Canta: A Estrela de Évora, a saudade que Estela sente pela prima e pela tia é revertida em parceria e canto.

Apologia compreende uma declaração de valores humanistas.


Processo de Criação

O processo de criação ocorreu sob um fruir momentâneo que se impôs como o fogo de um dragão. No entanto, a organização da obra demandou um tempo muito maior por ser um processo seletivo que pressupôs o leitor, ainda que a princípio idealizado. A colaboração do autor do prefácio foi também de grande importância na fase de burilar a primeira versão de No ano do Dragão.

Dedicatória
Essas histórias foram escritas no ano de 2012, em que comemoro o centenário de nascimento de meu pai. Para os devotos fervorosos das criações com palavras. Para os que se entregam à leitura como ao ato amoroso. Para os predispostos ao encontro com outras percepções de vida trazidas pelos personagens e fatos criados por outrem. Para os leitores ocasionais: um desafio de conquista. Agradecimentos a Artêmio Zanon (da Academia Catarinense de Letras) que apresenta essa obra e tem orientado e incentivado a mim e tantos outros escritores.
Texto postado para convidar para o lançamento:
Um dragão aguarda você em 06/12/2012, às 19 horas,

na Rua Doutor Jorge da Luz Fontes, 310 - Centro Florianópolis

Convite

 Venha usufruir de um encontro entre realidade e ficção.
Realidade da entrega de uma obra literária ao público.
Ficção inerente às 31 histórias que compõem o livro No Ano do Dragão.  
 Abertura do evento pelo cerimonial da Assembleia Legislativa.
A seguir:
Leitura dramatizada de trechos das crônicas De Mãos Dadas com um Dragão; Apologia, Bruxa Florianopolitana, Floripa Canta: a Estrela de Évora. 
Apresentação do Grupo Vocal Floripa Canta.
Coquetel e Sessão de Autógrafos. 



Link sobre a obra: Agência ALESC. Sala de ImprensaLivro “No ano do Dragão” será lançado nesta noite
Sala de Imprensa 06/12/2012 - 16h49min

Livro “No ano do Dragão” será lançado nesta noite

Assembleia Legislativa de Santa Catarina realiza nesta quarta-feira, 6, o lançamento literário “No ano do dragão”, da autora Edna Domênica Merola. O evento acontece a partir das 19h, no espaço cultural Jerônimo Coelho.

A obra reúne 31 textos de natureza dragonina: impressões e dados da ordem da realidade compactuada, miscigenados para serem usados como temas. Assim, No" ano do Dragão", refere-se ao ano de 2012, quando a obra foi concluída. No horóscopo chinês, o dragão é associado ao que nunca cessa de encantar ou de agitar a imaginação.



A autora ladeada por Zilá e Zulma
Outro link sobre o lançamento da obra vide em 12/12/2012 no Jornal Destaque Catarina. Livro é destaque em SC. Escritora lança: No Ano do Dragão. 12/12/2012/ 16:48 Postado por: Destaque Catarina. No dia seis de dezembro, houve lançamento do livro "No Ano do Dragão", de autoria da escritora paulista Edna Domenica Merola que reside há alguns anos em Florianópolis, SC. ... O Grupo Vocal apresentou pela primeira vez música com letra de Edna Domenica Merola.




Retrospectiva sobre a revelação da obra

Numa sexta-feira , 12 de outubro de 2012, finalmente chegou o dia de revelar qual foi a surpresa que preparei durante os 9 meses e 11 dias antecedentes à referida data! Dia 12 foi o dia d... do nascimento de mais uma criação para o leitor do Aquecendo a Escrita! O Dragão do horóscopo chinês (regente de 2012) e eu escrevemos um livro de crônicas. Os textos dragoninos estão sob o título NO ANO DO DRAGÃO. Escolhi o dia das crianças para "blogar" sobre o título, pois o dragão é associado ao que nunca cessa de encantar ou de agitar a imaginação, assim como uma criança cercada por um ambiente facilitador nunca cessa de experimentar suas potencialidades. Algumas crônicas foram inspiradas nos arcanos maiores do tarô. Já outras foram ambientadas na cultura de Florianópolis (cidade cujo apelido é "ilha da Magia"). No entanto, No Ano do Dragão homenageia um cidadão paulistano, pois nesse ano comemoro o centenário do nascimento de meu pai.

 

No dia 09 de outubro de 2012, pedi que aguardassem uma surpresa que estava preparando desde janeiro deste ano. Prometi que contaria somente no dia das crianças! Naquele dia, postei uma imagem como dica:


No dia 10 de outubro de 2012, segundo dia da contagem regressiva, postei o que segue: “ O Dia das crianças vem aí... E adulto também pode (e deve) se sentir renovado em sua 'criança interna'.


Deixei uma segunda imagem como dica para a descoberta da surpresa programada:


Fazer essa surpresa deu trabalho... Além dos familiares, algumas pessoas já sabiam que estava envolvida nessa criação, durante o ano de 2012:

1- O autor do prefácio

2- Uma colega que me cedeu uma foto para a concepção da capa do livro (feita por mim)

3- A bibliotecária que fez a ficha catalográfica

4- Alguns profissionais que trabalham com arte final e algumas gráficas para os quais pedi orçamentos... (fica para a próxima! Em ano 'de Dragão' é necessário tomar cuidado com gastos elevados... pois o Dragão não perdoa erros, em geral!)

5- O pessoal da gráfica na qual finalmente aceitei orçamento da impressão


Revelações sobre o trabalho que antecedeu à edição:

"Making of" (Feitura) de um livro

A capa de um livro tem a ver com seu título

O título no Ano do Dragão quer dizer "em 2012" (título adequado para livro da disciplina História, mas impróprio para o gênero crônica, à revelia desse ter um 'pé' na temporalidade, assim como a referida disciplina).

Uma ideia ventilada que descartei foi colocar um dragão na capa. Questionei a associação muito óbvia entre imagem e título: a ilustração aventada seria suficiente para instigar o leitor a construir suas metáforas?

A capa de um livro tem a ver com seu conteúdo

No início de 2012, a imagem abaixo tinha muito a dizer sobre uma crônica do rol de textos inéditos.


No decorrer do ano escrevi como abertura uma crônica que faz referência explícita ao leitor. Nela a citação metafórica do elemento fogo tornou-se evidente.

Sobre a metáfora do fogo, encontramos em Rubem Alves a bonita e clara explicação:

"Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua sendo milho para sempre." ... Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo...
Mas, de repente, vem o fogo. O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos: a dor. Pode ser fogo de fora: perder um amor, perder um filho, o pai, a mãe, perder o emprego ou ficar pobre. Pode ser fogo de dentro: pânico, medo, ansiedade, depressão ou sofrimento, cujas causas ignoramos...
A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz. Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo a grande transformação acontece: BUM! E ela aparece como uma outra coisa completamente diferente, algo que ela mesma nunca havia sonhado. (A transformação pelo fogo, in "O amor que acende a lua", Editora Papirus)

Alguém cujo bom senso estava momentaneamente fora do ar sugeriu que eu colocasse uma foto de fogueira estilizada, pois seria fácil de encontrar em revistas infantis para colorir... Mas outro alguém imbuído de bom senso rebateu: "Copiar já não é algo simpático e além do mais o livro não é sobre festas juninas..." Foi então que uma colega escritora enviou-me duas fotos muito adequadas e uma delas foi para a capa que criei.

Foto do acervo de Edna 

No trabalho de feitura do livro há exclusões. Abaixo uma das capas que não usei. A foto que nela consta remete ao fogo, mas aglutina outras conotações. Uma delas é recolhimento, no sentido de "vida concentrada e recatada", o que não tem muito a ver com o cerne e o buquê de No Ano do Dragão.

Um critério de organização aponta uma direção, mas deve ser flexível e sutil.

Uma boa questão sobre a feitura de livro de crônicas é sobre a melhor sequência para os diversos textos que aparentemente não se entrelaçam.

E decorrente dela é a segunda questão: os textos realmente não dialogam entre si ?


A organização de um livro de crônicas não precisa ser tão fechada e previsível como a de uma bula de remédio, por exemplo. Isso implica em que a ordem sequencial dos textos possa ser por data de sua criação (ordem crescente ou decrescente), por ordem alfabética do título, ao invés de ser por temas. No entanto, quando houve a opção de priorizar a metáfora do fogo (transformação) a organização de No Ano do Dragão ficou por conta do teor temático, em detrimento de outro critério. Desta feita, as diversas crônicas que abstraem o psicológico, por exemplo, comparecem em sequência. O mesmo acontece com o econômico-social e demais.

O viés autobiográfico e o gênero 'crônica'

No Ano do Dragão é um livro de crônicas que tem personagens poetisas ou não, compositoras ou não, místicas ou não, idealistas ou não,... O foco narrativo de alguns textos é em primeira pessoa, outros não. A temática é contemporânea. O narrador é onisciente. Tudo isso faz suspeitar se há, não só na obra em pauta, mas na crônica em geral, certa veia autobiográfica. No entanto, o viés recorrente no gênero é a leitura de mundo que os autores expressam na construção da ficção sob a própria percepção do momento social vivido na realidade.

Sobre o uso e o custo de ilustrações

Como diz a canção: "Nunca te prometi um jardim de rosas!" (Mas se tivesse prometido seria um jardim de rosas brancas! Vermelhas, amarelas,... só quando o mercado editorial melhorar!)
As ilustrações coloridas usadas no miolo do livro encarecem o preço da impressão da obra e consequentemente o valor que o leitor terá de pagar por um exemplar. Deste modo o miolo em preto e branco passa a ser uma opção mais econômica. Mas tivemos de substituir algumas fotos. A resolução em branco e preto para uma foto originalmente colorida pode comprometer a imagem que se deseja: foi o caso da foto usada na capa e de sua recriação no miolo. Fotos muito antigas podem ficar muito escuras e pouco visíveis, num miolo de livro em branco e preto. Iria ilustrar texto "Praia da Joaquina":

Praia da Joaquina, década de 60, séc. XX
Outra foto retirada: três crianças. Ilustraria o texto Problema (Foto abaixo).
Escolares:década de 20 do séc. XX

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Crônica e senso comum. Por Edna Domenica Merola.


Quando estudei crônica no cursinho pré-vestibular, em 1970, lembro-me de que as referências eram sobre um gênero praticado por jornalistas e, por isso, não literário (em seu sentido canônico). No entanto, à época, leitores paulistas tinham o prazer de ler crônicas de Carlos Drummond e de Lourenço Diaféria, em coluna diária (parece pleonasmo, mas não é, pois havia um suplemento literário semanal escrito por críticos de arte). Anteriormente, leitores cariocas já haviam sido contemplados com páginas escritas por Clarice Lispector e Manuel Bandeira!
Em 2012, a situação é outra, pois a arte contemporânea é despida de preconceitos ou até de conceitos... Antes que o leitor se arme contra o que vou dizer, antecipo que se trata de compartilhar algo vivido por alguém que viu o saber institucionalizado sair da sala de aula e percorrer redes sociais na Internet... E de alguém que viu o senso comum desafiar teorias como se fossem todas elas feitas por tolos sedentários em busca de ocupação...
Percebo que nesse ponto algum leitor poderá me chamar por adjetivos iniciados pelo prefixo in (+satisfeita, +flexível,+conformada...). Deixe-me só acrescentar que esse desafio do senso comum foi maravilhoso, na década de noventa, auxiliando-nos a criar novas didáticas preocupadas em religar saberes, criando projetos multidisciplinares, interdisciplinares, transdisciplinares! Mas voltemos ao gênero crônica e a 2012. As pessoas ‘plugadas’ em criar por meio da palavra (e por que não incluir todos que redigem as conversas nas redes sociais?) se valem da veia de cronista, pois falam do momento presente em generalizações tribais que desvelam a privacidade, registrando costumes, comportamentos e demais concepções sobre o fazer (que é a forma contemporânea de mostrar a imagem da existência!).
Em 2012, navegando, na condição de internauta, por sites produzidos por adultos, descobri um texto formatado como didático no qual os exemplos dados sobre focos narrativos foram invertidos. Comecei a buscar elementos para entender esse erro, pois no mais o texto aparentava ser bem intencionado. Fiquei apreensiva...  O que teria sido feito com as pessoas honestamente curiosas e com os bons pesquisadores? Teriam perdido a credibilidade, deixando espaço para enganadores que dominam a linguagem das novas tribos? Mas segui firme com a meta de entender o que causou essa depressão no terreno de estudantes e estudiosos e no território dos ‘escritores’... Em primeiro lugar, o que vem a ser foco narrativo?  É o ponto de vista ou a perspectiva através da qual se conta uma história. É a posição escolhida pela instância narrante ou voz que conta algo.
Num diálogo com alunos, enquanto citava a respeito de narração em 1ª e 3ª pessoas, um deles falou: ‒ Como seria uma narração em 2ª pessoa? Achei a pergunta engraçada, pois era inédita! O fato é que pessoas criam dúvidas e isso estimula quem gosta de ensinar. A resposta então foi a que segue: ‒ A primeira pessoa é quem está falando, a terceira pessoa é de quem se está falando, mas a segunda pessoa é com quem se fala. Então não pode haver narração em 2ª pessoa, porque na narração a 2ª pessoa é quem recebe a história, o ouvinte ou o leitor, a pessoa para quem se narra os fatos. Se ela passar a narrar, deixa de ser a 2ª pessoa. Percebi que meu aluno confundira as pessoas gramaticais que são três (primeira: eu e nós; segunda: tu e vós; terceira: ele, ela, eles, elas) com os tipos de narradores que sãos vários, mas decorrentes da escolha entre narrar como observador ou narrar como personagem.
A partir de então, prefiro sempre diferenciar os dois tipos como: narrador observador e narrador personagem. Narrador-Observador: é aquele que conta a história através de uma perspectiva de fora da história, ou seja, em momento algum, ele participa da história, mas em todo o tempo, ele está observando. Narrador-Personagem: conta a história de uma perspectiva de dentro da história, participa do enredo, é um dos personagens, utiliza ‒ eu ou nós ‒ para narrar.
Quando exponho um texto narrativo de minha autoria, usando o pronome eu, ocorre dos ouvintes perguntarem se é verídica. E a situação se agrava, quando o gênero é crônica. Sou poetisa, além de cronista. Meu livro ‒ No Ano do Dragão ‒ é um livro de crônicas que tem personagens poetisas ou não, místicas ou não... O foco narrativo de alguns textos é em primeira pessoa, outros não. Sua temática é contemporânea. Os narradores das crônicas referidas são oniscientes. Concordo que tudo isso faz suspeitar se há, não só na obra em pauta, mas na crônica em geral, certa veia autobiográfica. No entanto, o viés recorrente no gênero é a leitura de mundo que os autores expressam na construção da ficção sob a própria percepção do momento social vivido no cotidiano (que chamamos de realidade, costumeiramente). Mas as pessoas, quando fazem perguntas não querem entabular diálogos longos. Querem respostas rápidas do tipo sim ou não.
Noutro dia, duas alunas queriam se inscrever num concurso de crônicas e me pediram uma receita rápida sobre a escrita desse gênero. Dei a que segue: descreva, narre, disserte, aflore sua veia poética em prosa... (Ah! Não precisa ser nessa ordem!).
Mas o que é descrever, quando se trata de crônica? Descrever é buscar lugares descritivos. Na descrição há elementos para a realização de fatos, mas não ocorre a interação entre os elementos (por exemplo, o diálogo entre os personagens).
O que é narrar? É escolher um foco para uma escrita constituída basicamente de verbos que expressam ação e encadeiam causas e consequências, revelando a interação de elementos para a realização de fatos.
O que é dissertar? É buscar pertencimento a comunidades argumentativas sendo necessária a predominância da disposição lógica de indícios, suposições, deduções, e opiniões que busquem respaldar um conjunto de sequências argumentativas. O que é veia poética? É a responsável maior pelo viés autobiográfico da crônica, pois expressa a visão de mundo da (do) cronista.
Se essa “receita” não foi suficiente há sempre a possibilidade de buscar outras... Afinal há quem diga que vale a pena, já que ser cronista foi uma profissão 'real’... Até onde eu sei o cargo de cronista Mor do Reino foi uma oportunidade profissional e tanto na época do Fernão Lopes (1434), assim como na de Gomes Eanes de Azurara (1454)... Pero Vaz de Caminha também teve seus momentos de fama como cronista por ocasião da invasão portuguesa às terras tupiniquins, em 1500. (Como isso foi chamado de descoberta do Brasil também por historiadores, vê-se que o uso de eufemismos e de outras figuras de linguagem não é prerrogativa exclusiva de poetas.). 
Mas para o cronista em idioma português a “mamata” (ou o período áureo da profissão de cronista da realeza) acabou em 1580 com a integração do reino de Portugal à coroa de Espanha. Esperando, com paciência histórica, que as coisas melhorem, vou em frente nessa tourada! E só posso terminar com:  ‒ Olé!