quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Pra que poemas? Edna Domenica Merola.

Pra que Poemas? 
                      Edna Domenica Merola

Poemas são pipas de rima
Subindo em cordão
Metáfora em balão:
ilumina meu véu,
levanta seu céu.
Poemas são ícones de esperança,
Na luz,
Na solidão,
Na quietude,
na escuridão.
Ainda há pena,
Ainda há papel:
- É possível idealizar-concretizar vida
E quando se apague
O que se vê por fora
Que brinquem
Em minh’ alma
Versos introspectos
Para que possa cantá-los,
Em seus ouvidos.
Para que possa tocá-los,
Em meus ouvidos.

E assim, no encontro,
Uma nota musical
Acresce um ponto
À melodia Universal.

(MEROLA, Edna Domenica. Cora, Coração. Nova Letra. 2010. P 187-188)


sexta-feira, 31 de outubro de 2014

"Onde andará o meu doutor?" Edna Domenica Merola

Exibindo DSC08069a.jpg
SEMANA DE PROJETOS DE EXTENSÃO DA UFSC, 30/10/2014


Perdi um sarau importante para o meu coração “por conta de umas questões paralelas”...
Não, não tem nada a ver com repressão política-ideológica... Os versos são do Chico, mas o problema é só meu...
Meu e de toda a população de idosos do Brasil...
Pois é. Aconselharam-me a me divertir, a cantar, a escrever poemas. Fiz (e faço) isso direitinho inclusive numas oficinas que ministro! Só que chegou o grande dia em que os alunos iriam apresentar suas produções poético-autorais e tive de comparecer a uma consulta compulsória.
É isso! Um aluno até pensou que tivesse de comparecer a uma audiência jurídica na qual um representante do convênio seria a parte acusada... Mas não era! Era uma simples consulta, mas que foi marcada pelo S.A.C. e não tive direito a escolha de horário. Sempre que ligo para tentar agendar uma consulta médica, respondem que só daqui a 90 dias ou mais... Em seguida, peço para alguém ligar e dizer que é agendamento particular e daí tem horário a escolher!
Sou aposentada e faço trabalho voluntário uma vez por semana! Mas parece que os quatro demais dias da semana que folgo coincidem também com as folgas dos que atendem aos conveniados da tal prestadora.
Tudo isso me fez rever um antigo PPS. Nele uma paciente relembra o antigo médico da família. Mas depois descreve como tudo agora mudou. E apresenta um Doutor que também está sofrendo e que não responde suas perguntas... Que a assusta com tantos pedidos de exames para poder dar um diagnóstico...
 Enviei o tal PPS para pessoas 'maduras' como eu, avisando que lessem quando tivessem tempo. Uma delas me respondeu logo em seguida e emendou sobre o médico retratado no PPS: 
‒ E se continuar viva para precisar dele outra vez... Só marcando pelo SAC...
E quando isso ocorrer ele lhe dirá:
‒ Olha aqui, minha paciente, minha paciência já acabou!
 E ela provavelmente lhe responderá:
‒ Escuta aqui, ‘ô seo doutô’, sem paciência estou eu! Está me escutando? Eu pago plano de saúde e não consigo marcar consulta... E o senhor só me pede exame sem saber o que vim fazer aqui?
E o doutor responde:
‒ Desculpas, senhora... Mas comigo acontece a mesma coisa.
Lembro então da frase de Chico Xavier: Não há problema que não possa ser solucionado pela paciência.
Lembro-me da frase de Chico Xavier... E teço a certeza de que meu doutor deve andar no Nosso Lar... Pois por aqui, não o tenho visto "não sinhô"!
A pergunta que não quer calar vai além de: "onde andará o meu doutor?". 
A pergunta que não quer calar é: “onde andará a compaixão"? Entendem do que trata a psicanalista Melanie Klein ao cunhar o conceito de "compaixão"?
‒ Leram Melanie Klein?
‒ Leram? 
‒ Leram! Embora por em prática, minha gente!

Making off: 
Essa crônica foi escrita após leitura e envio de um PPS de título: "Onde andará o meu doutor". O texto do PPS citado é de autoria da médica Tatiana Bruscky e slides de Ria Slides. 
Após o envio houve a resposta em e-mail dada por Amaridis que, embora não tenha sido transcrita literalmente no texto supra, inspirou o diálogo entre a paciente e o doutor.
O final da crônica cita o filme "Nosso Lar" pautado na obra literária homônima cuja autoria declarada é a psicografia. Naquela obra o personagem central é um médico que 'desencarna' devido à falta de autocuidados (era fumante e morre em decorrência disso). Na outra vida, num espaço espiritual denominado Nosso Lar passa a exercer a assistência e o cuidado que transcendem as técnicas e incluem o afeto e demais dons do espírito.

Diálogo entre Edna e Ivan Bach sobre o texto "Onde Andará o meu doutor?”

Ivan: Deliciosa postagem mostrando que as dores (da costela e de ter perdido o Sarau) não diminuíram seu bom humor.
A propósito de humor, tenho um amigo poeta nordestino que sempre escreve "humour" e eu sempre sinto vontade de perguntar por que, mas tenho pudor em escancarar minha ignorância e assim sigo não sabendo o porquê.
Edna: Definições de humour (dada pelo dicionário Francês do Google): Substantivo. Faculté d’apprécier les éléments amusants, absurdes ou insolites de la réalité. "Elle a le sens de l’humour."
Seu amigo nordestino provavelmente era da elite brasileira que falava o que era 'chic' só em francês para os 'criados' não entenderem ou não imitarem...
Hoje os motoboys paulistanos entendem inglês facilmente.
Mas é interessante analisar como, atualmente, os galicismos não são mais considerados relevantes. No entanto, há algumas décadas atrás a presença social das “mocinhas francesas” na cultura brasileira foi assim cantada:
“Há muito tempo nas águas da Guanabara/O dragão do mar reapareceu/
Na figura de um bravo feiticeiro/A quem a história não esqueceu/ Conhecido como o navegante negro/Tinha a dignidade de um mestre-sala/
E ao acenar pelo mar na alegria das regatas/Foi saudado no porto pelas mocinhas francesas/Jovens polacas e por batalhões de mulatas" (O Mestre-Sala Dos Mares.).
Na década de setenta, minha mãe teve uma empregada doméstica que falava:
Hoje estou de 'bom amor', ao invés de bom humor...
(Sábia, não é mesmo? Não tinha escolaridade, não aprendeu francês... Mas fazia um lindo trocadilho entre as palavras humor (humour) e amor  (amour)... Até parece que consultou o meu Larousse (do qual tirava o pó diariamente). Parece que leu Freud (também na minha estante)! Mas não leu! Apenas sabia viver a vida e amar!



terça-feira, 14 de outubro de 2014

O teu lugar aqui na minha mesa, tua cadeira ainda está vazia. Edna Domenica Merola.

CARTA EXTEMPORÂNEA:

A um aluno cordato e gentil,

"Chinesinho", enfim vou me despedir de você. Sei que Deus o recebeu de braços abertos para você inaugurar uma escola de poesia no céu. Imagino que agora quem coordena esses trabalhos é você. E imagino que essa escola é bilíngue. E que lá todos o respeitam: Anjos, Anjinhos e Anjões.
Todos lá são cuidados e assistidos ao mesmo tempo em que são cuidadores, isto é, amparam aos demais.  Todos comungam em criação.
Por alguns anos você sentou em uma das tantas cadeiras ocupadas por aqueles a quem chamei de alunos e que me dedicavam o respeito que era de praxe, à época, sentir pelos professores. Em especial, pela professora que incentivava o aluno a escrever sobre o que ele gostava: poemas sobre a natureza.
Você ocupou sua cadeira de aluno, mas me ensinava o tempo todo de forma mágica e calada.
Pelos seus comportamentos usuais sei que não foi autor de sua saída de cena à revelia da marcação do Diretor. Sei que não teve culpa e que conduzia sua bicicleta com cautela naquela hora fatal.  Sempre foi comedido e disciplinado...
Eu sei, pois observei você atentamente durante anos. Sempre respondendo com estilo próprio.
Imagino que não gritou quando o carro o atingiu. E que nem teve tempo de ver o seu matador.
Creio por isso que o motorista daquele automóvel estava alcoolizado ou drogado.
Só quero lhe dizer que sua cadeira, nas salas de aulas que ocupei durante anos seguidos ainda tiveram algum substituto ou outro. Mas depois foram escasseando. Até que notei que ela deixara de ser preenchida...
E depois que não seria... Preenchida aqui, assim, por algum adolescente que escreva poemas cheios de seres naturais e harmônicos como você escreveu em sua breve vida, outrora.
Hoje percebi que “teu lugar aqui na minha mesa/ tua cadeira ainda está vazia”.
Pois a terra continua cheia de motoristas pródigos. E de vidas secas que clamam por presenças poéticas.
As relações entre as gerações virou caso de estatutos: primeiro o ECA e depois o dos idosos... 
Você bem sabia de meu idealismo de jovem professora... E confesso ainda sou ligada na luta pela justiça, pela ética e pelo amor ao próximo. Conto com seu testemunho em minha defesa quando chegar a vez de ventos pródigos me abaterem.
Conto também com que recomende minhas palavras em forma de preces em sua escola de Poesia e de Presença na Casa do Nosso Grande Pai: que nasçam crianças plenas de luz para virarem jovens poetas e preencherem "o teu lugar na minha mesa" de escrita poética para múltiplas idades!


Making Of

Esse texto foi escrito no intervalo de uma aula em forma de oficina de um curso sobre saúde do qual a autora do texto participou enquanto aluna. O tema foi a relação entre dois sujeitos, a saber: um profissional de saúde e uma pessoa que precisa de cuidados.
A oficina iniciou pelo trabalho do contato pelo olhar e encerrou com excelentes materiais teóricos sobre o cuidado. 

SOBRE O PERSONAGEM 'CHINESINHO'
Foi inspirado em um adolescente paulistano e que era filho de chineses. O jovem cordato, inteligente, geralmente calado, mas participativo, foi aluno (de Língua Portuguesa) da autora do texto,  na cidade de São Paulo. Escrevia poemas cheios de luz. Faleceu aos dezesseis anos, na década de oitenta do século XX. 

SOBRE O QUE É NARRADO E DESCRITO
Foi inspirado na profissão que a escritora exerceu profissionalmente e ainda exerce como voluntária. 
A autora trabalhou (durante dez anos) numa escola próxima a uma enorme avenida que liga bairros como Ipiranga e Vila Mariana à Rodovia dos Imigrantes. Nesse período, três alunos faleceram, sendo dois por atropelamento enquanto se locomoviam com bicicletas. Na frente do prédio da escola não havia ponto de ônibus como costuma ocorrer, embora fosse uma região de supermercados e motéis.

SOBRE O TÍTULO DO TEXTO
Esse título é citação de versos (da música de Lupicínio Rodrigues) que remontam a uma perda sofrida por abandono, em vida. 
No texto aqui postado, algumas perdas são mencionadas: a do aluno adolescente morto por um motorista alcoolizado, a do aluno que respeita sua mestra, a do poeta, a da poesia. Mas principalmente, a perda do contexto de encontro 'dialógico' no qual duas pessoas interagem como sujeitos, à revelia de terem ou não maiores ou menores poderes.




quinta-feira, 2 de outubro de 2014

À Capela. Edna Domenica Merola.



Faço o jogo do contente


Invés de apertar os dentes


Dou minha aula ‘à capela’


Alguém olha na janela


Hip hop eu fui do rock!


beatbox beatbox


já fui do rock


beatbox beatbox


graduei em Oxford


beatlemania virou heresia


beatbox mania virou profecia


beatbox beatbox


graduei em Oxford


underground eu curtia


beatbox beatford


beatbox Ford ford


Que saudade da sanfona


Beatbox sou matrona!


Que saudade dos cafonas


Que saudade dos Mamonas!


Um acerto com um clarim


Quebrou o meu serafim


A minha chicomania


A minha pedagogia


Chamaste de chinfrim?


A minha autonomia...


Por que me desfeiteaste assim?


Não quero mais cantar à capela


Nem ser chamada de chinfrim


Não quero mais ouvir balela:


Sequestro de querubim...


Ric roc ric roc


Sua avozinha era assim?


Hip hop hip hop


Tira a tropa de choque

devolve o meu clarim!

Sou cor de rosa choque...

Mas também gosto de samba


De uma nota sol...


Numa praia de bamba!

Por isso não deboche

do meu atual eStado de Choque

e da minha antiga panaceia deflagrada

e do meu Mário de Andaime

e do meu Operário de Andrade


Ric roc hip hop...


Sua voz tem uma nota só?


Sua avó é assim sol?

Seu samba tem uma nota sol?


Ou tem compasso de lua?


COMENTÁRIOS:

1- Recado do comentarista Ivan Bach


Poetisa Edna,
Li e adorei o poema.

"Faço o jogo do contente
Invés de apertar os dentes"
Leva toda a sabedoria do saber transformar as angústias vivenciais em doces momentos.

"Seu samba tem uma nota sol?
Ou tem o compasso da lua?"
Junto-me ao teu samba ao compasso da lua!

Abraço poético. Ivan


2- Recado do comentarista 2

Edna, achei linda a escrita, uma colagem diferenciada, muito gostosa de ler, parabéns!


3- Recado do comentarista 3

É um texto com vários intertextos, mas não colagem.

domingo, 28 de setembro de 2014

Conhece meu novo livro: De que são feitas as Histórias? Edna Domenica Merola

Do que são feitas as histórias?


Descrição & Especificação
O livro desenvolve três itens: prosa ficcional e poemas; estratégias para ensinar poesia que incluem oficinas com jogos; aspectos da teoria literária referente à narrativa. Algumas congregam música, dança e escrita poética. Seus motes: foco narrativo; percepção poética das sensações; simbologias dos elementos: Água, Terra, Fogo e Ar; a narrativa; o narrador; o processo de criação; a natureza material do escrito: vivências, leituras, a profissão de ensinar (e aprender); o uso de tecnologia e as relações pessoais; o amor à vida e à poesia. A obra interessa a professores e leitores de crônicas e poemas.

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Colagem Musical em Poema Visual. Andressa dos Passos Barbosa.



Todo mundo canta da sua                 terra, eu também vou cantar
tinha tanta coisa pra falar,se essa  rua se essa rua fosse minha eu mandava
 eu  mandava ladrilhar com pureza das resposta das criança, pois a vida é bonita é bonita e é bonita.
O jornaleiro a gritar imparcial olha o globo, jornal do povo descobriu mais um roubo.
Se eu roubei , se eu roubei , teu coração tu roubaste, tu roubaste 
o meu também ,ah meu Deus eu sei que a vida devia ser bem
 melhor e será , mas isso não me 
impede que eu repita
é bonita é bonita
e é bonita!



Citações:
Se essa rua fosse minha
Cantando O Maranhão – Alcione https://www.youtube.com/watch?v=sA53aFKNkew
Eterno Aprendiz – Gonzaguinha http://www.letras.com.br/gonzaguinha/eterno-aprendiz


A autora Andressa dos Passos Barbosa é
Aluna da Universidade Federal de Santa Catarina. 


Link sobre a técnica da Colagem em Oficinas de Criação Literária:
Postagem: Colagem & Citações + 'Tributo'& Referência. Edna Domenica Merola. 
Link: http://netiativo.blogspot.com/2013/08/colagem-citacoes-tributo-referencia-por.html 

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Colagem Poético Musical. Rinaldo Oriano.

Não posso ficar nem mais um minuto com você
Minha vida é andar por este país
Sou filho único... E tenho minha casa pra olhar
Chuva e sol, poeira e carvão
Sigo o meu roteiro
Agora às onze horas ou amanhã de manhã, 
Inverno e verão... Descanso feliz
Guardando a recordação,
POIS, 
Fui pra escola e esqueci a minha cola 
E agora estou andando pelo sertão
Everybody say "ãh"!

Citações:

http://www.youtube.com/watch?v=S8a4GQ1LwQQ (Minha Vida é Andar por esse país. Gonzaga e Gonzaguinha).

http://www.youtube.com/watch?v=ceBdGz3eTFg (O Trem das Onze. Adoniran B.)


http://www.youtube.com/watch?v=uEYP6p6QzWg (Os donos do mundo. Gabriel o Pensador).


Rinaldo Oriano é aluno da graduação da UFSC. Campus Florianópolis.


Link sobre a técnica de colagem: Postagem: Colagem & Citações + 'Tributo'& Referência. Edna Domenica Merola. Link: http://netiativo.blogspot.com/2013/08/colagem-citacoes-tributo-referencia-por.html 

Colagem Musical. Dandara Manoela Santos.

Créditos: Dandara Manoela
             

 Dandara Manoela Santos é cantora e compositora. Faz parte da Orquestra Manancial da Alvorada. Confira em
https://ndonline.com.br/florianopolis/plural/orquestra-de-sete-musicos-foge-do-tradicional-em-florianopolis

Apresentou-se no show Elas por Elas, em Florianópolis, no CIC, em 27/01/2017. Pessoas de todas as idades apreciam sua voz e seu trabalho artístico. Conheça algumas de suas composições:
É aluna da graduação em Serviço Social e pesquisa o tema: Ações Afirmativas: Ensino Pesquisa e Extensão na perspectiva étnico-racial da UFSC. Leia e ouça sobre a pesquisa em:

Em 2014, foi estagiária na Sala Verde (B.U./ UFSC) e colaborou nas Oficinas de Criação Literária do N.E.T.I. – A compositora participou de oficina literaria na Sala Verde, coordenada pelos professores Edna Domenica Merola e Alberto Gonçalves. Nessa ocasião, Dandara Manoel dos Santos produziu o lindo texto a seguir:

Se o senhor não tá lembrado
Dá licença de contá: chega de saudade
Evento da UFSC, 2016
Créditos: Alberto Gonçalves
Que não sai de mim
Não sai de mim
Eu sei que vou te amar
Em cada despedida eu vou te amar
Era uma casa velha
Um palacete assobradado
Vai minha tristeza

E diz a ela que sem ela não pode ser
Mas em cima eu falei:
Os homi tá cá razão
Eu sei que vou chorar
A cada ausência tua eu vou chorar,
Dentro dos meus braços, os abraços hão de ser
tiro ao álvaro, frechada do teu olhar
que mata mais que atropelamento de automóver

Mas, se ela voltar
Se ela voltar que coisa linda!Que coisa louca!
Eu sei que vou te amar, por toda minha vida!

Citações:



terça-feira, 23 de setembro de 2014

Um Haicai e um Poema em Versos Livres por uma Primavera. Edna Domenica Merola

Haicai: Primavera

I, á, é, é, á 
É cálida entonação:
Estação em mantra.


Observação. 03/10/2013.

HAICAI é um poema minimalista que expressa 1 ideia sintética e profunda em 3 pequenos versos. (1 verso = 1 linha poética). São seus temas: a natureza, uma estação do ano.

1º verso: algo sem movimento: uma apresentação, em 5 sílabas poéticas.
2º verso: uma ação. Em 7 sílabas poéticas.

3º verso: uma consequência. em 5 sílabas poéticas.


Primavera em Versos Livres
REFERÊNCIA
MEROLA, Edna Domenica. Cora, Coração. Nova Letra, 2010.

Numa certa primavera,
(eu me recordo bem)
Quando eu desabrochei,
Perguntaram-me como eu me chamava,
Eu disse: ‒ Lis.
(Dei-me nome de flor para ser da terra).
Ah! Doce jardim de minha infância!
Para me regar basta qualquer orvalho,
Para me aquecer, qualquer raiozinho de sol

Ah! Doce jardim de minha puberdade
Para me alegrar, qualquer por de sol
Para me enlevar, qualquer sonhador.


Passaram-se primaveras...
Quando eu dei por mim,
Já era flor feita: precisava de amor.
Caminhei com o olhar por doces prados,
Ri risos largos e coloridos,
Escancarei as portas do meu ser ao mundo,
Amei os poetas,
Vivi. (Imaginando a vida) ...



Ah! Doce jardim da existência
Calorosas rosas...
Irrequietas primaveras
Ah! O pousar resfolegante de uma abelha...
O amor colocado em cada centelha
Ah! Doce brisa,
Caloroso abraço
Do sol da manhã,
No dia em que a rosa ficou com o cravo.

Tardes de flertes com Pierrot e Alecrim
Depois que a vista escureceu,
E o corpo de menina adormeceu...
Acordou a mulher,
Bem no fundo o orgulho de menina:
‒ Também sou Colombina!

Ah! Doce jardim da poesia
Sábia rosa em cada dia... 
Ah! Eu pude enfim
Ser 'a' flor do teu jardim
Ah! Eu pude... ser tua sabiá




Brisa suave do ocaso ainda sou em teu amor
(Orvalho da manhã que enaltece meu canto)
Brisa matutina que verdeja meu ser
Que fecunda com teu sorriso cada manhã,
E perfuma de suave aroma o meu astral.


Ah! Eu pude e posso
ser tua manhã de primavera!

domingo, 21 de setembro de 2014

Soneto e Acróstico em Oficinas para Qualquer Idade. Edna Domenica Merola.

Aulas de poesia são ainda pouco usuais. Para reverter tal situação seria necessário explicar como o ensino da poesia pode contribuir para a necessária humanização das relações sociais, ainda que, paradoxalmente, a criação poética pertença ao âmbito do indivíduo. No entanto, pretende-se,aqui, apenas registrar um testemunho: ensinar a escrever poemas é uma tarefa possível, destinando-se a aprendizes de qualquer idade.
O planejamento de aulas de escrita poética tendem a se beneficiar do formato de prática. No entanto, não se trata de prática mecânica. É necessário que as aulas sejam práticas reflexivas. 
Para tal, algumas indagações são necessárias: o que é um poema, o que é poesia? Os autores de textos verticais sem rima e métrica fixa são poetas?
Quando incluir o soneto em uma programação? Quando incluir o acróstico?
Poemas são composições poéticas. Mas o que quer dizer poético? Se já experimentou e já redigiu versos ou 'prosa poética' sabe do que se trata, ainda que não o tenha expressado de forma didática.
A apresentação gráfica de um poema é vertical, podendo, por esse critério, ser facilmente diferenciada da prosa. A linguagem poética é icônica e sintética, opondo-se nesse sentido à linearidade da prosa. A poesia utiliza linguagem analógica e metafórica, opondo-se ainda à prosa que se inclina a aparentar o lógico, a imitar a realidade e a inventar o verossímil. Além de ser algo diferente da prosa, o que define a poesia para o aprendiz? Os poemas cantados podem contribuir como instrumentos de aprendizagem de ritmos e rimas.
Jogos dramáticos de cunho psicopedagógico podem ajudar na percepção de que a feitura e a leitura poéticas são emocionais e relacionais (o que equivale a dizer, na linguagem de Buber, que pertencem ao âmbito da "relação eu-tu"). A prática pautada nesse tipo de jogo dramático encontra-se em duas publicações de MEROLA, Edna a saber: Desbloqueio da Expressão e Técnicas de Redação (Revista da FEBRAP, vol. 4, 1983); Aquecendo a Produção na Sala de Aula (2001). Mas para entender o que vem a ser poético é preciso abrir-se a viver o inusitado, seja num laboratório ou oficina de criação, seja na experiência embutida no cotidiano (mas dela destacada).
Um poema resulta de um estado ou momento poético vivido pelo (a) escritor (a). Um momento poético é algo semelhante ao que a gestaltterapia descreve como o processo de entrar em contato com o aqui e agora . É do âmbito do indivíduo, ainda que nunca diga respeito à personalidade civil e sim a um “eu poético”.
A linguagem poética expressa sensações, remetendo dessa forma aos sentidos humanos: audição, visão, olfato, paladar, tato. Os órgãos dos sentidos contribuem para obter sensações que se processam na mente. A volição, a atenção e o contato são as condições para o surgimento da sensação, da percepção e da consciência. Um tema é poético se traduzir a conscientização de uma experiência de qualidade estética.
Mas o que é qualidade estética? Ela é definida conforme a qualidade das respostas que as artes podem dar a um determinado momento social e cultural. Para o arcadismo valiam os temas bucólicos e pastorais; para o romantismo o amor, a morte, a liberdade; para o parnasianismo contava mais a forma do que o conteúdo, prevalecendo a concepção clássica de busca da perfeição; para os simbolistas o etéreo e o diáfano. Os modernistas incluíram os temas cotidianos. Nas concepções canônicas os efeitos da poesia são estéticos, devendo provocar deleite e sublimação. Nas concepções contemporâneas o ‘feio’ e o ‘impuro’ comparecem como elementos estéticos. Prevalece a noção de que o jogo poético tenha função humanizadora e que contribua para a construção do pensamento divergente (inclusivo e criativo).
É  importante na construção poética: a ativação de emoções no eu poético; a expressão de sensações e sentimentos pela utilização de ícones; o uso da linguagem metafórica.
Abordaremos duas formas de poemas: o soneto e o acróstico. A produção desses tipos de poemas são excelentes exercícios cognitivos. Sem contraindicação para aprendizes a partir das séries finais do Ensino Fundamental e ainda para idosos que apreciam desafios.
Soneto é uma forma de poema propagada por Petrarca e Camões. Anos 1500... Faz tempo, não é mesmo? Considerando que soneto é uma forma clássica, por que incluir o soneto num curso atual?
Soneto era uma composição poética para ser cantada. Era de uso popular, para quem não usava partituras com pautas musicais para anotar suas produções sonoras. Hoje temos o gravador nos nossos celulares e poderemos fazer esses registros facilmente.
Se quisermos aprender a fazer sonetos também estaremos nos preparando e nos abrindo para compor música, ainda que sem partitura... 
Você gosta de ler sonetos? Um sonetista conhecido por nós brasileiros é o Vinícius de Morais.
Você gosta de escrever sonetos? Já tentou?
Apresentamos o soneto Ouvir Estrelas de Olavo Bilac (poeta brasileiro do Parnasianismo) para apontar as rimas usadas no soneto clássico.

Apresentamos o soneto Ouvir Estrelas de Olavo Bilac (poeta brasileiro do Parnasianismo) para apontar as rimas usadas no soneto clássico.

Ouvir Estrelas

"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo 
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto, 
Que, para ouvi-las muita vez desperto 
E abro as janelas, pálido de espanto... 

E conversamos toda noite, enquanto 
A Via Láctea, como um pálio aberto, 
Cintila. E, ao vir o sol, saudoso e em pranto, 
Inda as procuro pelo céu deserto. 

Direis agora: "Tresloucado amigo! 
Que conversas com elas? Que sentido 
Tem o que dizes, quando não estão contigo?" 

E eu vos direi: "Amai para entendê-las! 
Pois só quem ama pode ter ouvido 
Capaz de ouvir e de entender estrelas".


Observe que são 14 versos ao todo, divididos em dois quartetos e dois tercetos.
A primeira tem quatro versos: trata-se de um quarteto. E a segunda também.
A terceira estrofe tem três versos (é um terceto). A quarta estrofe também.
Na primeira estrofe, as rimas são do tipo ABAB. Já na segunda estrofe, as rimas são do tipo BABA. Na terceira estrofe temos rimas do tipo CDC; e na quarta: EDE.

Quanto à métrica temos versos decassílabos. Escanear um verso é contar suas sílabas, conforme segue:
O/RA/ (DI/REIS/) OU/VIR/ ES/TRE/LAS!/ CER/TO

Observe que da última palavra só se conta até a sílaba tônica (CER) e ignora-se o que sobra (TO).

A sexta e a décima sílabas poéticas são tônicas em todos os versos do poema Ouvir Estrelas. Isso também é um padrão do soneto decassílabo. 

Se você tiver interesse em começar a 'treinar' a escrita de sonetos, logo irá perceber seus efeitos. É como um exercício de quebra-cabeça que nós mesmos nos propomos. O resultado é algo melódico que algumas vezes dá para ser cantado, após sua escrita.
Um soneto tem sua sonoridade e ritmo valorizados ao ser declamado ou cantado.  Um soneto é algo propício para ser dramatizado já que sua cadência suscita a expressão corporal que o acompanhará. Sonetos são bons para saraus.

Há um quebra-cabeça bem mais simples e que muitos já fizeram com o nome de seus amores de adolescência. Essa forma é o acróstico, ou seja, qualquer composição poética na qual certas letras de cada verso, quando lidas em outra direção e sentido, formam uma palavra ou frase.
O acróstico não propõe rima e métrica fixa como o soneto (mas há alguns poetas que incluem recursos sonoros também no acróstico, dificultando um pouquinho mais sua feitura). Regra geral o acróstico valoriza o visual do poema: é para ser visto.
Veja o acróstico que fiz com a palavra ACRÓSTICO para que possa gravar:

Aprenda
Com a visão:
Rever não é
Ócio.
Socializar
Traz parceiros...
Inventar
Com dedicação é
O mister da poesia!

Em apresentações de acrósticos costuma-se levar uma cópia para cada pessoa presente poder usufruir de seu jogo 'visual'.



Referências

Dicionário On Line de Português.

MEROLA. Ensinar a escrever poemas é uma tarefa possível? Blog Aquecendo a Escrita. 2012
__________ Rimas e Métrica. Blog Netiativo. 2013.


Indicações de leituras

MEROLA. De que são feitas as Histórias. Florianópolis: Postmix. 2014.
_________ Desbloqueio da Expressão e Técnicas de Redação através do

Psicodrama. Revista da FEBRAP. Anais do IV Congresso Brasileiro de Psicodrama. 1984.


________ Aquecendo a Produção na Sala de aula. São Paulo: Nativa. 2000.






quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Primavera. Edna Domenica Merola.

Num dia de primavera em que Flora errava pelos campos, o deus do vento, Zéfiro, viu-a, apaixonou-se por ela e raptou-a. 
Zéfiro desposou Flora, logo em seguida ao rapto, numa linda festa! Foi um casamento inesquecível. Foi lá na Grécia, no monte Olimpo, mas compareceram personalidades do Império Romano e do mundo antigo inteiro. Zéfiro deu uma grande prova de amor para Flora: que ela reinasse sobre as flores dos jardins e também dos campos cultivados.
Ensinou as abelhas a elas recorrerem para fabricar o mel que até hoje é apreciado por pessoas de qualquer idade. De posse dos novos dons, Flora ofertou as sementes das inumeráveis variedades de flores aos humanos. 
Como boa fada, Flora ajudou a deusa Juno a vencer um impasse. Juno andava irritada com o nascimento de Minerva, saída espontaneamente da cabeça de Júpiter e queria conceber um filho sem o auxílio de um elemento masculino. 
Juno dirigiu-se a Flora, que lhe deu uma flor cujo simples contacto era suficiente para fecundar uma mulher. 



Foi assim que Juno, sem se unir a Júpiter, deu à luz a um menino (que foi recebido como um verdadeiro deus!). 
Para homenagear a madrinha Flora, Juno deu-lhe o nome do primeiro mês de Primavera no hemisfério norte (Marte ou Março). 
Flora, assim como eu e outras mulheres temos em nossa multiplicidade inúmeras facetas. 
Em alguns momentos de nossas vidas podemos nos envolver e nos deixar raptar pelo ser amado e nos deixar cativar por sentimentos  apaixonados que suavizam a luta pela sobrevivência e ampliam a existência...  Afinal Zéfiro, na mitologia grega, é o vento do oeste, ou seja, o mais suave. 
Ao longo de nossas vidas essas paixões podem ser também metas, sonhos, empreitas, ideais que incluam mais e mais tipos de benesses.
Como nossas ancestrais podemos nos dedicar à proliferação de boas sementes e expansão da beleza, da harmonia, da renovação. Podemos cuidar do plantio e da fertilidade do solo... 
Podemos reproduzir, criar, habitar e preservar o solo... Nossa percepção capta o acaso quando ventos sopram a nos trazer novidades ou a mudar abruptamente o curso de nossas vidas... Somos capazes de aceitar zéfiros e de ajudar junos e junas... Sabemos ser companheiras que (à semelhança do mel) impregnam de doçura o curso de vida de nossos semelhantes.
Somos floras quando somos ricas de potenciais e em nossas mãos passam sementes que vamos distribuindo em nossa caminhada.
Somos floras... quando nossas ideias e ações não saem de nossas cabeças apenas como exercício de repetição de algo impingido por outrem... Somos floras quando criamos com liberdade... Somos floras em nossas criações autênticas (ou primaveris!) que nos renovam infindavelmente...

Referências