quarta-feira, 2 de novembro de 2016

A Produção Textual na Escola. Edna Domenica Merola.

Em 01/11/2016, na aula da disciplina "Produção Textual Acadêmica", a autora desta postagem fez parte integrante de um pequeno grupo que apresentou uma breve exposição sobre o tema "A Produção Textual na Escola". O trabalho teve a orientação da Professora Josa Coelho da Silva (UFSC/CCE). 
Divulgo aqui minhas contribuições escritas anteriormente àquela exposição, a partir do "mind mapping" que segue:

Segundo Antunes (2003), a prática escolar ainda não incorporou alguns princípios:
• A escrita é interativa, dialógica, dinâmica, negociável. Pressupõe envolvimento entre sujeitos, parceria e encontro de informações, ideias, intenções, crenças e sentimentos. A escola deve ampliar as percepções, sensações e informações dos sujeitos aprendizes para que usem a palavra como mediação de seu próprio repertório.
• A linguagem é um ato social, a escrita existe para propiciar a comunicação entre sujeitos. A escrita é um ato de linguagem que implica em consequências. A escola deve agir no sentido de que o aluno alcance a percepção de que a escrita está presente: na família, no emprego, na escola; assim como também no registro científico, cultural e histórico.
• A escrita escolar deve cumprir as etapas: planejamento, operação (prática da atividade) e revisão (análise ou reescrita). O planejamento pressupõe: delimitação do tema; eleição de objetivos; escolha do gênero; estabelecimento de critérios para ordenar as ideias; definir quem será o leitor e adequar a forma linguística. A operação implica na escolha das palavras e das estruturas das frases em conformidade com a situação de comunicação e com a garantia do sentido, da coerência e da relevância. Na revisão (reescrita), procede-se à análise do que foi escrito para decidir o que irá permanecer, o que será eliminado e o que será reformulado. Corrige-se a concatenação entre as partes (períodos, parágrafos, blocos de parágrafos), assim como os aspectos sintáticos, semânticos, pontuação, ortografia.
•A prática docente deve prover: a escrita autoral e social dos sujeitos aprendizes; uso das regras sociais de circulação do texto; construção metodológica das etapas (planejar, escrever, revisar); orientar para a coerência global – coesão, coerência, conteúdo informativo, clareza, concisão; adequação de aspectos da superfície do texto.
Antunes conclui que considerar os pressupostos apontados implica no aproveitamento da carga horária de português para a formação do cidadão, em detrimento do treino de pormenores gramaticais sobre a sintaxe ou a fonética.

Segundo Geraldi (1997),
• a produção de textos é crucial para o ensino/aprendizagem da Língua. Essa atividade é diferente da redação que é uma tarefa feita pelo aluno tendo por interlocutor apenas a escola.
• Ao analisar uma aula (Descrição), Geraldi relata que a professora utilizou duas “instruções”– “a) a descrição de uma pessoa deve conter aspectos físicos e psicológicos” e “b) na descrição não há lugar para a invenção.” (p. 148).

• As instruções dadas ignoraram “que as atividades discursivas de um objeto são reguladas a) pela finalidade da descrição; b) pela natureza do objeto da descrição; c) pelos interlocutores a que a descrição se destina; d) pelas representações que faz o locutor do objeto que descreve.” (p. 148). Essas representações, por sua vez, “produzem um ‘pré-construto cultural’ que orienta a atividade descrita, segundo dois eixos: um eixo sociológico, responsável pela prática, pelo ideológico e pelas matrizes culturais, e um eixo cognitivo, responsável pelas abstrações, generalizações e simbolizações.” (p. 149).

A crítica de Geraldi à professora que diz que "na descrição não há lugar para a invenção" pode ser lida à luz de Bakhtin. A prática docente deveria levar em conta o que Bakhtin diz sobre a “forma espacial da personagem” valendo-se do "excedente da visão estética":
Quando contemplo no todo um homem situado fora e diante de mim, nossos horizontes concretos efetivamente vivenciáveis não coincidem”. ... esse excedente da minha visão... é condicionado pela singularidade e pela insubstitutibilidade do meu lugar no mundo: porque nesse momento e nesse lugar, em que sou o único a estar situado em dado conjunto de circunstâncias, todos os outros estão fora de mim. (BAKHTIN, p 21, 2010).

• Para que o ensino seja conhecimento e produção é necessário que o aluno seja tomado como locutor efetivo, conforme esquema de Geraldi:

Gedoz (2016):

• Propõe o trabalho com os gêneros a partir da esfera do cotidiano. Parte do diagnóstico da produção de texto para instigar a reflexão sobre a organização textual e ampliar as possibilidades da escrita do aluno. Constrói atividades com o objetivo de clarear as informações e possibilitar a progressão textual.
• Sua pesquisa-ação sobre o ensino da análise linguística cumpriu as etapas:
a) Alunos do 7º ano pesquisaram um causo, junto a amigos e familiares, e o recontaram por escrito (1ª versão); b) pesquisadora leu os textos e elaborou lista de controle/constatações atendendo ao gênero textual Causo; c) Alunos escreveram a 2ª versão sob a égide da lista de controle/constatações; d)pesquisadora tabulou as dificuldades apresentadas, elaborou  e desenvolveu atividades didáticas com os alunos. e) alunos escreveram a 3ª versão.
• Gedoz relatou atividades pautadas nas dificuldades que constaram do texto do aluno “José”. A atividade de pontuação seguiu os passos: a professora digitou o primeiro parágrafo do texto de “José”, enumerou seus segmentos e solicitou: “Sem alterar a ordem das informações, tente reescrever o parágrafo dividindo-o em cinco partes conforme apontado pela numeração colocada pela professora. Use ponto final para separar cada uma das partes e vírgulas onde julgar necessário.” (p 1234).
• Portanto, a prática docente deve considerar o aluno como sujeito da relação interlocutiva; cumprir as etapas: planejamento, operação e reescrita – vinculada à análise linguística pautada no diagnóstico da produção discente.

Antunes, Geraldi e Gedoz indicam que a prática dos professores de Português contemple os princípios:

Ensino contextualizado nos gêneros discursivos como construtos históricos e culturais. Prática pautada na visão de que o pensamento anterior é o ponto de partida; nesse há a valorização do conhecimento historicamente construído.
Os mediadores culturais (professores e outras pessoas, tecnologias, acervos) promovem o desenvolvimento atual em relação a um desenvolvimento posterior, já que todo desenvolvimento ‒ com a intervenção do outro ‒ pode passar a um novo desenvolvimento.

REFERÊNCIAS

ANTUNES, Irandé. O trabalho com a escrita. In: Aula de Português – encontro e interação. São Paulo: Parábola Editorial, 2003, p. 26- 27.

BAKHTIN, Mikhail. Estética da Criação Verbal. Trad. Bras. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2010.

GEDOZ, Sueli. Linguística e Reescrita Textual: articulando encaminhamentos. Fórum Linguístico, Revista Linguística, 2016, vol. 13, n. 2. Disponível em https://periodicos.ufsc.br/index.php/forum/article/view/1984-8412.2016v13n2p1225

GERALDI, João Vanderley. A Produção de Textos. In: Portos de Passagem. São Paulo: Martins Fontes, 1997, p. 135-165.