SEMANA DE PROJETOS DE EXTENSÃO DA UFSC, 30/10/2014 |
Perdi um sarau importante para o meu coração “por conta de umas questões paralelas”...
Não, não
tem nada a ver com repressão política-ideológica... Os versos são do Chico, mas
o problema é só meu...
Meu e de
toda a população de idosos do Brasil...
Pois é.
Aconselharam-me a me divertir, a cantar, a escrever poemas. Fiz (e faço) isso
direitinho inclusive numas oficinas que ministro! Só que chegou o grande dia em
que os alunos iriam apresentar suas produções poético-autorais e tive de
comparecer a uma consulta compulsória.
É isso!
Um aluno até pensou que tivesse de comparecer a uma audiência jurídica na qual
um representante do convênio seria a parte acusada... Mas não era! Era uma
simples consulta, mas que foi marcada pelo S.A.C. e não tive direito a escolha
de horário. Sempre que ligo para tentar agendar uma consulta médica, respondem
que só daqui a 90 dias ou mais... Em seguida, peço para alguém ligar e dizer
que é agendamento particular e daí tem horário a escolher!
Sou
aposentada e faço trabalho voluntário uma vez por semana! Mas parece que os
quatro demais dias da semana que folgo coincidem também com as folgas dos que
atendem aos conveniados da tal prestadora.
Tudo isso
me fez rever um antigo PPS. Nele uma paciente relembra o antigo médico da
família. Mas depois descreve como tudo agora mudou. E apresenta um Doutor que também está sofrendo e que não responde suas perguntas... Que a
assusta com tantos pedidos de exames para poder dar um diagnóstico...
Enviei
o tal PPS para pessoas 'maduras' como eu, avisando que lessem quando tivessem tempo.
Uma delas me respondeu logo em seguida e emendou sobre o médico retratado no
PPS:
‒ E
se continuar viva para precisar dele outra vez... Só marcando pelo SAC...
E quando
isso ocorrer ele lhe dirá:
‒ Olha
aqui, minha paciente, minha paciência já acabou!
E
ela provavelmente lhe responderá:
‒ Escuta aqui,
‘ô seo doutô’, sem paciência estou eu! Está me escutando? Eu pago plano de
saúde e não consigo marcar consulta... E o senhor só me pede exame sem saber o
que vim fazer aqui?
E o
doutor responde:
‒
Desculpas, senhora... Mas comigo acontece a mesma coisa.
Lembro
então da frase de Chico Xavier: Não há problema que não possa ser
solucionado pela paciência.
Lembro-me da frase de Chico Xavier... E
teço a certeza de que meu doutor deve andar no Nosso Lar... Pois por aqui, não
o tenho visto "não sinhô"!
A
pergunta que não quer calar vai além de: "onde andará o meu
doutor?".
A
pergunta que não quer calar é: “onde andará a compaixão"? Entendem do que trata a psicanalista Melanie Klein ao cunhar o conceito de "compaixão"?
‒ Leram
Melanie Klein?
‒ Leram?
‒ Leram! Embora por em prática, minha gente!
‒ Leram! Embora por em prática, minha gente!
Making off:
Essa
crônica foi escrita após leitura e envio de um PPS de título: "Onde andará
o meu doutor". O texto do PPS citado é de autoria da médica Tatiana
Bruscky e slides de Ria Slides.
Após o
envio houve a resposta em e-mail dada por Amaridis que, embora não tenha sido
transcrita literalmente no texto supra, inspirou o diálogo entre a paciente e o
doutor.
O final
da crônica cita o filme "Nosso Lar" pautado na obra literária
homônima cuja autoria declarada é a psicografia. Naquela obra o personagem
central é um médico que 'desencarna' devido à falta de autocuidados (era
fumante e morre em decorrência disso). Na outra vida, num espaço espiritual
denominado Nosso Lar passa a exercer a assistência e o cuidado que transcendem
as técnicas e incluem o afeto e demais dons do espírito.
Diálogo entre Edna e Ivan Bach sobre o texto "Onde Andará o meu doutor?”
Ivan: Deliciosa
postagem mostrando que as dores (da costela e de ter perdido o Sarau) não diminuíram seu
bom humor.
A propósito de humor, tenho um amigo poeta
nordestino que sempre escreve "humour" e eu sempre sinto vontade de
perguntar por que, mas tenho pudor em escancarar minha ignorância e assim sigo
não sabendo o porquê.
Edna: Definições de humour (dada pelo dicionário Francês do Google): Substantivo. Faculté d’apprécier les éléments
amusants, absurdes ou insolites de la réalité. "Elle a le sens de l’humour."
Seu amigo nordestino provavelmente era da elite brasileira que falava o que era 'chic' só em francês para os 'criados' não entenderem ou não imitarem...Hoje os motoboys paulistanos entendem inglês facilmente.
Mas é interessante analisar como, atualmente, os galicismos não são mais considerados relevantes. No entanto, há algumas décadas atrás a presença social das “mocinhas francesas” na cultura brasileira foi assim cantada:
“Há muito tempo nas águas da Guanabara/O dragão do mar reapareceu/
Na figura de um bravo feiticeiro/A quem a história não esqueceu/ Conhecido como o navegante negro/Tinha a dignidade de um mestre-sala/
E ao acenar pelo mar na alegria das regatas/Foi saudado no porto pelas mocinhas francesas/Jovens polacas e por batalhões de mulatas" (O Mestre-Sala Dos Mares.).
Na década de setenta, minha mãe teve uma empregada doméstica que falava:
Hoje estou de 'bom amor', ao invés de bom humor...
(Sábia, não é mesmo? Não tinha escolaridade, não aprendeu francês... Mas fazia um lindo trocadilho entre as palavras humor (humour) e amor (amour)... Até parece que consultou o meu Larousse (do qual tirava o pó diariamente). Parece que leu Freud (também na minha estante)! Mas não leu! Apenas sabia viver a vida e amar!
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