RECADOS PARA REBECA
é de autoria das psicólogas EDNA DOMENICA MEROLA
e de LUCIA MARIA DE PAULA ASSIS L.DE OLIVEIRA;
foi registrado no Escritório de Direitos Autorais (E.D.A.),
sob o número: 470670,em 01/09/2009
Rebeca,
Enquanto trabalho, existencialmente, o tema da solidão e você o do consumismo,
vamos trocando nossas cartas. Em relação à produção escrita
estou cultivando a necessidade de dar nomes aos textos. A necessidade de dar
nomes talvez surja para tentar garantir continuidade e congruência: dois itens
importantes em uma psicoterapia processual. Dois itens importantes na
construção de uma narrativa.
A construção da continuidade (ou a expressão da temporalidade) é um
recurso intelectual para organizar.
Já a congruência, além de um organizador lógico, deverá resistir às
intempéries da desorganização do campo afetivo-emocional. A construção da
congruência sob o ângulo psicanalítico lida com conscientização de materiais
inconscientes.
Os títulos são os refletores de cena que iluminam o que focalizam,
conservando provisoriamente os demais na penumbra. São também os batismos, pois
purificam.
O título adequado pode possibilitar a catarse. Dentre os títulos de sua
autoria destaco Carências e Crenças.
Percebo aí o surgimento de um tema e de uma dupla. Carência lembra mais o
emocional e crenças, mais o espiritual. O sofrimento vindo quer da carência
quer de crenças ou verdades poderá ser igualmente indesejado. O lado sadio
disso é o encontro de dois pólos: do emocional com o intelectual, do material
com o espiritual, da alegria com a dureza do realismo.
Roxane,
No meio de nossa caminhada, já éramos uma dupla. Já éramos os pólos
refletores que emanavam luz suficiente para que muitas recordações saíssem das
sombras e deixassem de ser inconscientes.
Roxane,
Revendo alguns pontos pelos quais caminhamos, concluo que nossa maior ousadia foi sondar o desenvolvimento da capacidade de trocar confidências. Essa característica já era manifesta desde o princípio de nossa amizade na juventude.
Rebeca,
Tenho indagado (e sem dor) sobre a questão das despedidas. Se este fosse
meu último recado à Rebeca qual seria? Meu recado a Rebeca (e a todas as pessoas que se identificarem com ela):
– A construção de um vínculo de amizade
acontece no cotidiano: trata-se de uma possibilidade desta natureza. Já viver
plenamente a concretude da amizade é escolher um caminho que conduz a outras
esferas de caminhadas existenciais... rotas circulares de humanização em
espiral.
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