quarta-feira, 20 de junho de 2012

Último Recado para Rebeca

RECADOS PARA REBECA
é de autoria das psicólogas EDNA DOMENICA MEROLA
e de LUCIA MARIA DE PAULA ASSIS L.DE OLIVEIRA;
foi registrado no Escritório de Direitos Autorais (E.D.A.),
 sob o número: 470670,em 01/09/2009

Rebeca,
Enquanto trabalho, existencialmente, o tema da solidão e você o do consumismo, vamos trocando nossas cartas. Em relação à produção escrita estou cultivando a necessidade de dar nomes aos textos. A necessidade de dar nomes talvez surja para tentar garantir continuidade e congruência: dois itens importantes em uma psicoterapia processual. Dois itens importantes na construção de uma narrativa.
A construção da continuidade (ou a expressão da temporalidade) é um recurso  intelectual  para organizar.
Já a congruência, além de um organizador lógico, deverá resistir às intempéries da desorganização do campo afetivo-emocional. A construção da congruência sob o ângulo psicanalítico lida com conscientização de materiais inconscientes.
Os títulos são os refletores de cena que iluminam o que focalizam, conservando provisoriamente os demais na penumbra. São também os batismos, pois purificam.
O título adequado pode possibilitar a catarse. Dentre os títulos de sua autoria destaco Carências e Crenças. Percebo aí o surgimento de um tema e de uma dupla. Carência lembra mais o emocional e crenças, mais o espiritual. O sofrimento vindo quer da carência quer de crenças ou verdades poderá ser igualmente indesejado. O lado sadio disso é o encontro de dois pólos: do emocional com o intelectual, do material com o espiritual, da alegria com a dureza do realismo.

Roxane,
            Em nossas correspondências, a princípio, ainda com pouca luz, fomos espelhos recíprocos. E pela empatia fui um duplo-eu destas suas novas percepções. E você também representou meu duplo.
No meio de nossa caminhada, já éramos uma dupla. Já éramos os pólos refletores que emanavam luz suficiente para que muitas recordações saíssem das sombras e deixassem de ser inconscientes.

Roxane,
           Revendo alguns pontos pelos quais caminhamos, concluo que nossa maior ousadia foi sondar o desenvolvimento da capacidade de trocar confidências. Essa característica já era manifesta desde o princípio de nossa amizade na juventude.

Rebeca,
 Para sondar o poço das confidências, tivemos de colocar nossos próprios laços de amizade em análise. E isso me fez sentir mais integrada e feliz.
Tenho indagado (e sem dor) sobre a questão das despedidas. Se este fosse meu último recado à Rebeca qual seria?  Meu recado a Rebeca (e a todas as pessoas que se identificarem com ela):
  

– A construção de um vínculo de amizade acontece no cotidiano: trata-se de uma possibilidade desta natureza. Já viver plenamente a concretude da amizade é escolher um caminho que conduz a outras esferas de caminhadas existenciais... rotas circulares de humanização em espiral.

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