As retrospectivas sobre minhas publicações no Café Literário NOTIBRAS no ano de 2025 abrangem alguns motes a saber: 1- “O Javali, o Galo e a Cobra” que são vistos como energias densas que bloqueiam a iluminação, mas podem ser transformadas em sabedoria por meio de práticas que conduzem à libertação. 2- “O Foco no momento presente” como ressignificação e encontro. 3- “Rastros metalinguísticos” que refere ao momento poético, ao gênero textual praticado e à recepção do texto literário pelo leitor. 4- “Textos que causaram polêmicas em saraus” que descreve algumas reações de leitores ou ouvintes. 5- “Para ouvir agora o que cantei antes” que refere a aspectos da musicalidade do texto literário, ao ritmo da linguagem utilizada e suas decorrências no estilo autoral.
O primeiro item desta retrospectiva considera
a escrita como prática iluminadora. É sobre acordar querendo banir o ranço que
há no Javali, ou seja, naquele ícone que refere a como alguém se apresenta e de
como cria as narrativas de sua própria vida.
Mas eis que
surge a Cobra que me sacode com cenas de minha autoria, tais como as contidas
em: "Dissimulada, reacionária, usa e abusa sem pagar nada", publicado
em 22/02/2025 - e "A volta da Síndica Sem Noção, agora no dia em que
pegaram o capitão", em 01/04/2025. Ambos retratam autoritarismo, maus
tratos e intrigas num condomínio residencial.
O guizo da
Cobra se ouve ainda na publicação de 21/11/2025: "Palavra de homem
branco" - um poema visual em que o autoritarismo e as intrigas são
colocados no âmbito político social. Trata-se de um protesto ao legislador que
promulga leis em benefício próprio desde a época de Moisés do Velho Testamento
até Derrite do Congresso Brasileiro de 2025.
Meu lado
Javali tende a se vitimizar e chorar o leite derramado. Então penso que o ano
quase termina e ainda não fizemos a festa de lançamento do livro "Rapsódia
da Rua da Mooca" à revelia de termos concluído a história no mês de
agosto.
O Galo não
me acode, mas me sacode. Começo a ouvir seu canto que me desperta para o
trabalho de perene reconstrução de identidade.
Penso na
linda experiência de 2025 que foi o processo de escrita coletiva em que Eduardo
Martínez, Gilberto Motta, Marlene Xavier Nobre, Rosilene Souza e eu (Edna
Domenica) nos dedicamos. Lembro- me de que ganhamos um prefácio simplesmente
maravilhoso das mãos de Cecília Baumann e do qual antecipo: " Estar diante
da Rapsódia da Rua da Mooca é também estar diante de um desses encontros
improváveis, um desses sopros de genialidade coletiva, linhas entrelaçadas que
desenham mais do que histórias: são pontes, afetos e espelhos da vida.”.
E o ícone
Cobra se esvai desenxabido. Balançando a extremidade oposta ao rabo. parece
comentar sobre mim:
- Não
acredito! Não é que ela deu a volta por cima?
No segundo mote de retrospectivas de 2025 - “O foco no momento presente” - destaco
algumas frases mais leves que porventura eu tenha alcançado.
Ensinamentos budistas percebem como causas do sofrimento: o apego que se
manifesta pela ansiedade ou anseio de prover ou antecipar o futuro e o desejo.
O foco no momento presente e o desapego de substâncias e de
comportamentos repetitivos impulsionados pelo desejo são considerados
libertadores.
Na primeira retrospectiva sobre meus escritos de 2025, publicada em 09/12/2025,
evoquei publicações que partiram de espectros viciantes simbolizados pelo
Javali, o Galo e a Cobra. E mencionei até certa superação da raiva pelo
empoderamento da escrita criativa que contou com a valiosa parceria do Café
Literário Notibras.
A empreita aqui é a de retomar, dentre minhas publicações, algo que
possa apontar para o foco no presente.
O encontro com outros autores propiciou que eu me mobilizasse no
presente. Em publicação coletiva de fevereiro de 2025, contribuí com o que
segue:
"Gosto de um gostar
Que impregna o ar
Retórica artística confessa
Rumo a pessoas,
Afetivamente.
Gosto de livros
De um jeito professoral
Que afaga a escrita
Sem iludir você
Definitivamente,
Gosto."
No poema " Acalanto para Fênix Menina”, publicado em 25/11/ 2025,
há registro de um momento de renascimento e de percepção do eterno devir que
antecede o estado de presença:
Na noite
novembrina,
Uma alma leve, lavada
canta acalanto pra Fênix
Alma minha, Menina.
Em 24/11/2025, o texto "Fio" descreve o processo de inspiração
poética como movimento corporal involuntário tal como a respiração:
Da terra,
inspiro
hortelã
O ar aroma
enleva,
leva,
acalanta.
Do ar,
expiro
nítido astral
– Hortelã: tela
(metamorfoses
formas
cores).
No poema "Aristóteles na boca do povo", publicado em
29/11/2025, pode-se ler sobre o momento poético:
"a palavra uterina, cedo ou tarde, escapa pela boca."
E sobre o momento de escrita propriamente dita:
"E a
Esfinge maliciosa e sorridente
Repetia entre dentes:
– Sublima- me ou te devoro!
Enquanto Bela, em seu quarto…
Calmamente…
Escrevia."
No terceiro mote – “Rastros Metalinguísticos” persigo pistas a exemplo
do publicado em 04/06/2025, o poema "Algoritmos de
Sangue" que traz o momento poético como um estado de introspecção expresso
na concretude da palavra:
"Fico e me fito
Tento contato comigo
– Ébrio? Sóbrio?
Se esquecer adjetivos pelos cantos,
Os substantivos serão cantos?
Publicado em 12/11/2025, o poema
"Talvez" refere à recepção da poesia pelo leitor:
"Talvez a lira soando,
em plenitude ressoando,
tanja em tuas cordas
notas-fantasia
acordes-sonhos
arpejos-ideais
toque, em ti, divina melodia
arranjo-realidade.
Em “A Sina dos Saltimbancos”, publicado em
15/11/2025, revelo meu ponto de vista sobre a relação entre escritora e
leitores:
"Quando escrevemos, nos misturamos a
outros universos momentaneamente. Finda a criação, voltamos para nossas casas.
E, se dela saímos, nos confrontamos com o mundo externo que pode ser chamado
precipitadamente de realidade.
Vida de escritora é exercício de entrar no
casulo e dele sair para dar à luz algo sombrio ou solar, mas sempre a iluminar
idiossincrasias leitoras. Explico: eu escrevo o que posso, e você lê conforme
se permite. Entre nós há um ruído que é o mundo que acontece fora dos nossos
casulos."
Outra empreita metalinguística é o livro a ser
lançado brevemente: Rapsódia da Rua da Mooca que traz em seu
título uma referência ao gênero textual praticado.
Trata-se de uma única história contada sob
vários gêneros literários: dramático e crônica com Edna Domenica Merola;
roteiro cinematográfico com Gilberto Motta; romance policial com Eduardo
Martínez; a narrativa com apelo visual de Rosilene Souza e a calcada na
linguagem oral por Marlene Xavier Nobre. Ao usar fragmentos de textos já
publicados pelos autores, revela elementos do campo da experimentação literária
formal e estrutural. Nas palavras de Cecilia Baumann: “Cada página dessa
rapsódia é um convite ao riso, à reflexão, à indignação bem-humorada, aquela
que só os bons escritores sabem provocar.”
A quarta retrospectiva tem por mote: “Textos
que causaram polêmicas em Saraus”.
Um texto que causou
polêmica (soube por leitores mais próximos) foi "Entreguismo, porte de
arma e uma passeata pela paz", publicado em 13/07/2025. Colocar a palavra
"arma" no título é politicamente incorreto, disseram alguns. Referir
a um filme em que um aluno comete vários assassinatos na escola onde estuda
pode incentivar que outros cometam atos semelhantes, disseram outros. Anotei a
lição: escrever sobre a paz não é tarefa que se completa na
postura de um alguém olhando para o próprio umbigo. Tenho escrito com
amigos de escrita. Gostaria que muitos lessem nossos textos coletivos e
dialogassem conosco sobre eles. E, nos comentários, contassem ações de
inclusão social das quais têm conhecimento ou participam.
No texto coletivo "Poema ancestral"
participei com o que segue:
"Meu lado europeu
É um jubileu
De abraços e traços:
Um traseiro afro,
Um nariz mouro,
Pele alva (de sabe Deus!).
A face com contornos romanos
Em Madri me segregam
(Sou a cara da moça na lata do azeite)
Em Perúgia, me chamam de francesa
Em Pomerode, sou forasteira
Em Floripa, meu sotaque sofre bullying
Em São Paulo, trabalhei
E antes minha mãe também,
Em São Paulo minha nona trabalhara...
E, quando isso não é parto de dor,
O retrato do meu avô me sorri no
corredor"
Num sarau, ao
ouvir o “Poema Ancestral” na íntegra (texto coletivo), um homem branco da
plateia me lembrou Maria Antonieta. Recorda-se, a cara leitora ou o caro
leitor, dessa rainha? Sim, a que disse, lá na França, sobre a fome do povo: “se
não tem pão que comam bolo!” Pois não é que o homem branco conseguiu me
surpreender? Morador de uma cidade de SC, disse que, quando toma um ônibus, se
sente diferente dos demais. Para ele, aqui vai minha irônica resposta:
–
Toma um Uber, Seu Zé!
Ou vá a pé!
Mais
do que nunca é necessário divulgar ações pela paz e pela inclusão social das
quais temos conhecimento ou participamos.
Por
isso divulgo nosso livro coletivo Rapsódia da Rua da Mooca (Edna
Domenica, Eduardo Martínez, Gilberto Motta, Marlene Xavier Nobre, Rosilene
Souza). Nossa rapsódia faz um retrato social sob o viés de personagens cuja
tônica é a diversidade. Nas palavras de Cecília Baumann: “Rapsódia da Rua da
Mooca não é apenas um livro. É [ …] acima de tudo, um gesto de resistência.”
A quinta
retrospectiva tem por mote: “Para ouvir agora o que cantei antes”.
Porque tudo
passa muito depressa quando o planeta Terra pede socorro e os ricos querem os
territórios sobreviventes só para eles.
Porque o
tempo é soberano e o egoísmo é fábrica de urgências.
Porque as
urgências administradas pelos que ocupam postos no topo da pirâmide é causa das
emergências que assolam a base da pirâmide...
Tive de
retroceder para tentar resgatar, resenhar, parafrasear esse tempo devorador,
para ouvir agora o que eu mesma cantei antes... Na tentativa de sustentar
aquela música no ar...
Voltei e
reli, em "Mister de Profeta", publicado em 22/08/2025: "Músicas,
formas… Tudo pode ser arredondado, a palavra inclusive. Se conclusa, porém,
enquadra-se em retilíneas. Quero pés de andar em texto. De cabeça erguida em
música."
E
sustentando notas pretéritas e apaixonadas, reli no poema "Carta a um eu
lírico”, publicado em 28/08/2025, citações de poetas famosos.
"Quando
eu o vi, um anjo torto
desses que
vivem na sombra disse":
– Vai, ver
seu amado “ser gauche na vida”.
[...]
Ah! Amado,
que saudade daquela pedra
Que virou
metáfora no meu caminho.
Já
anoiteceu…
“Eu não
devia te dizer”, mas aquela lua
botava a
gente comovida “como o diabo”.
[...]
Amor, estou
saindo agora
pra
encontrá-lo em Pasárgada…
Levo o seu
porquinho da Índia e…
Suas
“palavras sobretudo os barbarismos universais
[...]
No nosso
encontro “o lirismo dos loucos
O lirismo
dos bêbedos
O lirismo
difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo
dos clowns de Shakespeare.”
[...]
Espero você
na “Rua Nascimento Silva, 107.”
Eternamente
tua,
Elizete."
E reli
ainda, em “Poema para um sarau”, publicado em 17/10/2025:
"Não
quero lhe falar das coisas que ensinei e arrisco:
Viver é
melhor que contar o contar de encontrar
Multifacetada,
eu vivo à toa como qualquer Pessoa
Ainda somos
e vivemos com os nossos ais”.
Em
retrospectiva que busca estar presente no aqui e agora, reli em "Minha
Deixa" (publicado em 2025):
"Deixa
ser e te permite ser.
Toma a
responsabilidade de ouvir
que a
música lá de fora vem de fora
e que a
música de dentro vem de dentro.
Para, entra
em contato.
Viver é tão
lindo,
quando se
transcende a região de Maia."
Porque ser
humano é saber a perspectiva de futuro como possibilidade, antecipo trecho do
paratexto inicial de Rapsódia da Rua da Mooca, em que Eduardo Martínez - um dos
autores do livro - relaciona ritmos musicais com estilos de escrita. Eduardo
nunca havia ouvido falar de escrita conjunta. Se bem que era de seu
conhecimento que havia gente que escrevia letra de música em parceria. Mas
nunca imaginara uma história escrita a tantas mãos. Mesmo assim aceitou o
desafio, que, a princípio, causou dúvidas. Afinal, quem é que decide a trama, o
desenlace? Imaginou que seria algo como uma orquestra, só que cada um tocando
um ritmo diferente: “olha lá a Edna no frevo, o Gilberto no tango, a
Marlene no rock, a Rosilene atacando de baião, e ele, Eduardo, tentando puxar
para o lado do samba.”
Nas
palavras de Cecília Baumann, no prefácio de Rapsódia da Rua da Mooca:
"Quando
me deparei com essa trupe de escribas — Edna, Eduardo, Gilberto, Marlene
e Rosilene — confesso que fiquei intrigada. Afinal, quem, em sã
consciência, se lançaria ao desafio de construir uma narrativa a dez
mãos, cada uma puxando para seu compasso, sua métrica, sua música? Pois
bem… esses cinco não só se lançaram, como o fizeram com uma maestria que,
honestamente, me tirou o fôlego.
Sobre a
autora (Depoimentos autobiográficos)
Não sou pessoa indicada a dar respostas... Nem sou mais de correr. Mas
tenho ido pra Pasárgada sempre que quero rever a "estrela da vida
inteira"... Às vezes olho pra quem está "preparando outra
pessoa" e o tempo para pra olhar aquela barriga... E lembro da jovem
guarda nas tardes de domingo... Fico bem. Mas depois lembro "da mosca que
pousou na minha sopa"... E da "gente humilde que não tem onde
morar". Então "estou de malas prontas" pra Shangrilá já que
“Fora da ficção não há salvação!” - Livrus, versículo zero.
No meu quintal, tem “um comboio de cordas que
se chama coração”. Tem “um porquinho da Índia” … Tem todos os livros do
Jorge Amado. No meu quintal, tem muros altos como burgos que fazem caretas
para fascistas. Muros que acenam às andarilhas de luto à procura da irmandade
livre de amarras servis. Já que: “Fora da ficção não há salvação!” - Livrus,
versículo zero.
Houve um dia em
que me senti como uma árvore caída… Percebi que uma séria doença atingira a
humanidade: a cromofobia. Essa doença que dividiu a nação brasileira em Verde
amarelentos de um lado e Vermelhos, do outro. Então apelei para o PRCDC – “Programa de Recuperação Cognitiva e
Dessensibilização de Cromofobia”. (O PRCDC tem
parceria com a Igreja “Fora da ficção não há salvação”).
Valorizo o
trabalho de editoras. Avalio as dificuldades que elas enfrentam para se manter
num país em que políticos propagam o desprezo pela pesquisa, pelos professores,
pela escola pública laica, civil e de qualidade. Políticos que menosprezam as
cotas para os povos originários e a prova do ENEM como mecanismos de justa
seleção para ingressar na universidade pública.
Sou
militante do PRCDC - "Programa de Recuperação Cognitiva e
Dessensibilização de Cromofobia". No projeto, livros são usados como
vacinas para a cromofobia - essa doença epidêmica que retorna com intensidade
de quatro em quatro anos, ou seja, nas eleições para os poderes Legislativo e
Executivo - federal e estadual.
O PRCDC é
um projeto de resiliência em prol dos princípios democráticos. Consiste de
leituras dos autores: Edna Domenica, Eduardo Martínez, Gilberto Motta, Marlene
Xavier, Rosilene Souza. Assim como de Graciliano Ramos, Ariano Suassuna, João
Cabral de Melo Neto, Chico Buarque de Holanda, Guimarães Rosa, Mia Couto,
Conceição Evaristo e outros. Para sanar os casos mais graves de cromofobia, o PRCDC
recomenda: Marx e Engels. REFERÊNCIAS https://www.notibras.com/site/
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