"Os Vazios do Homem", de João Cabral
de Melo Neto.
*Os* *vazios* do homem não sentem ao *nada*
do vazio qualquer: do do *casaco* vazio,
do da *saca* vazia (que não ficam de pé
quando vazios, ou *o *homem** com vazios);
*os* *vazios* do homem
sentem a *um cheio*
de *uma* *coisa* que inchasse já inchada;
ou ao que deve sentir, quando cheia,
*uma saca* : todavia não, qualquer *saca*
.
*Os vazios* do homem, *esse vazio*
cheio,
não sentem ao que *uma saca* de tijolos,
*uma saca* de rebites; nem têm *o
pulso*
que bate numa de sementes, de ovos.
2. *Os vazios* do homem, ainda que
sintam
a *uma plenitude* (gora mas *presença*
)
contêm *nadas* , contêm apenas *vazios*
:
o que *a esponja* , vazia quando plena;
incham do que **a esponja* ,
de ar vazio,
e dela copiam certamente *a* *estrutura* :
toda em *grutas* ou em *gotas* de
vazio,
postas em *cachos* de bolha, de *não-uva*
.
*Esse cheio* vazio sente ao que *uma
saca*
mas cheia de esponjas cheias de vazio;
*os vazios* do homem ou *o*
*vazio* inchado:
ou *vazio* que inchou por estar vazio.
A obra de João Cabral de Melo Neto faz uma
crítica indireta à concentração de terras. O escritor não assumiu a militância
direta pela reforma agrária, mas a problemática agrária nacional comparece em
seus livros: "O Rio", de 1953 e "Morte e vida Severina", de
1955. A leitura do poema "Os vazios do homem" me trouxe indagações:
1- O texto relaciona o espaço geográfico com
as características sociais, físicas e culturais que descreve?
2- Busca inspiração no real? Aborda o
cotidiano dos grupos humanos?
3- Está atento ao espaço em que se desenvolve
a escrita?
4- Pode se reconhecer neste poema a verve do
"poeta engenheiro"?
5 - A construção "racional e
equilibrada" do poema "Os vazios do homem” tem a ver com o uso do
ponto final por apenas três vezes? Esses pontos finais marcam tese, antítese e
síntese?
6- A construção "racional e
equilibrada" pauta-se no uso do substantivo e da locução adjetiva (preposição
+ substantivo)?
Deixamos muitas perguntas e poucas respostas.
O poema em questão discute a natureza específica do vazio
humano em contraste com o vazio de objetos inanimados, como um casaco ou uma
saca vazia.
Os vazios do homem quer sejam físicos ou
metafóricos são personificados.
Físicos como um casaco vazio, por exemplo, e
metafóricos como um vazio existencial. No poema os vazios sentem, isto é, são
dotados de qualidades humanas, como os sentimentos. Logo, são personificados e
a eles é conferida uma grande importância. O substantivo “vazios” está no
plural, justamente para abarcar a sua polissemia.
A personificação no poema apoia-se no uso do
substantivo - classe gramatical que dá
nome a seres, objetos, lugares, sentimentos, ações, qualidades, etc., sendo
fundamental para nomear tudo o que existe (real ou imaginário). Vejamos a
sequência de substantivos.
1- *vazios* *nada* *casaco*
*saca* *o *homem**; *os* *vazios*
*um cheio* *uma* *coisa* *uma saca*
não qualquer *saca* . *Os vazios* *esse
vazio *uma saca* de tijolos, *uma saca* *o pulso*
2- *Os vazios* *uma plenitude* (gora mas
*presença* ) *nadas* , *vazios* :
*a esponja* , **a esponja*
, de ar vazio, *a* *estrutura**grutas* *gotas* *cachos* de bolha, de *não-uva*
*Esse cheio* vazio *uma saca* mas cheia de
esponjas cheias de vazio; *os vazios* do homem ou *o*
*vazio*
Os tipos de substantivos mais usados no poema
são do tipo: comum, concreto (nomeia seres de existência própria, ex: saca),
simples (um só radical, ex: vazios). Primitivo: Não se deriva de outra palavra
(ex: cachos). Usa o substantivo composto: não- uva- um neologismo e
refere a esse cheio vazio – que substantiva o adjetivo vazio por meio da
metáfora. Esse adjetivo substantivado é classificado como abstrato o que o realça, por oposição ao uso frequente de substantivos concretos.
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