terça-feira, 9 de dezembro de 2025

Paráfrase do poema "Os Vazios do Homem", de João Cabral de Melo Neto. Edna Domenica

 "Os Vazios do Homem", de João Cabral de Melo Neto.

 

 *Os* *vazios* do homem não sentem ao *nada

do vazio qualquer: do do *casaco* vazio,

do da *saca* vazia (que não ficam de pé

quando vazios, ou *o *homem** com vazios);

 *os* *vazios* do homem sentem a *um cheio

de *uma* *coisa* que inchasse já inchada;

ou ao que deve sentir, quando cheia,

 *uma saca* : todavia não, qualquer *saca* .

 *Os vazios* do homem, *esse vazio* cheio,

não sentem ao que *uma saca* de tijolos,

 *uma saca* de rebites; nem têm *o pulso

que bate numa de sementes, de ovos.

 

2. *Os vazios* do homem, ainda que sintam

a *uma plenitude* (gora mas *presença* )

contêm *nadas* , contêm apenas *vazios* :

o que *a esponja* , vazia quando plena;

incham do que **a esponja* , 

de ar vazio,

e dela copiam certamente *a* *estrutura* :

toda em *grutas* ou em *gotas* de vazio,

postas em *cachos* de bolha, de *não-uva* .

 *Esse cheio* vazio sente ao que *uma saca

mas cheia de esponjas cheias de vazio;

 *os vazios* do homem ou *o* *vazio* inchado:

ou *vazio* que inchou por estar vazio.

 Ao ler o poema "Os vazios do homem" do livro A Educação pela pedra - 1966- do autor pernambucano João Cabral de Melo Neto – 1920-1999- lembro de que ele foi embaixador e cônsul. Foi afastado do cargo no Itamarati por Getúlio Vargas em 1953, mas foi reincorporado em 1954.

A obra de João Cabral de Melo Neto faz uma crítica indireta à concentração de terras. O escritor não assumiu a militância direta pela reforma agrária, mas a problemática agrária nacional comparece em seus livros: "O Rio", de 1953 e "Morte e vida Severina", de 1955. A leitura do poema "Os vazios do homem" me trouxe indagações:

1- O texto relaciona o espaço geográfico com as características sociais, físicas e culturais que descreve? 

2- Busca inspiração no real? Aborda o cotidiano dos grupos humanos?

3- Está atento ao espaço em que se desenvolve a escrita?

4- Pode se reconhecer neste poema a verve do "poeta engenheiro"?

5 - A construção "racional e equilibrada" do poema "Os vazios do homem” tem a ver com o uso do ponto final por apenas três vezes? Esses pontos finais marcam tese, antítese e síntese?

6- A construção "racional e equilibrada" pauta-se no uso do substantivo e da locução adjetiva (preposição + substantivo)?

Deixamos muitas perguntas e poucas respostas.

O poema em questão discute a natureza específica do vazio humano em contraste com o vazio de objetos inanimados, como um casaco ou uma saca vazia. 

Os vazios do homem quer sejam físicos ou metafóricos são personificados. 

Físicos como um casaco vazio, por exemplo, e metafóricos como um vazio existencial. No poema os vazios sentem, isto é, são dotados de qualidades humanas, como os sentimentos. Logo, são personificados e a eles é conferida uma grande importância. O substantivo “vazios” está no plural, justamente para abarcar a sua polissemia.

A personificação no poema apoia-se no uso do substantivo - classe gramatical que dá nome a seres, objetos, lugares, sentimentos, ações, qualidades, etc., sendo fundamental para nomear tudo o que existe (real ou imaginário). Vejamos a sequência de substantivos.

1- *vazios* *nada* *casaco* *saca*  *o *homem**; *os* *vazios* *um cheio* *uma* *coisa*  *uma saca* não qualquer *saca* . *Os vazios* *esse vazio *uma saca* de tijolos,  *uma saca* *o pulso

2- *Os vazios* *uma plenitude* (gora mas *presença* ) *nadas* , *vazios* :

*a esponja* , **a esponja* , de ar vazio, *a* *estrutura**grutas*  *gotas* *cachos* de bolha, de *não-uva*  *Esse cheio* vazio *uma saca* mas cheia de esponjas cheias de vazio;  *os vazios* do homem ou *o* *vazio*

Os tipos de substantivos mais usados no poema são do tipo: comum, concreto (nomeia seres de existência própria, ex: saca), simples (um só radical, ex: vazios). Primitivo: Não se deriva de outra palavra (ex: cachos). Usa o substantivo composto:  não- uva- um neologismo e refere a esse cheio vazio – que substantiva o adjetivo vazio por meio da metáfora. Esse adjetivo substantivado é classificado como abstrato o que o realça, por oposição ao uso frequente de substantivos concretos.                                                                          

 

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