terça-feira, 7 de outubro de 2025

Sarau de Outubro - por Edna Domenica Merola

 Antonio Gil Neto apresenta 'ras" de Rosilene Souza

 

ras

rindo apanhei-me sozinha. justamente, quando o sol sorrateiramente raiava.

 

ruminei atrapalhada de sereno. ao remar arquejante de suor. rosada aspirei de

 

soslaio. rejeitando aquele sorvete. raivosa aceitei a sorte e risonha apareci de

 

surpresa.

 

rosilene Souza

 

Rosilene Souza. Mineira, desenvolve pesquisa nas linguagens artísticas: colagem, escrita criativa, fotografia e deficiência visual. Investiga o excesso de imagens e escritas consumidas e produzidas na sociedade. Participa de exposições, feiras e mostras de Arte. Tem trabalhos artísticos e literários publicados em revistas, livros (coletâneas “Do corpo ao corpus, organização Edna Merola, 2022”, “Ninguém escreve por mim”, organização Claudio Carvalho, 2024; catálogos e blogs. Contos e ilustrações publicados pelo Café Literário Notibras (2025).                                                                                                                                          

 Rosilene lê texto de Antonio Gil Neto                                                                                                                                                                                                                       Antonio Gil Neto nasceu em Taiaçu, cidadezinha do interior paulista, em 1950. Graduou-se em Pedagogia e Letras. Ainda jovem, mudou-se para São Paulo, onde construiu sua carreira profissional na área da Educação. Atuou em projetos de formação de educadores e em publicações didáticas vinculadas ao ensino de língua. Autor de livros de literatura juvenil: A flor da pele e Cartas Marcadas, (Ed. Cortez/SP) e também organizador e autor de A memória brinca: ciranda de histórias do ensino municipal paulistano, (Imprensa Oficial/SP). No primeiro livro que escreveu – Brado Retumbante, (Ed. Olho d’Água/SP) – teve a graça de receber na contracapa generosas palavras de Paulo Freire. Participou da coletânea Tudo poderia ser diferente – inclusive o título, e-book Amazon, 2022. Também em 2022, publicou seu primeiro livro de poemas Inéditos, inexatos – uma coleção de água e vidro, pela editora Folheando. Depois publicou os livros de poesia: “Sem saber o Amor” (Ed. Primata), “Desertos, Pássaros, Quintais” (Caravana Editorial), “Silêncios, seus estilhaços de seda” (Ed. Folheando), “Água, pedra, flor” (Mondru Editora).

Gilberto Motta apresenta "Memórias auditivas". Texto de Edna Domenica

 

Certo dia, ao vasculhar minhas memórias auditivas, coletei ecos das criações de: Caetano Veloso, Alberto Ribeiro e João de Barro; Francisco Dias Ribeiro e Antonio Maciel do Espírito Santo; Roberto Carlos; Chico Buarque de Holanda; Jessé; Cartola; Claude Joseph Rouget de Lisle; Evaristo da Veiga e D Pedro I; João Donato e Lyrias Ênio. O leitor poderá identificar apenas alguns desses autores e outros não. Pois desses, só tomei por citação as notas musicais que acompanham as palavras de suas criações. Confira a seguir:

 Caminhando contra o vento

Quero compor com você

Qual cisne branco compõe com a lua

Quero compor com você

 

Vou chafurdar nas suas notas

Que estavam à toa na brisa

E recolhi com labor

Para compor com você

 

Ei, ei, galera, que em noite apagada,

Fica ao relento no vento sul …

Vem, que a sede de criar te faz melhor…

Vem, que o vento é provento

Brisa que vem e que vai,

Unindo forças com o vento, quero compor com você!

 

Porque as horas não falam,

simplesmente, as horas exalam,

quero compor com você

 

Onde um botão em flor eu vi, vivi…

Quero compor com você

Nesta terra de brava gente

Quero compor com você

 

Até um dia, até talvez, até quem sabe.

Mais uma vez…

A herança do meu coração…

Quero deixar pra você

Quero cantar com você

Quero compor com você.

 

Referência:

MEROLA, E.D.; De que são feitas as histórias, Postmix, 2014, PP 33-34.

 

Edna Domenica gosta de música. Considera que “escrever é uma empreitada existencial desafiadora […], uma tarefa árdua, um afeto prazeroso, um ato de cidadania”. Paulistana, desenvolveu pesquisa sobre Psicodrama e suas aplicações em oficinas de escrita criativa, publicadas em Aquecendo a produção na sala de aula (Nativa, 2001), De que são feitas as histórias (Postmix, 2014), Relógio de Memórias (Postmix, 2017). É autora de Cora, coração (Nova Letra, 2011), A volta do Contador de Histórias (Nova Letra, 2011), No Ano do dragão (Postmix, 2012), As Marias de San Gennaro (Insular, 2019), O Setênio (Tão Livros, 2024).

 

Edna apresenta "Confissão/confusão"- texto de Gilberto Motta

 

                         MANHÃ clareia  a noite pariu o dia as aracuãs namoram na minha janela enquanto o Sol chega de mansinho morninho morninho trazendo o contraste das formas a definição da vida que gira e gira na pista das estrelas no universo de rotas traçadas com lápis de giz de cera em papel crepon rabiscando antigas e novas civilizações como num filme distópico cravado de enredos velozes multifacetado o espaço é infinito sem eira nem beira na dimensão de mundos a serem descobertos pilotando a nave louca em busca de luz no breu das galáxias e la nave vá e tudo gira e a vida segue e sempre seguirá como uma batida perfeita do violão de João Gilberto em harmonias celestiais enquanto Hermeto sopra a chaleira genial e Paulo Freire educa marcianos e venusianos saídos de outra S-fiction o som orienta as rotas e as trilhas da Nova Era misturando notas bemóis sustenidas diapasão de desafios afinados desafinados dentro e fora do tom nestas veredas onde já não há mais métricas nem confusão nem pontuação

  

Gilberto Motta nasceu e cresceu em um pequeno circo teatro no interior de São Paulo. Jornalista, repórter de rádio, TV, jornais e revistas; professor universitário e vide documentarista premiado por direção e roteiro. Aposentado, vive e escreve de uma pequena cabana na vila de pescadores da Guarda do Embaú, SC.

 

Publicações:

– Crônicas e contos, Revista Vírgula, Faculdade Cásper Líbero, SP, entre 1979 e 1982.

– O modal de transportes no Sul do Brasil, dissertação de Mestrado, UFSC, Florianópolis, SC, 2000.

– Miolo (Cânticos para ninar pirados e piradas), Prêmio Sinergia SC, contos/coletânea 2000.

– Narrativas audiovisuais: Construção/Desconstrução/Reinvenção (Ganchos 88...e deu boi nas cabeças), ensaio acadêmico. Ed. Unimar SP, 2008.

– A Incrível Jornada da Menina Careca, romance infanto juvenil, Amazon, 2009.

– Céu de Vaga-lumes e o Circo Imaginário de Motinha e Nhá Fia, crônicas/memórias, Amazon, 2009.

– Tudo poderia ser diferente, inclusive o título, coletânea, Amazon e-book, 2022.

– Do corpo ao corpus, contos/coletânea, Ed. Rocha Soluções Gráficas, SC, 2022.

– Crônicas, contos, poesias e textos coletivos no Café Literário, Plataforma digital Notibras, 2024/2025.

Reportagens e Vídeo documentários: – Repórter, roteirista e apresentador nas redes TV Planalto/Lages, SC, RBS TV, TV Barriga Verde e TV Cultura, Florianópolis, SC, entre 1983 e 2001. – Os Caminhos do Mercosul, série de documentários, Fetiesc/TV Cultura SC, 1984. – O Mundo dos Mangueizais, série de documentários Prêmio Vídeo Terra, Unicamp, SP, 1987. – Ganchos 88...e deu boi nas cabeças, documentário audiovisual Prêmio Festival de Cinema e Vídeo da Bahia e finalista Festival de Cinema e Vídeo de Havana, Cuba, Putz Vídeo, 1988. – A Guerra da Água, vídeo documentário Prêmio Eco Vídeo, Amsterdã, Holanda 2006, TV Marília, SP. – A Mini Cidade Cooperativista, grande reportagem Prêmio Cooperativas Brasileiras dirigindo o programa de TV Cooperativismo em Notícias no Canal Rural nacional, Fecoagro, SC, 2012.

Redes Sociais: @gilbertopintodamotta, @gilmotinha Facebook: Gilberto Pinto da Motta

 

Cassiano Silveira nasceu em Florianópolis/SC e reside em Palhoça (SC). Historiador, atua na área da adesde 2010. Entre 2016 e 2017 trouxe a público, através do Facebook, as tirinhas cômicas Os Cabeçudos, discutindo sobre o cotidiano de forma um tanto nonsense. Publicou artigos científicos: Os Caixões Fúnebres na Capela de Nossa Senhora das Dores: Uso e Tipologia (Revista Tempos Acadêmicos, 2012); e poemas: Cama de Mármore (Revista Poité, 2006), Velório e Olho-mar (ambos PerSe, 2021) e contos: Patos (InVerso, 2021), Os dois hemisférios da alma (Persona, 2021) e A perfeição (SENAI/CIMATEC, 2021), que lhe valeu menção honrosa no 1° Concurso Cultural Literatec – A vida numa sociedade tecnológica. Participou da coletânea Tudo poderia ser diferente –inclusive o título, como autor, como responsável pela capa, projeto gráfico e diagramação. É autor do livro Sobre o medo, a morte e a vida, disponível em formato físico e também em e-book na Amazon.com.br. Contatos Instagram @siano_silveira

 

Antonio Carlos (Tatalo) Fernandes. É professor titular convidado da COPPE/UFRJ de engenharia naval e oceânica. Foi membro do GTP (Grupo Teatral Politécnico da USP). No Rio de Janeiro, fez curso de dança de salão com Jaime Aroxa e de declamador de poesia com Elisa Lucinda. Participa da Tertúlia Poética e do curso de Claudio Carvalho. Participa do livro publicado “Ninguém Escreve por Mim” organizado pelo último e editado por Cassiano Silveira.

 

Marlene Xavier Nobre nasceu, cresceu, casou e teve três filhos em Florianópolis, SC.Mudou para São José, SC, e aí vieram os netos. Em 2017, sua ida ao NETI (UFSC, campus Florianópolis) para cursar oficinas de criação literária que utilizava recursos como a dança grupal e espontânea ao som de músicas clássicas resultou na participação numa coletânea organizada pela ministrante das oficinas. Logo em seguida, lançou seu primeiro livro solo: A meus queridos netos – cartas (Postmix, 2017). Em 2019, cursou outra oficina, desta vez na Biblioteca do CIC, em Florianópolis e em 2020, lançou, seu segundo livro solo: Lembranças e esperanças de uma mulher. Em 2025, publicou textos no Café Literário Notibras. Rede Social: Instagram: @xaviernobre Facebook: Marlene Xavier Nobre.


Cadê a ponte?

Lalah Tobler

Havia nela um sorriso diferente e no olhar a confiança , de quem busca uma grande conquista. Sim, chegara o momento tão aguardado.
  Dava pra ver a ponte, a ponte que, como as outras, leva para o outro lado. E havia do lado de lá, ela sabia , uma margem de mar, do mar que encontra o céu nas cores mornas do crepúsculo e mostra tintas de promessa nas auroras de todas as manhãs que as nuvens não encobrem.
  Ela trazia em atados feixes, uma história vivida do lado de cá, bem longe das ondas, das rendas, dos barcos, dos pescadores e tantos causos que iria encontrar.
  Descobrindo novos caminhos, novos cheiros, suores, foi preenchendo as brechas, trocando amores por outros prazeres.
  Ventos sopraram de alternados quadrantes. As faces secaram, as mãos calejaram.
  Nuvens densas fecharam o horizonte.
  Ela quis voltar.
  Não encontrou a ponte ….


Lalah Hugentobler é gaúcha, radicada em Santa Catarina desde abril de 1989 tendo alternado residência entre Florianópolis e Garopaba onde mora atualmente. Atraída pelas letras desde a infância, declamando, cantando e escrevendo representou sua cidade em inúmeros eventos. 

Apesar de farto material escrito ainda não publicou. Frequentou oficinas de escrita criativa no NETI - UFSC. É artesã e dedica- se ao jardim e à horta. 

 

Poema ancestral

Edna Domenica Merola, Léa Palmira e Silva, Marlene Xavier Nobre, Taís Palhares

 

Meu lado europeu

É um jubileu

De abraços e traços

Um traseiro afro

Um nariz mouro

Pele alva (de sabe Deus!)

A face com contornos romanos

 

Em Madri me segregam

(Sou a cara da moça na lata do azeite)

Em Perúgia me chamam de francesa

Em Pomerode sou forasteira

Em Floripa meu sotaque sofre bullying

 

Em São Paulo trabalhei

E antes  minha mãe também,

Em São Paulo minha nona trabalhara...

E, quando isso não é parto de dor,

O retrato do meu avô me sorri no corredor

(Edna Domenica)

 Indígena,

Português,

Espanhol,

Caboclo,

Mestiça...

À terra: plantar, caçar.

 

Natureza, liberdade.

Passado, presente futuro.

A vida passada em gerações.

Tudo junto e misturado.

 

Olhar no espelho,

Enxergar a mãe, o pai, os avôs

 

E as novas linhagens,

Quais características trarão?

[Tais Palhares]

 

Sou um lado indígena e outro africana

Isso me faz latina?

A parte de pai é sulina 

De mãe, nordestina

 

Manezinha de Floripa

  Outrora de praias, recôncavo e tantas belezas naturais

Hoje exploradas pelos capitalistas brutais –

 

Da ancestralidade, as labutas

Desde a infância quantas lutas!

 

Acho a velhice demais

Graças aos meus ancestrais.

 [Léa Palmira e Silva].

 

Vento sul, mar azul, areia a rodopiar:

Mané e manezinha a bailar,

Depois de nove meses

O meu choro "ouvisses".

 

Nasci no mês do "mata cavalo",

 num frio de doer pescoço!

 

Sou festeira e manezinha nata,

E por ser filha de artistas, sou grata

Cresci comendo pirão,

caldo de peixe e camarão!

 

Quem trouxe meus ancestrais?

Seria o vento sul soprando nos manguezais?

 

De onde vim?

Não sei de mim!


Será sou sarará?

Ou será sou sarará crioula? Sei lá!

 

O que importa é ser faceira,

mané charmosa e maneira.

(Marlene Xavier Nobre)

 

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