sexta-feira, 22 de junho de 2012

Oficinas do Projeto Aquece a Escrita. Por Edna Domenica Merola

 

Ilustração: Cleusa Myiagi


 O projeto Aquece a Escrita é filho legítimo da prática pedagógica que conjuga oficinas de redação e Psicodrama Aplicado. Iniciada em 1982, essa prática teve dois importantes registros: um artigo científico e um livro paradidático. Ambos de autoria de Edna Domenica Merola, respectivamente O Desbloqueio da Expressão e Técnicas de Redação através do Jogo Dramático (revista da FEBRAP, no. 4, ano 7) e Aquecendo a Produção na Sala de Aula (Editora Nativa, 2001).
         Em Florianópolis, essa prática se expressou pelo projeto Aquece a Escrita que iniciou com a oferta de um curso sob o título Conquista da Autonomia na Escrita pela escritora e bacharel em Letras, Pedagogia e Psicologia; mestre em Comunicação e Educação. A proposta teve por justificativa aprimorar os conhecimentos dos participantes e incentivar seus talentos no campo da Literatura.
        No primeiro semestre de 2012, num centro comunitário, foram realizadas oficinas gratuitas de produção escrita, utilizando metodologia lúdica desenvolvida pela própria ministrante, para habilitar os participantes no uso de técnicas de redação − descrição, narração, dissertação, teatro e poesia.
       As interferências semanais realizadas durante duas horas e meia consistiram de um jogo de aquecimento elaborado para eliciar a construção de um texto com certos padrões técnicos, mas que liberasse o pensamento divergente. Após o aquecimento, cada participante escrevia seu texto. Finda a escrita, dava-se a leitura: etapa para habituar o aprendiz a usufruir da produção escrita  do outro o que é uma atitude necessária para formar o hábito de leitura (algo tão desejado por professores). Os comentários  apontam como o autor usou a técnica padrão para delinear seu texto, criando algo inédito pelo uso de seu estilo.
A coordenadora da oficina não teve por meta apresentar conclusões sobre ideias e conteúdos subjacentes aos temas desenvolvidos na escrita dos participantes. Tampouco pretendeu estabelecer juízos ou instigar apreciações de caráter monológico. O diálogo entre as diversas autorias foi favorecido: no contexto onde se fez uso de técnicas lúdicas, na escrita individual pela livre expressão temática e formal, e no momento da leitura do próprio texto para os colegas.
As unidades desenvolvidas versaram sobre os itens: Descrição (Retrato, Descrição de uma cidade, Narração Descritiva); Narração (Criação de personagens com cartas do tarô, Criação Coletiva de uma Narração); Dissertação;  Teatro; Poesia.
Na primeira oficina, trabalhou-se a apresentação dos participantes e foi solicitada a produção escrita de um Retrato de um colega.
Na oficina sobre Descrição de uma Cidade utilizou-se, como aquecimento para a escrita, um exercício de imaginação dirigida no qual se tentou simular um voo rasante sobre um local de livre escolha do participante.
A oficina sobre Narração Descritiva partiu de uma atividade de leitura, na qual se utilizou a história O Jardim do Homem Sábio do livro A Volta do Contador de Histórias. Após um aquecimento foi proposto um diálogo entre os personagens, após a escolha dos atores pelo grupo. Após alguns segmentos de falas, foi solicitada a inversão de papéis. Após a dramatização foram feitos os comentários. Em seguida, propôs-se que cada participante redigisse um texto sobre o tema O Jardim de... (As reticências referiam-se ao nome de alguém dentre os presentes).
Durante a oficina destinada à Narração, os participantes criaram personagens após a exposição a uma vivência na qual foram utilizados alguns arcanos maiores do Tarô. Para eliciar a produção escrita da aula seguinte, a ministrante da oficina (Edna) criou a personagem Catarina que redigiu cartas endereçadas aos personagens criados pelos participantes, na aula anterior. Eis uma dessas 'cartas':
Querida Estrela,
Sei que você está vivendo um momento de esperança, no qual há excelentes perspectivas para qualquer tipo de plano que você possa fazer. Ser otimista demais e ver tudo pelo lado positivo tem, paradoxalmente, um lado negativo: aquele do ditado "quanto maior a altura, maior a queda". É preferível encarar a realidade e tirar dela o que há de melhor sem deixar de ver que também existe o pior para não se decepcionar profundamente. A verdade, a simplicidade e a realidade são as tônicas do seu jeito de estabelecer vínculos. Há esperança e boas perspectivas para relacionamentos que você esteja desejando estabelecer com as pessoas do nosso grupo. Uma oportunidade promissora poderá ser inventada pelo grupo. Será como um resultado de uma combinação entre seu trabalho passado e o presente. A energia empregada na carreira tende a apresentar resultados que trarão satisfação e realização pessoal. Pode ser que você tenha passado, ou ainda esteja passando, por um período crítico. No entanto, a tendência é a de atingir o equilíbrio.
Beijos, da Catarina.

           Na oficina destinada à Criação Coletiva de uma Narração cada pessoa do grupo respondeu a questões diferentes sobre uma viagem fantástica que, hipoteticamente, teriam feito juntos. As questões foram as seguintes: Onde se deu o início dessa viagem? Qual o destino dessa viagem? Qual o objetivo dessa viagem? Quem participa dessa viagem? O que foi visto nessa viagem? O que se pôde ouvir nessa viagem? O que se pôde perceber com o olfato nessa viagem? O que se pôde sentir nessa viagem? Como foi a volta dessa viagem?Quais foram os resultados dessa viagem? Por que alguns pensaram em não retornar ao local do início dessa viagem? Alguém resolveu ficar no lugar visitado, ao invés de retornar? Após a escrita, as respostas foram lidas na sequência supra sob o título: ‘Uma viagem Fantástica’.
Para trabalhar Dissertação elegeu-se o tema Pecados Capitais. Questionava-se se o tema poderia auxiliar os participantes numa primeira experiência com a escrita de uma dissertação e não ser inócua para os mais experientes. Alunos e professora enfrentaram esse desafio e tivemos bons resultados.
Para trabalhar a técnica de escrita de texto para Teatro tomou-se o relato de uma participante sobre a forma trágica de vida e morte de um indivíduo que foi seu conterrâneo, em tempos passados. A partir dessa fala foi colocado o desafio de escrita: criar diálogos entre os personagens que se encontram em algum lugar após suas mortes.
A última unidade didática trabalhada teve por tema a Poesia. Cada uma dessas oficinas teve por objetivos, respectivamente, a escrita de poema com rima, aliteração e musicalidade. Na síntese final, os participantes apontaram como importantes na construção poética: a ativação de emoções no eu poético; a expressão de sensações e de sentimentos; o uso da linguagem metafórica; a utilização de ícones.

Alunos da oficina em 2012
Oficina 2012










 




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