O
jogo a ser aplicado em oficinas ou aulas regulares de redação e/ou leitura, no
Ensino Fundamental e Médio, é rápido e fácil, em sua aplicação. Mas seu
objetivo é introduzir a discussão de um tema um tanto complexo, quer seja, o da
análise da voz do narrador como instrumento de interferência na narrativa
pós-moderna. Essa pressupõe que o lugar narrativo, (de onde e de quem parte a
história narrada) é mais apelativo do que o conteúdo anedótico daquilo que é
exposto, descrito e 'narrado'. A
narrativa pós-moderna se insere em tempos nos quais livros de autoajuda se
tornam Best Sellers e seus autores se
destacam em modalidades sócio profissionais diferentes da de escritor... Ou
seja, autor e narrador se fundem de tal forma a confundir o aprendiz de
literatura na distinção entre ambos.
Para iniciar o
jogo, pede-se a algum participante que conte um fato verídico transcorrido há
muito tempo atrás e em alguma cidade distante do local no qual ocorre a
atividade. O fato deverá ser relevante à época na qual ocorreu, podendo ser de
extrema banalidade nos dias de hoje. Temas relativos a comportamento e costumes
são propícios, mas convém não rejeitar assuntos de outra natureza. O 'passado'
referido, geralmente não foi vivenciado pelos jovens participantes que o
conhecem sob o viés de relatos de familiares ou de novelas de TV.
Após ouvir o
primeiro narrador, outros participantes são convidados a recontar a história.
Cada um a sua vez recebe a senha de fazê-lo sob o ângulo de um personagem como
um anjo, um fofoqueiro, um locutor de programa sensacionalista, um religioso,
um candidato a prefeito. A princípio, a senha é conhecida apenas por um dos
participantes.
Por
força dos narradores serem personagens tipos, o conteúdo anedótico da história
originalmente narrada é alterado significativamente. Por exemplo, em um grupo
no qual o jogo foi aplicado, optou-se por uma história que, originalmente, terminava
por suicídio. No entanto, ao ser reproduzida por alguém que recebera a senha
para fazê-lo assumindo a vez de um anjo, a história terminou com a continuidade
da vida harmônica de todos os personagens. Pessoa do grupo julgou que a
história tinha sido contada de forma errada, ao que o narrador (anjo) respondeu
que como anjo teve poder para proteger o personagem para que não se suicidasse,
podendo com isso alterar toda a história. É essa a natureza performática do
narrador a que se alude.
Para
compreender a metodologia que fundamenta esse jogo vide o conceito de zona proximal
de Vygostki.
Releia
neste blog (http:/ aquecendoaescrita.blogspot. com.br) a postagem de 27/07/2012
: Uma Atividade Lúdica para Aprender a Gostar de Ler.
Para
estudo acadêmico do campo da Teoria Literária sobre narrativa performática ler
texto em PDF disponibilizado gratuitamente: Ravetti, Graciela. Retórica
Performática: A catacrese do narrador no romance contemporâneo. Cadernos de
Letras da UFF – Dossiê: Diálogos Interamericanos, número 38, p. 71-87, 2009.
Sobre a catacrese vide Gayatri Spivak. Vide também, disponibilizado em PDF:
Machado, Igor José de Renó; Reflexões sobre o Pós Colonialismo. Teoria e
Pesquisa, 44 e 45, Janeiro e Julho de 2004.
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