A Narrativa em primeira pessoa é algo simpático às crianças,
pois a usam naturalmente, sendo isso inerente a sua organização cognitiva egocentrada e de
acordo com o pensamento operacional concreto. No entanto, a narrativa em
primeira pessoa, na análise do texto literário contemporâneo, passa a ser algo
bem ao gosto do raciocínio abstrato. A Estética Pós Moderna sugere ao leitor
incauto certa negativa de diferenciação entre autor e narrador.
Produção textual: vide http://NETIATIVO.blogspot.com.br
Outra ilustração: Um Jogo
rápido para Oficina de Redação
Ao
coordenar oficinas, acho oportuno ajudar o escritor iniciante a 'ousar' em suas
investidas literárias com a conscientização dessa linha de diferenciação. Isso poderá auxiliá-lo a construir seu texto de forma a afirmar que a diferenciação é válida ou que, ao contrário, se trata de uma 'narrativa performática' ou autobiográfica. Poderá também dar as condições a construir uma narrativa que instale essa dúvida no leitor, fazendo disso material estético.
O que é narrar? É escolher um foco para uma
escrita constituída basicamente de verbos que expressam ação e encadeiam causas
e consequências, revelando a interação de elementos para a realização de fatos.
Um Narrador Personagem conta a história de
uma perspectiva de dentro da história, participa do enredo, é um dos
personagens, usa os pronomes ‒ eu ou nós ‒ para narrar. Quando um escritor
expõe um texto narrativo de sua autoria, usando o pronome eu, ocorre dos
ouvintes perguntarem se a história é verídica. Se a temática é contemporânea,
se o narrador for onisciente, tudo isso fará o leitor suspeitar se há certa
veia autobiográfica. O viés recorrente é a leitura de mundo que os autores
expressam na construção da ficção sob a própria percepção do momento social
vivido no cotidiano (que chamamos de realidade, costumeiramente).
A
narrativa pós moderna pressupõe que o lugar narrativo, (de onde e de quem parte
a história narrada) é mais apelativo do que o conteúdo anedótico daquilo que é
exposto, descrito e 'narrado'. A narrativa Pós Moderna se insere em tempos nos
quais livros de autoajuda se tornam best
sellers e seus autores se destacam em modalidades sócio profissionais
diferentes da de escritor... Ou seja, autor e narrador se fundem de tal forma a
confundir o aprendiz de literatura na distinção entre ambos.
O jogo
didático é um recurso adequado para estudar algo um tanto complexo, quer seja,
o da análise da voz do narrador como instrumento de interferência na
narrativa Pós Moderna.
O uso do
jogo didático aqui referido é a uma interpretação
do psicodrama sob um enfoque histórico-cultural. Moreno identificou três fases no
desenvolvimento de um papel: a primeira que é a tomada de um papel; a segunda
que é a fase em que se joga o papel e a terceira que ocorre quando se cria
sobre o papel. Quanto mais desenvolvido for o papel, maior será a
espontaneidade que ele apresenta, ou seja, maior a capacidade de dar respostas
novas a situações novas ou respostas adequadas a situações velhas. O fator
espontaneidade é passível de desenvolvimento na interação com os colegas de
aprendizagem, dadas as circunstâncias estabelecidas pelos contextos,
instrumentos e etapas do jogo dramático que configuram a atividade como
vivência de teor ético e estético.
Jogo para adultos. Utilização de
cartas do Tarô.
Anteriormente à aula de
04/04/2013, em Oficina de Criação Literária do NETI, a professora Edna convidou
duas alunas Contadoras de Histórias do Projeto do NETI a participarem do
preparo da aula. Léa e Dulci contaram dois fatos verídicos
transcorridos há algum tempo atrás, em cidades distantes de Florianópolis.
Os temas seriam relativos a comportamento e costumes. Os fatos referidos, de
preferência não deveriam ter sido vivenciados pela maioria dos participantes
que os conheceriam sob o viés dos relatos de Léa e Dulci. O texto de Léa
Palmira e Silva teve por título “Na Praia Grande”.O texto de Dulcireni Grein
Ferreira teve por título “Carmem e Ernesto”. Após ler as histórias
originais, cada participante escolheu uma para construir sua versão sob
o ângulo de um “personagem narrador” inspirado em um dos arcanos maiores do
Tarô de Marselha, anteriormente utilizado no jogo de criação de
personagens, durante o aquecimento utilizado na aula de 04 de abril.
Aquecimento: Você anda pela sala de
aula, experimenta os diferentes ritmos de caminhar. Faz de conta que anda
até a rua principal de uma cidade fantástica. Nessa rua: encontra com alguém
que lhe dá um cartão mágico (Carta do Tarô). Incorpora a figura da carta e caminha como
ela. Conversa em dupla, sendo esse personagem. Conversa em um quarteto. Apresenta
o quarteto aos demais participantes.
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O jogo a
ser aplicado em oficinas ou aulas regulares de redação: é rápido e fácil, em sua aplicação.
Para
iniciar o jogo, pede-se a algum participante que conte um fato verídico
transcorrido há muito tempo atrás e em alguma cidade distante do local no
qual ocorre a atividade. O fato deverá ser relevante à época na qual ocorreu,
podendo ser de extrema banalidade nos dias de hoje. Temas relativos a
comportamento e costumes são propícios, mas convém não rejeitar assuntos de
outra natureza. O 'passado' referido, geralmente não foi vivenciado pelos
jovens participantes que o conhecem sob o viés de relatos de familiares ou
de novelas de TV.
Após
ouvir o primeiro narrador, outros participantes são convidados a recontar a
história. Cada um a sua vez recebe a senha de fazê-lo sob o ângulo de um
personagem como um anjo, um fofoqueiro, um locutor de programa sensacionalista,
um religioso, um político,etc... A princípio, a senha é conhecida apenas por um
dos participantes.
Por força
dos narradores serem personagens tipos, o conteúdo anedótico da história
originalmente narrada é alterado significativamente. Por exemplo, em um
grupo no qual o jogo foi aplicado, optou-se por uma história que, originalmente,
terminava por suicídio. No entanto, ao ser reproduzida por alguém que recebera
a senha para fazê-lo assumindo a vez de um anjo, a história terminou com a
continuidade da vida harmônica de todos os personagens. Pessoa do grupo julgou
que a história tinha sido contada de forma errada, ao que o narrador (anjo)
respondeu que como anjo teve poder para proteger o personagem para que não se
suicidasse, podendo com isso alterar toda a história. É essa a natureza
performática do narrador a que, agora , se alude, aqui.