Escrever é simplesmente registrar o que
vivemos? Deve-se avaliar a utilidade de uma narrativa ou sua beleza? Histórias
ensinam comportamentos e atitudes? Histórias são puro entretenimento? É
possível desvelar intenções do (a) autor(a) tomando apenas o texto? É preciso
recorrer a dados biográficos do autor, para entender seu texto?
Sandra, Nestor, Valda, Eslávia, Léa,
Amaridis escreveram suas interpretações sobre a leitura de Sexta-Feira
Treze. Edna escreveu em respostas observações que tocam alguns tópicos da
teoria literária: ficção e realidade; catarse e leitura; emoção e razão na
literatura, 'destinatários' do texto e 'ensino' de valores.
Para entender os diálogos abaixo, leia
antes, no blog Aquece a Escrita, a postagem Sexta-feira
Treze, de Edna Domenica Merola. No link:
SANDRA: Oi, Edna. Bonita tua história com
H de sexta-feira 13. Toca fundo no coração tua relação com teu pai. A gente
cresce e aprende muito com essas vivências que nos acompanham a vida
toda. Né?
EDNA: Oi, Sandra, minhas
crônicas misturam ficção com realidade. Mas o amor pelo meu pai é verdadeiro
como você bem percebeu ao ler essa crônica do livro No Ano do
Dragão. (O amor pela minha mãe está retratado em outro
trecho do mesmo livro).
ESLAVIA: Obrigada por dividir com a gente.
No teu jeito espontâneo, querendo brincar com a própria sorte, sem esconder as
sequelas.
EDNA: Na minha experiência como escritora
acabo usando recursos do psicodrama o que dão um tom realista aos personagens.
Acredito que nenhuma escritora esconde
sequelas. No meu caso, por exemplo, uma sequela
evidente é a dos estudos que
faço desde 1982 e que imprimiu essa marca de ‘viver’ a ação (drama) do
personagem com verdade. Esse processo pode vir a gerar catarse, ou seja, é
libertador em potencial. Acredito que a catarse que ocorre pela leitura é fruto
da identificação do leitor com algo que ele escolhe (no texto) para abrir
canais de sintonia com a criação de outrem.
LÉA: Não podemos deixar de
imaginar as "sextas 13"! Elas nos revelam alegrias, tristezas e
algo mais que devemos aprender: o amor e a superação para uma vida melhor. Achei
muito linda a história do teu pai e a tua participação foi fantástica.
EDNA: As aprendizagens do campo da ética
por meio da leitura são por conta do leitor. Não há texto que garanta que uma
lição será extraída por todos que lerem. A “superação para uma vida melhor” é
uma decorrência da leitura (no nosso exemplo essa leitura foi feita pela Léa).
ESLAVIA: Desejo que vivas muitas
sextas-feiras treze ainda com ensejos bem mais positivos.
EDNA:
Oi, Eslávia, agradeço e retribuo seus votos. Faço-o por escrito, num contexto
de comunicação onde fica informado que nos conhecemos e interagimos socialmente
(isto é realidade compactuada). Já
a escrita literária é representação da realidade. Portanto, não é idêntica à
realidade. Duas pessoas diferentes poderão representar um fato ocorrido de
maneiras totalmente diferentes. Isto quer dizer que mesmo a representação de um
fato ocorrido pode não ter por referência uma
única realidade compactuada. Mas se as representações feitas por diferentes
sujeitos forem semelhantes, a referência tende a ser vista como a realidade compactuada.
NESTOR: Parabéns, professora Edna! Não tem
dia ruim contigo, mesmo sexta 13. Linda crônica, memórias do coração.
EDNA: A expressão "memórias do
coração" (se não me engano) foi cunhada por Nestor. Como Nestor bem disse
"memórias do coração" estão incluídas na crônica Sexta-Feira
Treze.
Pude constatar que a representação textual
que fiz do amor filial (em Sexta-Feira
Treze) encontraram ecos nas representações das pessoas. A partir daí fiquei
muito feliz com as observações expressas, já que o amor filial é um tema pertencente
à humanidade.
Algumas “memórias do coração” se fazem
presentes em minhas obras: No Ano do Dragão (2012) assim como
em A Volta do Contador de Histórias (2011) e De que são feitas
as Histórias (2014).
No entanto, as minhas crônicas misturam
fatos inventados com fatos que vi ou vivi e que conto do meu jeito (cada
contadora teria sua versão).
Não sou historiadora, minhas crônicas
podem retratar 'um tempo', mas não 'a verdade instituída' sobre esse tempo.
AMARIDIS: Como sempre, adorei ler um pouco de
sua juventude e de seu carinho, e senti seu cuidado em atender todos os
sentimentos que sabia que iria agradar e acalmar seu maravilhoso pai.
Entendi, que para você o dia treze foi a
partida... Para o Melhor Caminho - caminho da LUZ - da PAZ. Tenho certeza
de que ele ficou muito feliz pela sua
lembrança...
EDNA: A partida
para o caminho da Luz é a
interpretação dada por Amaridis sobre a morte que separa pai e filha. Trata-se
de uma inferência pautada na religiosidade da leitora. Mas não resta dúvida de
que o texto sustenta um tom de homenagem póstuma ao mencionar o sofrimento
terminal do pai que ‘descansou’ na madrugada da sexta-feira treze.
AMARIDIS: Entendi, que pra você o dia
treze foi a partida... Para mim, tenho sempre um pé atrás...
Sinto um GATO PRETO que me atrapalha. Coisas da vida, amiga.
O idealismo no sentido de termos fé em
nosso poder de persuadir leitores ou ouvintes por meio de histórias é bem
interessante. Vivemos num mundo em que (na maioria dos casos) os pais não são
mais os heróis de seus filhos. Mas não há porque abandonar a minoria que pode
ainda usufruir de sentimentos como o do amor filial.
Desta feita, para essa minoria
dedico Sexta-Feira Treze.
A minoria que cultiva o apreço e o amor
entre familiares, a meu ver, está
prestes a ser relegada. A sociedade atual, dessa forma, parece viver sua sexta-feira
treze.
VALDA: Sexta
feira treze: ano do dragão[...] tudo terminou com a perda do seu pai, mas também
começou a sua história de vivência de valores, pela compreensão de que seu pai
venceu o dragão[...] e se despediu feliz, por ter uma filha que ele admirava e
amava muito. Parabéns, Edna! Você foi muito especial para seu pai! Foi mais uma
história maravilhosa de vida, de amor e de saudade! Sexta- feira Treze: seu pai
e você venceram o dragão!
EDNA: No horóscopo chinês, o Dragão é
associado ao que nunca cessa de encantar a imaginação. Sua leitura sobre o amor
paterno e filial “como uma história maravilhosa de vida, de amor e de saudade”
é por isso bastante válida no sentido de buscar símbolos universais num texto
literário.
REFERÊNCIA
MEROLA, Edna Domenica. Sexta-Feira Treze. In: No Ano do Dragão. Florianópolis: Postmix. 2012. P 31.
Sexta feira treze ano de dragão.
ResponderExcluirEu respondo, ano em que um dia de sexta feira treze,tudo começou e tudo terminou, com a perda do seu pai, mas também começou a sua história de vivencia e de valores, pela compreensão de que seu pai venceu o dragão, através de sua amada filha Edna, eu afirmo que ele era feliz e se despediu feliz, por ter uma filha que ele admirava e amava muito, parabéns Edna você foi muito especial para seu pai!
Foi mais uma história maravilhosa de vida de amor e de saudade, sexta feira treze seu pai e você venceram o dragão!
Gostei de seu comentário e incorporei-o aos 'diálogos'.
Excluir