domingo, 15 de fevereiro de 2015

Diálogos sobre a Crônica 'Sexta-Feira Treze'. Edna Merola, Nestor Rech, Sandra Souza, Valda Valdemar, Amaridis Mello, Eslávia Hugentobler, Léa Silva.

Escrever é simplesmente registrar o que vivemos? Deve-se avaliar a utilidade de uma narrativa ou sua beleza? Histórias ensinam comportamentos e atitudes? Histórias são puro entretenimento? É possível desvelar intenções do (a) autor(a) tomando apenas o texto? É preciso recorrer a dados biográficos do autor, para entender seu texto? 
Sandra, Nestor, Valda, Eslávia, Léa, Amaridis escreveram suas interpretações sobre a leitura de Sexta-Feira Treze. Edna escreveu em respostas observações que tocam alguns tópicos da teoria literária: ficção e realidade; catarse e leitura; emoção e razão na literatura, 'destinatários' do texto e 'ensino' de valores.

Para entender os diálogos abaixo, leia antes, no blog Aquece a Escrita,  a postagem Sexta-feira Treze, de Edna Domenica Merola. No link: 

http://blogspot.com/2015/02/sexta-feira-treze-edna-domenica-merola.html


SANDRA: Oi, Edna. Bonita tua história com H de sexta-feira 13. Toca fundo no coração tua relação com teu pai. A gente cresce e aprende muito com essas vivências que nos acompanham a vida toda. ?
EDNA: Oi, Sandra, minhas crônicas misturam ficção com realidade. Mas o amor pelo meu pai é verdadeiro como você bem percebeu ao ler essa crônica do livro No Ano do Dragão.  (O amor pela minha mãe está retratado em outro trecho do mesmo livro).
ESLAVIA: Obrigada por dividir com a gente. No teu jeito espontâneo, querendo brincar com a própria sorte, sem esconder as sequelas.
EDNA: Na minha experiência como escritora acabo usando recursos do psicodrama o que dão um tom realista aos personagens. Acredito que nenhuma escritora esconde sequelas. No meu caso, por exemplo, uma sequela evidente é a dos estudos que faço desde 1982 e que imprimiu essa marca de ‘viver’ a ação (drama) do personagem com verdade. Esse processo pode vir a gerar catarse, ou seja, é libertador em potencial. Acredito que a catarse que ocorre pela leitura é fruto da identificação do leitor com algo que ele escolhe (no texto) para abrir canais de sintonia com a criação de outrem. 
LÉA:  Não podemos deixar de imaginar as "sextas 13"! Elas nos revelam alegrias, tristezas e algo mais que devemos aprender: o amor e a superação para uma vida melhor. Achei muito linda a história do teu pai e a tua participação foi fantástica.
EDNA: As aprendizagens do campo da ética por meio da leitura são por conta do leitor. Não há texto que garanta que uma lição será extraída por todos que lerem. A “superação para uma vida melhor” é uma decorrência da leitura (no nosso exemplo essa leitura foi feita pela Léa).
ESLAVIA: Desejo que vivas muitas sextas-feiras treze ainda com ensejos bem mais positivos.
EDNA: Oi, Eslávia, agradeço e retribuo seus votos. Faço-o por escrito, num contexto de comunicação onde fica informado que nos conhecemos e interagimos socialmente (isto é realidade compactuada). Já a escrita literária é representação da realidade. Portanto, não é idêntica à realidade. Duas pessoas diferentes poderão representar um fato ocorrido de maneiras totalmente diferentes. Isto quer dizer que mesmo a representação de um fato ocorrido pode não ter por referência uma única realidade compactuada. Mas se as representações feitas por diferentes sujeitos forem semelhantes, a referência tende a ser vista como a realidade compactuada.
NESTOR: Parabéns, professora Edna! Não tem dia ruim contigo, mesmo sexta 13. Linda crônica, memórias do coração.
EDNA: A expressão "memórias do coração" (se não me engano) foi cunhada por Nestor. Como Nestor bem disse "memórias do coração" estão incluídas na crônica Sexta-Feira Treze.
Pude constatar que a representação textual que fiz do amor filial (em Sexta-Feira Treze) encontraram ecos nas representações das pessoas. A partir daí fiquei muito feliz com as observações expressas, já que o amor filial é um tema pertencente à humanidade.
Algumas “memórias do coração” se fazem presentes em minhas obras: No Ano do Dragão (2012) assim como em A Volta do Contador de Histórias (2011) e De que são feitas as Histórias (2014).  
No entanto, as minhas crônicas misturam fatos inventados com fatos que vi ou vivi e que conto do meu jeito (cada contadora teria sua versão). 
Não sou historiadora, minhas crônicas podem retratar 'um tempo', mas não 'a verdade instituída' sobre esse tempo.
AMARIDIS: Como sempre, adorei ler um pouco de sua juventude e de seu carinho,  e senti seu cuidado em atender todos os sentimentos que sabia que iria agradar e acalmar seu maravilhoso pai. Entendi, que para você o dia treze  foi a partida... Para o Melhor Caminho - caminho da LUZ - da PAZ. Tenho certeza de que ele ficou muito feliz pela sua lembrança...
EDNA: A partida para o caminho da Luz é a interpretação dada por Amaridis sobre a morte que separa pai e filha. Trata-se de uma inferência pautada na religiosidade da leitora. Mas não resta dúvida de que o texto sustenta um tom de homenagem póstuma ao mencionar o sofrimento terminal do pai que ‘descansou’ na madrugada da sexta-feira treze.
AMARIDIS: Entendi, que pra você o dia treze foi a partida... Para mim, tenho sempre um pé atrás... Sinto um GATO PRETO que me atrapalha. Coisas da vida, amiga.
EDNA: A expressão sexta-feira treze que é o título do texto remete ao ‘gato preto’, a algo que atrapalha e que deixa com um pé atrás. No texto, isso é ilustrado pelo relato de duas perdas de intensidades diferentes: a de um amor platônico e a do pai. A primeira parece funcionar como um ‘truque narrativo’ para dar ênfase à segunda.
O idealismo no sentido de termos fé em nosso poder de persuadir leitores ou ouvintes por meio de histórias é bem interessante. Vivemos num mundo em que (na maioria dos casos) os pais não são mais os heróis de seus filhos. Mas não há porque abandonar a minoria que pode ainda usufruir de sentimentos como o do amor filial.
Desta feita, para essa minoria dedico Sexta-Feira Treze
A minoria que cultiva o apreço e o amor entre familiares, a meu ver, está prestes a ser relegada. A sociedade atual, dessa forma, parece viver sua sexta-feira treze.
VALDA: Sexta feira treze: ano do dragão[...] tudo terminou com a perda do seu pai, mas também começou a sua história de vivência de valores, pela compreensão de que seu pai venceu o dragão[...] e se despediu feliz, por ter uma filha que ele admirava e amava muito. Parabéns, Edna! Você foi muito especial para seu pai! Foi mais uma história maravilhosa de vida, de amor e de saudade! Sexta- feira Treze: seu pai e você venceram o dragão!
EDNA: No horóscopo chinês, o Dragão é associado ao que nunca cessa de encantar a imaginação. Sua leitura sobre o amor paterno e filial “como uma história maravilhosa de vida, de amor e de saudade” é por isso bastante válida no sentido de buscar símbolos universais num texto literário.

REFERÊNCIA


MEROLA, Edna Domenica. Sexta-Feira Treze. In: No Ano do Dragão. Florianópolis: Postmix. 2012. P 31.

2 comentários:

  1. Sexta feira treze ano de dragão.
    Eu respondo, ano em que um dia de sexta feira treze,tudo começou e tudo terminou, com a perda do seu pai, mas também começou a sua história de vivencia e de valores, pela compreensão de que seu pai venceu o dragão, através de sua amada filha Edna, eu afirmo que ele era feliz e se despediu feliz, por ter uma filha que ele admirava e amava muito, parabéns Edna você foi muito especial para seu pai!
    Foi mais uma história maravilhosa de vida de amor e de saudade, sexta feira treze seu pai e você venceram o dragão!

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