Florianópolis,
13 de agosto de 2015.
Prezada
A. F.,
Todo
o primeiro dia de um curso é como uma estreia de uma peça de teatro. Por mais
que nos sintamos aptos, ainda resta algo em processo que dá muita “adrenalina”.
Na
primeira aula, os olhares experientes dos alunos do N.E.T.I. parecem ter vozes
que indagam... Até dá para ouvi-los cantar os versos da música cujo título é:
“Angélica” e que o Chico Buarque dedicou a Zuzu Angel: “Quem é essa mulher...?”
Pois todos os alunos tentam descobrir o que podem esperar dessa professora que
ainda não os conhece...
E
a pergunta que não quer calar é mais ou menos assim:
–
Será que ela vai me reconhecer?
O
reconhecimento esperado pelos alunos experientes é mais do que ‘social’...
Penso que se espera ser reconhecido quanto ao grau de humanidade decorrente do
grande acúmulo de experiências existenciais. As pessoas que chegam aos cursos
do N.E.T.I. são em geral pessoas que já romperam com alguns preconceitos e
apostaram na possibilidade de aprender coisas novas e de conviver com pessoas
novas.
Espero
e acredito que nossa convivência será amistosa! Seja bem-vinda!
Atenciosamente,
Professora E.
Florianópolis,
20 de agosto de 2015.
A.
M.,
O
assunto ‘cabelo’ foi o ponto para que iniciássemos nosso primeiro diálogo.
Nossa imagem é também mensagem para possíveis interlocutores. Nós, mulheres,
lidamos com isso ao longo da vida. Quando nossa imagem começa a nos mostrar a
mesmice, lá vamos nós em busca de criações... E não nos intimidamos em recorrer
a sugestões das pessoas de nosso entorno.
Quando
eu tinha 17 anos fiz mechas nos cabelos... Meu pai me disse que um dia eu iria
querer ter os cabelos sem as mechas cinza. Isso de fato aconteceu em meu longo
período de “Henna”.
Mas
não ocorre agora, momento em que consegui entender plenamente a que meu pai se
referia: “É que tempo não retrocede e que os dias podem se tornar da mesma cor
se não agirmos com criatividade”. Por isso é preciso inventar como colorir
nosso cotidiano. Por isso é estimulante criar espaço para o novo no nosso
dia-a-dia.
Abraço,
E.
Florianópolis,
20 de agosto de 2015.
Prezado
integrante da Oficina Literária, A.,
Em
resposta ao sugerido na sua "singela missiva", ou seja, no texto
proposto na primeira aula do Curso de Criação Literária, volto a ter contato
com vocabulário formal (que parece ser o seu preferido). Também me aposentei
cedo e numa função burocrática (Supervisão de Ensino), mas voltei a exercer a
função de professora como voluntária no NETI, desde o início de 2013.
Escrever
"via qualquer atividade" consegue me tirar das tarefas que poderiam
me levar à mesmice, no dia-a-dia. Publiquei alguns livros com recurso próprios,
após a aposentadoria. Os mais recentes saíram pela editora Postmix. Mantenho
três blogs: Aquecendo a Escrita (2012), Netiativo (2013), Rede pró Educação e
Cultura de Idosos (2014).
Foi
com grande alegria que recebi seu contato como destinatária da carta supra.
Seus colegas que integram a turma 2015.2 das Oficinas de Criação Literária do
N.E.T.I. – advindos das mais diversas atividades – certamente ficarão felizes
por conhecê-lo melhor, após esse seu compartilhamento.
Também
pretendo manter o foco nos interesses e metas externados pelos alunos
principalmente porque alguns estiveram afastados das “carteiras” escolares
desde há muito, e também da Universidade e até aposentados há bom tempo.
De
antemão, posso inferir que, quanto aos aspectos cognitivos, não terá
dificuldade para acompanhar o andamento dos trabalhos das minhas aulas. A
convivência harmônica e a aceitação do outro serão os itens que desafiarão a
criatividade de todos, principalmente numa primeira fase em que os
participantes estão se conhecendo.
Com
igual atenção,
E.
Florianópolis,
21 de agosto de 2015.
Cara
P.,
Muito
prazer em conhecê-la. Gostaria de saber por que recebeu este nome ‘ao ser
inventada’. Sua criadora está de parabéns por ter lhe dado um nome grego, já
que foi por lá que a cultura ocidental teve seu berço.
Recebi
sua carta explicando sua expectativa quanto ao curso da Oficina Literária.
Destaco o fato de que deseja desenvolver o prazer pela escrita.
Fiquei
sabendo que gosta de ler. Gostaria de saber quais são seus autores preferidos,
para, a partir de um deles, poder sugerir como você poderia treinar seu papel
de escritora, diariamente.
Gostar
de criar com palavras implica em gostar dos sons que elas produzem quando são
pronunciadas e de como esses sons produzem combinações harmônicas, num poema ou
letra de música, por exemplos.
Gostar
de escrever implica em acreditar que você pode fazer algo por alguém que também
é capaz de retribuir. O esporte que você pratica já daria conta de manter seu
cérebro ativo. E penso que sua participação nas oficinas de criação literária
possa ser importante incentivo para as colegas que ainda não realizam
atividades físicas pelo menos três vezes por semana.
Se
eu fosse sugerir temas para sua escrita, talvez cometesse um erro didático,
pois você tem todas as aquisições necessárias para desenvolver seu papel de
escritora, sem que alguém seja sua tutora. Acredito que é necessário conhecer
profundamente algo para inventar sobre o tema. Você conhece profundamente o
papel profissional no qual se aposentou e tem por hobby (ou algo que vai além
disso) que é uma prática desportiva.
Ao
responder sua carta lembrei-me da obra de Fernando Sabino, em especial um livro
cujo título é Encontro Marcado e cujo personagem é um nadador. Lembrei-me
também de O Velho Homem e o Mar (de Hemingway). As lembranças que me ocorrem,
às vezes, parecem ser por acaso. Como não vou me delongar nos motivos,
aceitemos, por agora, o acaso.
Pelo
seu estilo objetivo e conciso penso que escreverá crônicas com facilidade, se
passar a praticar com empenho esta habilidade literária.
Devido
ao estilo homeopático de sua carta, encerro por aqui para não exceder na
dosagem.
Seja
bem-vinda ao mundo de Rubem Braga, Carlos Drummond de Andrade, Fernando Sabino,
Luís Fernando Veríssimo!
Professora
E.
Florianópolis,
22 de agosto de 2015.
Cara
C.,
Sua
carta é bastante reveladora do seu gosto pela leitura, pela escrita, pela
família, pelos ideais coletivos. Conta-nos suas experiências com diversos
campos acadêmicos e moradia em diversas cidades. É como você afirma “a carta
revela mais de uma pessoa, a caligrafia é pessoal, única”.
Você
está convidada a participar de uma ação do tipo social com idosas. É uma ação
esporádica, voluntária, e espontânea. Trata-se de visita mensal (sábado pela
manhã) a um asilo de freiras. Elas não necessitam de nada financeiro. Eu ia
usar a palavra material, mas me lembrei de que expressar afeto implica em
materialidade como a de um abraço sincero.
Hoje
foi dia de visita. Um senhor que é voluntário tocou teclado, uma senhora
voluntária e eu lemos versos da Irmã A. (poetisa) que fez 91 anos de idade.
Demos lembrancinhas para ela e para mais duas aniversariantes. As irmãs de uma
das freiras aniversariantes (e que vieram visitá-la) cantaram (em alemão)
canções que a maioria conhece e canta.
Uma
das irmãs que coordenava a recepção de nossa visita perguntou ao final o que as
freiras idosas tinham refletido. Então foi uma emoção muito grande ouvir as
vozes daquelas que saíram de seus quartos em cadeiras de rodas e permaneceram
quietas no salão onde ocorreu a reunião. Foram frases curtas sobre o que havia
acontecido lá. Havia na plateia mais de trinta idosas, três delas com mais de
cem anos.
Compreendi
melhor a relação de ajuda indo lá visitá-las. Só ajudamos quando conseguimos
trocar... Receber é também praticar solidariedade.
Obrigada
pela sua carta.
Com
receptividade, E.
Florianópolis,
24 de agosto de 2015.
Querida
Z.,
Foi
com imensa alegria que li sua carta. Deu para ler perfeitamente tudo o que
escreveu. Sua letra está bem legível, à revelia de como você disse não enxergar
mais a pauta, na folha. É importante continuar exercitando a escrita, pois
sempre será um meio a mais para você se comunicar com outras pessoas, e
compartilhar seu exemplo de superação.
No
primeiro dia de aula, quando você me disse que estava fazendo uma experiência,
lembrei-me de casos de alunas que se inscrevem em dois cursos e comparecem nas
respectivas aulas iniciais e abandonam o que consideram menos agradável do que
o outro. Mas você veio para me mostrar o inverso. Veio para me mostrar que há
pessoas que valorizam o seu próximo a tal ponto que apostam positivamente no
contato com o outro.
Quando
eu disse que eu também estava fazendo uma experiência é porque a primeira aula
é decisiva para a elaboração de um planejamento de um curso para uma turma
específica. Mas na verdade, eu estava ingressando nesse convívio prazeroso que
é compartilhar com quem quer compartilhar.
Obrigada
pela sua presença, Z.
Um
abraço, da E.
Florianópolis,
26 de agosto de 2015.
Querido
aluno A. M.,
Como
bom “manezinho” o senhor tem a facilidade de provocar a dispersão e o riso na
sala de aula. Em minhas aulas tem segurado essa veia artística da cultura
florianopolitana e reservado para os momentos das atividades no palco ou no
teatro. Isso tem colaborado para mantermos nossa empatia e respeito mútuo.
Fiquei
muito contente por ter aceitado fazer e entregar as tarefas.
Penso
que ao dedicar-se à escrita irá ter um grande ganho existencial e oportunidade
de fazer amizades também entre os alunos do NETI.
Também
agradeço sua presença e seu trabalho! Deus abençoe também a sua vida com muito
amor, paz e saúde.
Professora
E.
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