Em 01/11/2016, na aula da disciplina "Produção Textual Acadêmica", a autora desta postagem fez parte integrante de um pequeno grupo que apresentou uma breve exposição sobre o tema "A Produção Textual na Escola". O trabalho teve a orientação da Professora Josa Coelho da Silva (UFSC/CCE).
Segundo
Antunes (2003), a prática escolar ainda não incorporou alguns princípios:
•
A escrita é interativa, dialógica, dinâmica, negociável. Pressupõe envolvimento
entre sujeitos, parceria e encontro de informações, ideias, intenções, crenças
e sentimentos. A escola deve ampliar as percepções, sensações e informações dos
sujeitos aprendizes para que usem a palavra como mediação de seu próprio
repertório.
•
A linguagem é um ato social, a escrita existe para propiciar a comunicação
entre sujeitos. A escrita é um ato de linguagem que implica em consequências. A
escola deve agir no sentido de que o aluno alcance a percepção de que a escrita
está presente: na família, no emprego, na escola; assim como também no registro
científico, cultural e histórico.
•
A escrita escolar deve cumprir as etapas: planejamento, operação (prática da
atividade) e revisão (análise ou reescrita). O planejamento pressupõe:
delimitação do tema; eleição de objetivos; escolha do gênero; estabelecimento
de critérios para ordenar as ideias; definir quem será o leitor e adequar a
forma linguística. A operação implica na escolha das palavras e das estruturas
das frases em conformidade com a situação de comunicação e com a garantia do
sentido, da coerência e da relevância. Na revisão (reescrita), procede-se à
análise do que foi escrito para decidir o que irá permanecer, o que será
eliminado e o que será reformulado. Corrige-se a concatenação entre as partes
(períodos, parágrafos, blocos de parágrafos), assim como os aspectos
sintáticos, semânticos, pontuação, ortografia.
•A
prática docente deve prover: a escrita autoral e social dos sujeitos
aprendizes; uso das regras sociais de circulação do texto; construção
metodológica das etapas (planejar, escrever, revisar); orientar para a
coerência global – coesão, coerência, conteúdo informativo, clareza, concisão;
adequação de aspectos da superfície do texto.
Antunes
conclui que considerar os pressupostos apontados implica no aproveitamento da
carga horária de português para a formação do cidadão, em detrimento do treino
de pormenores gramaticais sobre a sintaxe ou a fonética.
Segundo
Geraldi (1997),
•
a produção de textos é crucial para o ensino/aprendizagem da Língua. Essa
atividade é diferente da redação que é uma tarefa feita pelo aluno tendo por
interlocutor apenas a escola.
•
Ao analisar uma aula (Descrição), Geraldi relata que a professora utilizou duas
“instruções”– “a) a descrição de uma pessoa deve conter aspectos físicos e
psicológicos” e “b) na descrição não há lugar para a invenção.” (p. 148).
• As
instruções dadas ignoraram “que as atividades discursivas de um objeto são
reguladas a) pela finalidade da descrição; b) pela natureza do objeto da
descrição; c) pelos interlocutores a que a descrição se destina; d) pelas
representações que faz o locutor do objeto que descreve.” (p. 148). Essas
representações, por sua vez, “produzem um ‘pré-construto cultural’ que orienta
a atividade descrita, segundo dois eixos: um eixo sociológico, responsável pela
prática, pelo ideológico e pelas matrizes culturais, e um eixo cognitivo,
responsável pelas abstrações, generalizações e simbolizações.” (p. 149).
A crítica de Geraldi à professora que diz que "na descrição não há lugar para a invenção" pode ser lida à luz de Bakhtin. A prática docente deveria levar em conta o que Bakhtin diz sobre a “forma espacial da personagem” valendo-se do "excedente da visão estética":
A crítica de Geraldi à professora que diz que "na descrição não há lugar para a invenção" pode ser lida à luz de Bakhtin. A prática docente deveria levar em conta o que Bakhtin diz sobre a “forma espacial da personagem” valendo-se do "excedente da visão estética":
Quando contemplo no todo um homem situado fora e diante de mim, nossos horizontes concretos efetivamente vivenciáveis não coincidem”. ... esse excedente da minha visão... é condicionado pela singularidade e pela insubstitutibilidade do meu lugar no mundo: porque nesse momento e nesse lugar, em que sou o único a estar situado em dado conjunto de circunstâncias, todos os outros estão fora de mim. (BAKHTIN, p 21, 2010).
•
Para que o ensino seja conhecimento e produção é necessário que o aluno seja
tomado como locutor efetivo, conforme esquema de Geraldi:
Gedoz
(2016):
•
Propõe o trabalho com os gêneros a partir da esfera do cotidiano. Parte do
diagnóstico da produção de texto para instigar a reflexão sobre a organização
textual e ampliar as possibilidades da escrita do aluno. Constrói atividades
com o objetivo de clarear as informações e possibilitar a progressão textual.
•
Sua pesquisa-ação sobre o ensino da análise linguística cumpriu as etapas:
a)
Alunos do 7º ano pesquisaram um causo, junto a amigos e familiares, e o
recontaram por escrito (1ª versão); b) pesquisadora leu os textos e elaborou
lista de controle/constatações atendendo ao gênero textual Causo; c) Alunos
escreveram a 2ª versão sob a égide da lista de controle/constatações;
d)pesquisadora tabulou as dificuldades apresentadas, elaborou e desenvolveu atividades didáticas com os
alunos. e) alunos escreveram a 3ª versão.
•
Gedoz relatou atividades pautadas nas dificuldades que constaram do texto do
aluno “José”. A atividade de pontuação seguiu os passos: a professora digitou o
primeiro parágrafo do texto de “José”, enumerou seus segmentos e solicitou:
“Sem alterar a ordem das informações, tente reescrever o parágrafo dividindo-o
em cinco partes conforme apontado pela numeração colocada pela professora. Use
ponto final para separar cada uma das partes e vírgulas onde julgar
necessário.” (p 1234).
•
Portanto, a prática docente deve considerar o aluno como sujeito da relação
interlocutiva; cumprir as etapas: planejamento, operação e reescrita –
vinculada à análise linguística pautada no diagnóstico da produção discente.
Antunes,
Geraldi e Gedoz indicam que a prática dos professores de Português contemple os
princípios:
Ensino
contextualizado nos gêneros discursivos como construtos históricos e culturais.
Prática pautada na visão de que o pensamento anterior é o ponto de partida;
nesse há a valorização do conhecimento historicamente construído.
Os
mediadores culturais (professores e outras pessoas, tecnologias, acervos)
promovem o desenvolvimento atual em relação a um desenvolvimento posterior, já
que todo desenvolvimento ‒ com a intervenção do outro ‒ pode passar a um novo
desenvolvimento.
REFERÊNCIAS
ANTUNES,
Irandé. O trabalho com a escrita. In: Aula de Português – encontro e interação.
São Paulo: Parábola Editorial, 2003, p. 26- 27.
BAKHTIN,
Mikhail. Estética da Criação Verbal.
Trad. Bras. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2010.
GEDOZ,
Sueli. Linguística e Reescrita Textual: articulando encaminhamentos. Fórum
Linguístico, Revista Linguística, 2016, vol. 13, n. 2. Disponível em https://periodicos.ufsc.br/index.php/forum/article/view/1984-8412.2016v13n2p1225
Nenhum comentário:
Postar um comentário