quarta-feira, 13 de março de 2019

O emergente exercício pela paz. Edna Domenica Merola

Quando o ataque às Torres Gêmeas reproduziu um "game" o mundo ficou alarmado, mas a cultura estadunidense continuou belicosa.
Hoje perdi uma colega de profissão, em Suzano (SP). Uma coordenadora pedagógica faleceu  vítima de mãos armadas, no exercício de seu trabalho e junto com seus alunos.
Não a conheci, mas imagino perfeitamente como era sua vida e a vejo andando pelo prédio escolar, visitando diferentes salas ou trabalhando muito em sua própria mesa. Suas tarefas além da supervisão pedagógica do trabalho docente englobavam o atendimento à comunidade escolar e a orientação educacional. Mas uma autoridade federal achou que ela deveria estar armada para defender-se e aos alunos. (Surreal!). Senti raiva dessa autoridade e por isso repudio tal fala leiga em educação e nota zero em direitos humanos. Nossa profissão não exige escola de tiro, já que isso implicaria na perversão dos conhecimentos obtidos durante a licenciatura, o bacharelado, o mestrado, o doutorado! E não desejo que isso venha a acontecer. 
A raiva forte se traduz em choro e, em seguida, me preocupo em não deixar que a emoção escoe em vão. Volto a manifestar minha indignação (como já o fizera anteriormente à tragédia) e a expressar opinião contra o armamento civil.
No Brasil de hoje (que optou por andar de mãos dadas com os EUA de Trump), os cidadãos precisam urgentemente recobrar o amor e o respeito à vida. Torna-se imprescindível refletir sobre as causas que levaram vidas as serem cruelmente surrupiadas. 
Tal empreita exaustiva sugere ampla reflexão. Seguindo o raciocínio dedutivo, isto é, começando pelo macro, pretendo esboçar a provocação de discussão do tema à luz do modelo econômico, quer dizer, da cultura capitalista que traduzida para hoje implica em belicosidade e consequente desprezo pela vida do outro.
Escrevo com imenso pesar, mas me consolo com o dever sobrevivente de analisar o que me couber dentro de minha área de atuação e o que puder a partir de meu momento e possibilidades existenciais. Este blog tem por tema as artes (seu foco principal é o literário) e dele abstraio uma questão pertinente: os efeitos das representações da realidade sobre a realidade compactuada e sobre as vivências pessoais.
Como a tragédia sugere um amplo debate que não se esgota aqui (e nem se esgotará tão cedo em lugar algum, infelizmente), para ilustrar esse primeiro item, trago um documentário cuja qualidade é a de suscitar polêmica. Discutir altera o estado de torpor que a dor intensa provoca, é um primeiro passo que ajuda a elaborar a primeira fase de uma perda que é a de vencer a negação.
Tiros em Columbine (Michael Moore, EUA, Canadá) foi o primeiro documentário a ser selecionado para a mostra de Cannes em 46 anos. Na Mostra SP de Cinema, foi intitulado Jogando Boliche em Columbine. Apresenta os efeitos da fascinação dos americanos pela cultura bélica. Aborda o fato de que onze mil pessoas são vítimas de armas de fogo, anualmente, nos Estados Unidos. A maior parte dos moradores de pequenas cidades (tal como Littleton) tem arma em casa. Dois adolescentes pegaram as armas dos pais e mataram 14 estudantes e um professor no refeitório do colégio Columbine (em Littleton). Mostra também uma visita ao presidente da Associação Americana do Rifle (ator Charlton Heston), e um Banco (e empresa comerciante de armas) que dava arma de brinde para quem se tornasse cliente.
O filme é, portanto, uma crítica à indústria de armamento e à cultura da belicosidade. E, consequentemente, ao capitalismo selvagem que protege apenas os lucros e desdenha da pessoa humana.
Disponível em
https://www.youtube.com/watch?v=X5QwnQUqZeA&oref=https%3A%2F%2Fwww.youtube.com%2Fwatch%3Fv%3DX5QwnQUqZeA&has_verified=1


Tal documentário não dá conta de provocar efeitos em processos internos como as grandes obras artísticas conseguem eliciar. Nesse sentido lembro Guernica (PICASSO, 1937) que se ergue contra a violência.  
Para que este trabalho não se torne uma mortificação para mim, por não dar conta da ampla demanda de análise, vou em busca do possível. Percebo que tenho que dar conta, do sentimento de raiva e procurar, na indignação, o avesso da raiva. 
Opto, então, pelo raciocínio indutivo, parto do micro, isto é, me proponho a elaborar algo existencialmente útil a quem posso tocar com as mãos a exemplo de:
‒ uma amiga que não tem o hábito de assistir filmes; 
‒ um especialista em cinema que desdenha da produção de Michael Moore;
‒ uma pessoa violenta/dócil daquelas que gostam de dar tapa com luva de pelica, como alguém que se dirige a outra pessoa, na sua frente, e forma uma dupla de opinião contra a sua, mas sem lhe dar o direito de participar da conversa.

Em decorrência desse movimento interno e à luz do meu projeto de vida (que não tem por meta fortalecer sectarismos), elaborei o seguinte exercício de imaginação dirigida:

"Em posição de relaxamento, respire profundamente (sinta o movimento da respiração no abdômen). Pense em uma atitude que provoca que o outro se sinta rejeitado. Imagine uma tela em branco. Agora projete nela ato para gerar no outro o sentimento de aceitação. Compare como você se sente ao provocar rejeição e ao promover aceitação. Imagine nova tela em branco e pense em uma atitude que faz com que o outro se sinta desdenhado. Imagine nova tela em branco e pense em uma atitude que faz com que o outro se sinta valorizado. Compare como você se sente ao vitimar o outro com o seu desdém e ao oferecer valorização para o outro. Imagine nova tela em branco e pense em uma atitude que faz o outro se sentir ignorado. Imagine nova tela em branco e pense em uma atitude que faz com que o outro perceba laços de amizade. Compare como você se sente ao mostrar para o outro que o ignora e ao oferecer amizade. Imagine nova tela em branco e pense em uma atitude que faz com que o outro se sinta isolado. Imagine nova tela em branco e pense em uma atitude que faz com que o outro se sinta pertencente ao grupo. Compare como você se sente ao mostrar para o outro que quer que ele viva isolado e como fica quando deseja que o outro pertença ao grupo.
Imagine que um número imenso de pessoas vibra pela paz no planeta. Entre nessa atmosfera. Imagine outra tela em branco. Nela, veja alguém poderoso fazendo uma ação construtora de paz. Imagine agora uma ação pela paz compatível com suas possibilidades e que beneficiará o seu entorno. Imagine agora um gesto que você irá concretizar para gerar energia de amor em seu ambiente.”

Concretize o gesto no máximo 24 horas após a mentalização.




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