Chegou março e com ele águas esporádicas efervescem sobre o solo de final de verão. Também chegaram novos
convívios que estimulam reflexões e incitam levantes existenciais. Conheci a Coluna
Cine&Séries dentro do Portal Making Of assinada pela jornalista Brígida Poli (portalmakingof.com.br/cine-e-series)
e chegaram os filmes por ela lembrados em função do dia da Mulher (- portalmakingof.com.br/elas-tem-a-forca):
‒ Rosa Luxemburgo (1986)
O filme é biografia de Rosa
Luxemburgo (1871-1919), conhecida como Rosa, a Vermelha. Foi uma militante
marxista e teórica representante do pensamento e da ação socialdemocrata na
Europa. Foi uma das fundadoras da Liga Spartakus, embrião do
futuro Partido Comunista Alemão. Ressalto (por ser oportuno à
análise do momento brasileiro) que Rosa foi antibelicista e lutou para impedir
a Primeira Guerra Mundial do século XX.
‒ Malala (EUA,
2015)
É um documentário que refere a Malala Yousafzai, militante
pelos direitos da infância; jovem que ousou falar, na ONU, sobre as
consequências da educação das mulheres paquistanesas.
‒ Nise
- O Coração da loucura (2015)
O filme retrata a trajetória
ímpar da psiquiatra Nise da Silveira, a partir do início dos anos 1940, época em
que os manicômios usavam técnicas tais como o eletrochoque, a insulinoterapia e
a lobotomia. Por não ter aceitado os
métodos tradicionais para tratar esquizofrênicos, foi rejeitada pela equipe de
psiquiatria do hospital e enviada para o setor de terapia ocupacional. No porão
do hospital, criou um espaço de recuperação para os seus pacientes.
‒ A história de Joana D´Arc (1999)
Filme dirigido por Luc
Besson. Biografia de Joana Milla Jovovich, mais conhecida como Joana D´Arc,
nascida em Domrémy, França, em 1412. Jovem detentora de uma religiosidade
intensa nos tempos da Guerra dos Cem Anos. Após a morte dos reis da França e da
Inglaterra, Henrique VI é o novo rei dos dois países, mas tem poucos meses de
idade. Os ingleses invadem a França e ocupam Compiègne, Reims e Paris. Joana
D´Arc intitula-se a Donzela de
Lorraine e determina ter a
missão divina de libertar a França dos ingleses, em 1431. O delfim francês
resolve lhe dar um exército, com o qual Joana d´Arc recupera Reims, onde o
delfim é coroado Carlos VII. Mas Joana d´Arc acabou traída pelos seus pares,
presa, torturada e queimada na fogueira sob a acusação de blasfêmia.
‒ Zuzu Angel (2006)
Filme dirigido por Sérgio Rezende que narra a história das
buscas da estilista Zuzu Angel pelo seu filho: um jovem militante carioca que
foi assassinado durante a ditadura militar. A busca de Zuzu teve por
consequência sua morte, provocada pelos repressores. Chico Buarque homenageou
Zuzu Angel, um ano após sua morte, com a música Angélica. Vide a letra: “Quem
é essa mulher / que canta sempre esse estribilho / só queria embalar meu filho
/ que mora na escuridão do mar / Quem é essa mulher / que canta sempre esse
lamento / só queria lembrar o tormento / que fez o meu filho suspirar / Quem é
essa mulher / que canta sempre o mesmo arranjo / só queria agasalhar meu anjo /
e deixar seu corpo descansar / Quem é essa mulher / que canta como dobra um
sino / queria cantar por meu menino / que ele já não pode mais cantar”.
‒ A
História Oficial (Argentina,
1985)
Em Buenos Aires, na década de 1980, uma professora de
história casada é mãe adotiva de uma menina. A professora vive alheia à
política, até reencontrar uma velha amiga que acaba de voltar do exílio. A
partir daí descobre que os filhos das mulheres militantes foram afastados de
suas mães pelo governo, durante a ditadura. Decide, então, buscar pistas sobre
a misteriosa origem de sua filha.
Segundo Brígida Poli, há farta literatura sobre o movimento
argentino das Abuelas da Plaza de Mayo,
destaque à versão para Chicas. Trata-se
de "lembrar para não repetir os horrores da ditadura". As avós da
Praça de Maio "buscam incansavelmente os bebês roubados dos seus filhos
mortos pela ditadura na Argentina. Houve cerca de 500 casos. As avós
conseguiram reconhecer 128 netos. Hoje restam cerca de quatro dessas senhoras,
as demais já morreram sem conhecer/rever os netos. Há uns quatro anos, quando
Stella Carlotto, presidente do Abuelas, conheceu
o neto," a jornalista se emocionou como se fosse alguém de sua família.
Ela considera ser esse "um levante digno de ser lembrado.”.
Documentário sobre Simone de
Beauvoir (1908-1986 Paris). Conhecida como autora de O Segundo
Sexo (1949) tratado sobre a opressão das mulheres e o feminismo
contemporâneo.
O documentário está
disponível em:
Para gostar de ler Simone de Beauvoir, Edna recomenda o romance Os Mandarins em
que a autora francesa aborda o período imediatamente posterior à Segunda Guerra
Mundial do século XX, e o faz do ponto de vista das incertezas vividas por
parceiros amorosos, além de trazer o ideário militante como determinante
dos vínculos entre amigos (tema
bem adequado ao cenário brasileiro, hoje). Retrata, numa personagem quase
caricatural, a mulher que vive à sombra de seu parceiro e que acaba por ter
problemas psicológicos devido à incompetência de gerir a própria vida.
Apresenta a superação da protagonista: mulher independente que vence o ímpeto
de suicidar e continua a labutar pela existência.
– Cafarnaum (Líbano, França, 2019)
A revolta sentida por Zain
(12 anos) quando sua irmã de onze é forçada a se casar com um homem mais velho,
leva-o a deixar o cortiço onde mora com os pais e os irmãos. Ele passa a viver
nas ruas e descobre a realidade enfrentada por crianças que não chegaram lá por
escolha própria.
Segundo Edna,
a “exploração” da menina pelo casamento negociado e a reação do irmão presentes
em Cafarnaum (2019) fazem do filme um
clássico já que isso o aproxima por referência a Crime
e Castigo de Dostoiévski
(1866).
‒ Para indicações de filmes de amor pautados em livros, leia a coluna da Brígida Poli de 12/3/2019, disponível em portalmakingof.com. br/histórias-de-amor-dos-livros-para-as-telas
O jornalista, produtor cinematográfico e
professor Gilberto
Pinto da Motta indica os
filmes:
‒ Limite (Mário Peixoto, 1931)
Num barco perdido no mar, um
homem e duas mulheres, confinados em um espaço onde tudo é limite, narram suas
histórias de vida.
‒ Que horas ela volta? (Anna
Muylaert, 2015)
Comédia de cunho social que
retrata a vida de uma empregada doméstica que veio de Recife e mora no emprego
em casa de família de classe média alta, em São Paulo. A doméstica criou o
filho dos patrões como se fosse seu, mas jamais colocou os pés na piscina da
residência. Tal dinâmica familiar é quebrada com a chegada da filha da
empregada em São Paulo, para se preparar para o vestibular. A jovem
desestabiliza a vida de sua mãe ao cativar o pai e o filho e por à prova a
autoridade da patroa.
‒ O Grande Circo Místico (Cacá Dieguez, 2019)
O filme é uma
transcodificação do livro de Jorge Lima. O personagem Celavi é o mestre de
cerimônias que narra a história de cinco
gerações de uma família circense, de 1910 até hoje. Nas palavras de
Gilberto Motta "estamos aqui e ali e lá e acolá... todos vivemos por um
sopro de luz, um triz no equilíbrio possível da equilibrista neste grande circo
místico. Gratíssimo, Jorge de Lima, pelo livro-poema, ao Cacá Diegues pelo
filme recente e especialmente ao Edu Lobo e ao Chico Buarque pela estupenda
trilha sonora de canções eternas.". Disponível em
O antropólogo, fotógrafo,
escritor e tradutor Roberto
Cattani refere ao filme:
‒ A fonte das mulheres (Radu
Mihaileanu, 2012)
Num vilarejo entre o Norte da
África e o Oriente Médio, a tradição islâmica de buscar água na fonte é de
repente contestada por tratar-se de um local distante e de difícil acesso, e
porque enquanto elas desempenham essa tarefa, os homens matam o tempo bebendo e
falando da vida. A jovem Leila é alfabetizada e revela que a melhor maneira de
reverter a situação é fazer greve de sexo. O movimento do grupo de mulheres interfere nas
relações entre os habitantes e provoca uma mudança culturalmente significativa
nas vidas das pessoas do povoado.
‒ Gulabi Gang (2012)
Documentário ”sobre o
movimento de autodefesa das mulheres da Índia, que cresceu até ter mais de 400
mil membros (mulheres, mas homens também)”.
Em janeiro, a Gulabi Gang organizou o muro das mulheres:
uma corrente humana de 620 km, com centenas de milhares de mulheres, para
protestar contra a interdição das mulheres num tradicional templo hindu.
‒ Botin de Guerra (2000)
Documentário sobre as Abuelas da Plaza de Mayo que apresenta falas de crianças encontradas, mostrando os danos
psicológicos causados por não saber do paradeiro dos familiares.
‒ A Encantadora de Baleias (In The Whale Rider (livro 1987; filme 2002). Livro de
autoria de Witi Ihimaera (traduzido para o português por Roberto Catani, publicado em
2012). Uma tribo maori, em Whangara, na Costa Leste da Nova Zelândia acredita
descender do “cavaleiro da baleia”. A sucessão da chefia é sempre por um
herdeiro masculino, mas uma menina luta por essa sucessão usando o dom de se
comunicar com as baleias.
Querida Edna, antes de qualquer reflexão de valor, gostaria de agradecer-lhe a citação e a parceria prazerosa vivenciada em nosso Grupo de Atelie de Escrita. Pois então, os levantes...NOSSA! Poderíamos buscar referências e refletir sobre o tema por anos a fio sem qualquer possibilidade de esgotamento. Viver é o maior dos levantes. Vamos tocando em frente o barquinho, minha querido. Forte abraço.
ResponderExcluirEdna, muito obrigada pela citação da coluna, onde dou semanalmente meus pitacos sobre filmes e séries. Aproveito o tema do teu post para recomendar a edição com filmes sobre mulheres fortes. De Joana D´Arc a Zuzu Angel, passando por Rosa Luxemburgo,Evita Perón, Simone de Beauvoir etc... Segue o link : portalmakingof.com.br/elas-tem-a-forca
ResponderExcluirBrígida