terça-feira, 7 de outubro de 2025

Sarau de Outubro - por Edna Domenica Merola

 Antonio Gil Neto apresenta 'ras" de Rosilene Souza

 

ras

rindo apanhei-me sozinha. justamente, quando o sol sorrateiramente raiava.

 

ruminei atrapalhada de sereno. ao remar arquejante de suor. rosada aspirei de

 

soslaio. rejeitando aquele sorvete. raivosa aceitei a sorte e risonha apareci de

 

surpresa.

 

rosilene Souza

 

Rosilene Souza. Mineira, desenvolve pesquisa nas linguagens artísticas: colagem, escrita criativa, fotografia e deficiência visual. Investiga o excesso de imagens e escritas consumidas e produzidas na sociedade. Participa de exposições, feiras e mostras de Arte. Tem trabalhos artísticos e literários publicados em revistas, livros (coletâneas “Do corpo ao corpus, organização Edna Merola, 2022”, “Ninguém escreve por mim”, organização Claudio Carvalho, 2024; catálogos e blogs. Contos e ilustrações publicados pelo Café Literário Notibras (2025).                                                                                                                                          

 Rosilene lê texto de Antonio Gil Neto                                                                                                                                                                                                                       Antonio Gil Neto nasceu em Taiaçu, cidadezinha do interior paulista, em 1950. Graduou-se em Pedagogia e Letras. Ainda jovem, mudou-se para São Paulo, onde construiu sua carreira profissional na área da Educação. Atuou em projetos de formação de educadores e em publicações didáticas vinculadas ao ensino de língua. Autor de livros de literatura juvenil: A flor da pele e Cartas Marcadas, (Ed. Cortez/SP) e também organizador e autor de A memória brinca: ciranda de histórias do ensino municipal paulistano, (Imprensa Oficial/SP). No primeiro livro que escreveu – Brado Retumbante, (Ed. Olho d’Água/SP) – teve a graça de receber na contracapa generosas palavras de Paulo Freire. Participou da coletânea Tudo poderia ser diferente – inclusive o título, e-book Amazon, 2022. Também em 2022, publicou seu primeiro livro de poemas Inéditos, inexatos – uma coleção de água e vidro, pela editora Folheando. Depois publicou os livros de poesia: “Sem saber o Amor” (Ed. Primata), “Desertos, Pássaros, Quintais” (Caravana Editorial), “Silêncios, seus estilhaços de seda” (Ed. Folheando), “Água, pedra, flor” (Mondru Editora).

Gilberto Motta apresenta "Memórias auditivas". Texto de Edna Domenica

 

Certo dia, ao vasculhar minhas memórias auditivas, coletei ecos das criações de: Caetano Veloso, Alberto Ribeiro e João de Barro; Francisco Dias Ribeiro e Antonio Maciel do Espírito Santo; Roberto Carlos; Chico Buarque de Holanda; Jessé; Cartola; Claude Joseph Rouget de Lisle; Evaristo da Veiga e D Pedro I; João Donato e Lyrias Ênio. O leitor poderá identificar apenas alguns desses autores e outros não. Pois desses, só tomei por citação as notas musicais que acompanham as palavras de suas criações. Confira a seguir:

 Caminhando contra o vento

Quero compor com você

Qual cisne branco compõe com a lua

Quero compor com você

 

Vou chafurdar nas suas notas

Que estavam à toa na brisa

E recolhi com labor

Para compor com você

 

Ei, ei, galera, que em noite apagada,

Fica ao relento no vento sul …

Vem, que a sede de criar te faz melhor…

Vem, que o vento é provento

Brisa que vem e que vai,

Unindo forças com o vento, quero compor com você!

 

Porque as horas não falam,

simplesmente, as horas exalam,

quero compor com você

 

Onde um botão em flor eu vi, vivi…

Quero compor com você

Nesta terra de brava gente

Quero compor com você

 

Até um dia, até talvez, até quem sabe.

Mais uma vez…

A herança do meu coração…

Quero deixar pra você

Quero cantar com você

Quero compor com você.

 

Referência:

MEROLA, E.D.; De que são feitas as histórias, Postmix, 2014, PP 33-34.

 

Edna Domenica gosta de música. Considera que “escrever é uma empreitada existencial desafiadora […], uma tarefa árdua, um afeto prazeroso, um ato de cidadania”. Paulistana, desenvolveu pesquisa sobre Psicodrama e suas aplicações em oficinas de escrita criativa, publicadas em Aquecendo a produção na sala de aula (Nativa, 2001), De que são feitas as histórias (Postmix, 2014), Relógio de Memórias (Postmix, 2017). É autora de Cora, coração (Nova Letra, 2011), A volta do Contador de Histórias (Nova Letra, 2011), No Ano do dragão (Postmix, 2012), As Marias de San Gennaro (Insular, 2019), O Setênio (Tão Livros, 2024).

 

Edna apresenta "Confissão/confusão"- texto de Gilberto Motta

 

                         MANHÃ clareia  a noite pariu o dia as aracuãs namoram na minha janela enquanto o Sol chega de mansinho morninho morninho trazendo o contraste das formas a definição da vida que gira e gira na pista das estrelas no universo de rotas traçadas com lápis de giz de cera em papel crepon rabiscando antigas e novas civilizações como num filme distópico cravado de enredos velozes multifacetado o espaço é infinito sem eira nem beira na dimensão de mundos a serem descobertos pilotando a nave louca em busca de luz no breu das galáxias e la nave vá e tudo gira e a vida segue e sempre seguirá como uma batida perfeita do violão de João Gilberto em harmonias celestiais enquanto Hermeto sopra a chaleira genial e Paulo Freire educa marcianos e venusianos saídos de outra S-fiction o som orienta as rotas e as trilhas da Nova Era misturando notas bemóis sustenidas diapasão de desafios afinados desafinados dentro e fora do tom nestas veredas onde já não há mais métricas nem confusão nem pontuação

  

Gilberto Motta nasceu e cresceu em um pequeno circo teatro no interior de São Paulo. Jornalista, repórter de rádio, TV, jornais e revistas; professor universitário e vide documentarista premiado por direção e roteiro. Aposentado, vive e escreve de uma pequena cabana na vila de pescadores da Guarda do Embaú, SC.

 

Publicações:

– Crônicas e contos, Revista Vírgula, Faculdade Cásper Líbero, SP, entre 1979 e 1982.

– O modal de transportes no Sul do Brasil, dissertação de Mestrado, UFSC, Florianópolis, SC, 2000.

– Miolo (Cânticos para ninar pirados e piradas), Prêmio Sinergia SC, contos/coletânea 2000.

– Narrativas audiovisuais: Construção/Desconstrução/Reinvenção (Ganchos 88...e deu boi nas cabeças), ensaio acadêmico. Ed. Unimar SP, 2008.

– A Incrível Jornada da Menina Careca, romance infanto juvenil, Amazon, 2009.

– Céu de Vaga-lumes e o Circo Imaginário de Motinha e Nhá Fia, crônicas/memórias, Amazon, 2009.

– Tudo poderia ser diferente, inclusive o título, coletânea, Amazon e-book, 2022.

– Do corpo ao corpus, contos/coletânea, Ed. Rocha Soluções Gráficas, SC, 2022.

– Crônicas, contos, poesias e textos coletivos no Café Literário, Plataforma digital Notibras, 2024/2025.

Reportagens e Vídeo documentários: – Repórter, roteirista e apresentador nas redes TV Planalto/Lages, SC, RBS TV, TV Barriga Verde e TV Cultura, Florianópolis, SC, entre 1983 e 2001. – Os Caminhos do Mercosul, série de documentários, Fetiesc/TV Cultura SC, 1984. – O Mundo dos Mangueizais, série de documentários Prêmio Vídeo Terra, Unicamp, SP, 1987. – Ganchos 88...e deu boi nas cabeças, documentário audiovisual Prêmio Festival de Cinema e Vídeo da Bahia e finalista Festival de Cinema e Vídeo de Havana, Cuba, Putz Vídeo, 1988. – A Guerra da Água, vídeo documentário Prêmio Eco Vídeo, Amsterdã, Holanda 2006, TV Marília, SP. – A Mini Cidade Cooperativista, grande reportagem Prêmio Cooperativas Brasileiras dirigindo o programa de TV Cooperativismo em Notícias no Canal Rural nacional, Fecoagro, SC, 2012.

Redes Sociais: @gilbertopintodamotta, @gilmotinha Facebook: Gilberto Pinto da Motta

 

Cassiano Silveira nasceu em Florianópolis/SC e reside em Palhoça (SC). Historiador, atua na área da adesde 2010. Entre 2016 e 2017 trouxe a público, através do Facebook, as tirinhas cômicas Os Cabeçudos, discutindo sobre o cotidiano de forma um tanto nonsense. Publicou artigos científicos: Os Caixões Fúnebres na Capela de Nossa Senhora das Dores: Uso e Tipologia (Revista Tempos Acadêmicos, 2012); e poemas: Cama de Mármore (Revista Poité, 2006), Velório e Olho-mar (ambos PerSe, 2021) e contos: Patos (InVerso, 2021), Os dois hemisférios da alma (Persona, 2021) e A perfeição (SENAI/CIMATEC, 2021), que lhe valeu menção honrosa no 1° Concurso Cultural Literatec – A vida numa sociedade tecnológica. Participou da coletânea Tudo poderia ser diferente –inclusive o título, como autor, como responsável pela capa, projeto gráfico e diagramação. É autor do livro Sobre o medo, a morte e a vida, disponível em formato físico e também em e-book na Amazon.com.br. Contatos Instagram @siano_silveira

 

Antonio Carlos (Tatalo) Fernandes. É professor titular convidado da COPPE/UFRJ de engenharia naval e oceânica. Foi membro do GTP (Grupo Teatral Politécnico da USP). No Rio de Janeiro, fez curso de dança de salão com Jaime Aroxa e de declamador de poesia com Elisa Lucinda. Participa da Tertúlia Poética e do curso de Claudio Carvalho. Participa do livro publicado “Ninguém Escreve por Mim” organizado pelo último e editado por Cassiano Silveira.

 

Marlene Xavier Nobre nasceu, cresceu, casou e teve três filhos em Florianópolis, SC.Mudou para São José, SC, e aí vieram os netos. Em 2017, sua ida ao NETI (UFSC, campus Florianópolis) para cursar oficinas de criação literária que utilizava recursos como a dança grupal e espontânea ao som de músicas clássicas resultou na participação numa coletânea organizada pela ministrante das oficinas. Logo em seguida, lançou seu primeiro livro solo: A meus queridos netos – cartas (Postmix, 2017). Em 2019, cursou outra oficina, desta vez na Biblioteca do CIC, em Florianópolis e em 2020, lançou, seu segundo livro solo: Lembranças e esperanças de uma mulher. Em 2025, publicou textos no Café Literário Notibras. Rede Social: Instagram: @xaviernobre Facebook: Marlene Xavier Nobre.


Cadê a ponte?

Lalah Tobler

Havia nela um sorriso diferente e no olhar a confiança , de quem busca uma grande conquista. Sim, chegara o momento tão aguardado.
  Dava pra ver a ponte, a ponte que, como as outras, leva para o outro lado. E havia do lado de lá, ela sabia , uma margem de mar, do mar que encontra o céu nas cores mornas do crepúsculo e mostra tintas de promessa nas auroras de todas as manhãs que as nuvens não encobrem.
  Ela trazia em atados feixes, uma história vivida do lado de cá, bem longe das ondas, das rendas, dos barcos, dos pescadores e tantos causos que iria encontrar.
  Descobrindo novos caminhos, novos cheiros, suores, foi preenchendo as brechas, trocando amores por outros prazeres.
  Ventos sopraram de alternados quadrantes. As faces secaram, as mãos calejaram.
  Nuvens densas fecharam o horizonte.
  Ela quis voltar.
  Não encontrou a ponte ….


Lalah Hugentobler é gaúcha, radicada em Santa Catarina desde abril de 1989 tendo alternado residência entre Florianópolis e Garopaba onde mora atualmente. Atraída pelas letras desde a infância, declamando, cantando e escrevendo representou sua cidade em inúmeros eventos. 

Apesar de farto material escrito ainda não publicou. Frequentou oficinas de escrita criativa no NETI - UFSC. É artesã e dedica- se ao jardim e à horta. 

 

Poema ancestral

Edna Domenica Merola, Léa Palmira e Silva, Marlene Xavier Nobre, Taís Palhares

 

Meu lado europeu

É um jubileu

De abraços e traços

Um traseiro afro

Um nariz mouro

Pele alva (de sabe Deus!)

A face com contornos romanos

 

Em Madri me segregam

(Sou a cara da moça na lata do azeite)

Em Perúgia me chamam de francesa

Em Pomerode sou forasteira

Em Floripa meu sotaque sofre bullying

 

Em São Paulo trabalhei

E antes  minha mãe também,

Em São Paulo minha nona trabalhara...

E, quando isso não é parto de dor,

O retrato do meu avô me sorri no corredor

(Edna Domenica)

 Indígena,

Português,

Espanhol,

Caboclo,

Mestiça...

À terra: plantar, caçar.

 

Natureza, liberdade.

Passado, presente futuro.

A vida passada em gerações.

Tudo junto e misturado.

 

Olhar no espelho,

Enxergar a mãe, o pai, os avôs

 

E as novas linhagens,

Quais características trarão?

[Tais Palhares]

 

Sou um lado indígena e outro africana

Isso me faz latina?

A parte de pai é sulina 

De mãe, nordestina

 

Manezinha de Floripa

  Outrora de praias, recôncavo e tantas belezas naturais

Hoje exploradas pelos capitalistas brutais –

 

Da ancestralidade, as labutas

Desde a infância quantas lutas!

 

Acho a velhice demais

Graças aos meus ancestrais.

 [Léa Palmira e Silva].

 

Vento sul, mar azul, areia a rodopiar:

Mané e manezinha a bailar,

Depois de nove meses

O meu choro "ouvisses".

 

Nasci no mês do "mata cavalo",

 num frio de doer pescoço!

 

Sou festeira e manezinha nata,

E por ser filha de artistas, sou grata

Cresci comendo pirão,

caldo de peixe e camarão!

 

Quem trouxe meus ancestrais?

Seria o vento sul soprando nos manguezais?

 

De onde vim?

Não sei de mim!


Será sou sarará?

Ou será sou sarará crioula? Sei lá!

 

O que importa é ser faceira,

mané charmosa e maneira.

(Marlene Xavier Nobre)

 

terça-feira, 30 de setembro de 2025

Sarau de Setembro. Edna Domenica

  Rol para o sarau via Meet, 30/09/2025, às 19 hs.

 Ana Esther Balbão Pithan - poema "Ânfora demoníaca"

Ana Esther Balbão Pithan nasceu em Erechim/RS e mora em Florianópolis desde 1991. Graduada em Letras/Inglês (UFRGS, 1987) e Mestre em Língua e Literaturas de Língua Inglesa (UFSC, 1993). Cursou Inglês na Inglaterra (1989) e International Business na Austrália (1999), Professional Children’s Writing Course (Austrália 2007, à distância) e Ilustração (SENAC, 2009), Curso de Literatura de Cordel (ACC, 2025) . Foi Professora na UPF (Passo Fundo/RS), na UNERJ (Jaraguá do Sul/SC) e na UNIVILLE (Joinville/SC). Atualmente tem 11 livros publicados, 2 e-books, 3 cordéis e participação em várias antologias. Já recebeu prêmios em níveis nacional e internacional por alguns de seus textos. Também atua como Contadora de Histórias. Coordena o grupo de plantadores de árvores Árvores Arteiras (desde 2018) e o Clube de Leitura do Pelicano (desde 2014). É a criadora dos personagens O Pelicano, a Mega Vó, a Profa. Coruja-Buraqueira, Anamasthêr e a Meditação do Chimarrão entre outros. @pelicanaesther


Antonio Gil Neto nasceu em Taiaçu, cidadezinha do interior paulista, em 1950. Graduou-se em Pedagogia e Letras. Ainda jovem, mudou-se para São Paulo, onde construiu sua carreira profissional na área da Educação. Atuou em projetos de formação de educadores e em publicações didáticas vinculadas ao ensino de língua. Autor de livros de literatura juvenil: A flor da pele e Cartas Marcadas, (Ed. Cortez/SP) e também organizador e autor de A memória brinca: ciranda de histórias do ensino municipal paulistano, (Imprensa Oficial/SP). No primeiro livro que escreveu – Brado Retumbante, (Ed. Olho d’Água/SP) – teve a graça de receber na contracapa generosas palavras de Paulo Freire. Participou da coletânea Tudo poderia ser diferente – inclusive o título, e-book Amazon, 2022. Também em 2022, publicou seu primeiro livro de poemas Inéditos, inexatos – uma coleção de água e vidro, pela editora Folheando. Depois publicou os livros de poesia: “Sem saber o Amor” (Ed. Primata), “Desertos, Pássaros, Quintais” (Caravana Editorial), “Silêncios, seus estilhaços de seda” (Ed. Folheando), “Água, pedra, flor” (Mondru Editora).

Poema "Ficar em Gaza" Antonio Carlos (Tatalo) Fernandes

É professor titular convidado da COPPE/UFRJ de engenharia naval e oceânica. Foi membro do GTP (Grupo Teatral Politécnico da USP). No Rio de Janeiro, fez curso de dança de salão com Jaime Aroxa e de declamador de poesia com Elisa Lucinda. Participa da Tertúlia Poética e do curso de Claudio Carvalho. Participa do livro publicado “Ninguém Escreve por Mim” organizado pelo último e editado por Cassiano Silveira.

QUEM GAZA

Por Antonio Carlos Tatalo Fernandes

Quem Gaza, quer casa.

Veto resort com cheiro de morte.

É maldição 

Procurar a segurança do Metanhycu

Com base em assassinatos

Perpetrados por uma juventude que virou assassina.

É ilegítimo ratas, suínas

Saiam das minhas terras seus ratos suínos

Parem de matar meus filhos

Parem de matar minhas lindas mulheres

Fiquem com suas feias.

Saiam daí:

Chaim, Jaimes, Hamas, jamais, jamé

Saiam de Gaza, vaza 

Resort sobre gente morta não tem perdão

Como quando não perdoamos os campos de concentração.                                                                                                                                             

Águeda declama "Ismália", de Alfonso Guimarães

Quando Ismália enlouqueceu,

Pôs-se na torre a sonhar...

Viu uma lua no céu,

Viu outra lua no mar.

 

No sonho em que se perdeu,

Banhou-se toda em luar...

Queria subir ao céu,

Queria descer ao mar...

 

E, no desvario seu,

Na torre pôs-se a cantar...

Estava perto do céu,

Estava longe do mar...

 

E como um anjo pendeu

As asas para voar...

Queria a lua do céu,

Queria a lua do mar...

 

As asas que Deus lhe deu

Ruflaram de par em par...

Sua alma subiu ao céu,

Seu corpo desceu ao mar...

Alphonsus de Guimaraens (1870-1921, MG) foi um dos principais representantes do Simbolismo no Brasil, conhecido pelas suas poesias melancólicas, místicas e de forte conteúdo religioso. A temática da morte e do amor impossível é um tema central. É autor de poemas como "Ismalia" e obras como Dona Mística e Kyriale, e é muitas vezes chamado de "o solitário de Mariana".


Cassiano Silveira nasceu em Florianópolis/SC e reside em Palhoça (SC). Historiador, atua na área da arqueologia desde 2010. Entre 2016 e 2017 trouxe a público, através do Facebook, as tirinhas cômicas Os Cabeçudos, discutindo sobre o cotidiano de forma um tanto nonsense. Publicou artigos científicos: Os Caixões Fúnebres na Capela de Nossa Senhora das Dores: Uso e Tipologia (Revista Tempos Acadêmicos, 2012); e poemas: Cama de Mármore (Revista Poité, 2006), Velório e Olho-mar (ambos PerSe, 2021) e contos: Patos (InVerso, 2021), Os dois hemisférios da alma (Persona, 2021) e A perfeição (SENAI/CIMATEC, 2021), que lhe valeu menção honrosa no 1° Concurso Cultural Literatec – A vida numa sociedade tecnológica. Participou da coletânea Tudo poderia ser diferente –inclusive o título, como autor, como responsável pela capa, projeto gráfico e diagramação. É autor do livro Sobre o medo, a morte e a vida, disponível em formato físico e também em e-book na Amazon.com.br. Contatos Instagram @siano_silveira

 

- Cassiano Silveira: poema "Pilar de Macondo"

 

Quero morrer em tuas carnes fartas, Pilar Ternera

Tu, mulher forte que nunca diz que ama

Mulher firme, mesmo quando à beira

Abriga os corpos todos que te passam pela cama

 

Quero teu par de peitos livres, Pilar Ternera

E teu riso e tua boca de cor quente

Tua voz calma e sábia de bezerra

E o porto seguro do teu quarto à toda gente

 

Quero teu baralho vidente, Pilar Ternera

Que me leias em presságio, agouro ou profecia

“Querido, riso e dor não tem fronteira”

“Nascemos e morremos uma vez a cada dia”

 

Quero-te sempre e tanto mais, Pilar Ternera

Todo nosso sexo espalhado pelo chão

Amar-te a ti e todos mais, Pilar Ternera

Que não vivas nenhum ano em solidão

 

Edna Domenica. Paulistana, desenvolveu pesquisa sobre Psicodrama e suas aplicações em oficinas de escrita criativa, publicadas em Aquecendo a produção na sala de aula (Nativa, 2001), De que são feitas as histórias (Postmix, 2014), Relógio de Memórias (Postmix, 2017). É autora de Cora, coração (Nova Letra, 2011), A volta do Contador de Histórias (Nova Letra, 2011), No Ano do dragão (Postmix, 2012), As Marias de San Gennaro (Insular, 2019), O Setênio (Tão Livros, 2024). Considera que “escrever é uma empreitada existencial desafiadora […], uma tarefa árdua, um afeto prazeroso, um ato de cidadania”.

- Carta a um “eu lírico”

Edna Domenica Merola 

 

Quando eu o vi, “um anjo torto

desses que vivem na sombra disse”:

– Vai, ver seu amado “ser gauche na vida”.

 

Você era um “homem atrás do bigode”: “sério, simples e forte.”

Que quase não conversava.

Tinha “poucos, raros amigos”

um “homem atrás dos óculos e do bigode”…

 

Ah! Seu bigode!…

“A tarde talvez fosse azul,

não houvesse tantos desejos.”

 

Ah! Amado, que saudade daquela pedra

Que virou metáfora no meu caminho.

 

Já anoiteceu…

“Eu não devia te dizer”, mas aquela lua

botava a gente comovida “como o diabo”.


Mas só você, só…

“você foi o meu astro derradeiro

Meu amigo e companheiro

No infinito de nós dois.”

Amor, estou saindo agora

pra encontrá-lo em Pasárgada…

Levo o seu porquinho da Índia e…

Suas “palavras sobretudo os barbarismos universais

Suas “construções sobretudo as sintaxes de exceção”

Seus “ritmos sobretudo os inumeráveis…”

Já estou quase chegando a Pasárgada…

No nosso encontro “o lirismo dos loucos

O lirismo dos bêbedos

O lirismo difícil e pungente dos bêbedos

O lirismo dos clowns de Shakespeare.”

 

Espero você…

“Não se perca de mim

Não se esqueça de mim

Não desapareça

A chuva tá caindo

E quando a chuva começa

Eu acabo de perder a cabeça”

“É, meu amigo, só resta uma certeza

É preciso acabar com essa tristeza

É preciso inventar de novo o amor”.

Espero você na “Rua Nascimento Silva, 107.”

Eternamente tua,

Elizete.

 

Carta a Tom ( Vinícius de Moraes, 1974)

Rua Nascimento Silva, 107

Você ensinando pra Elizete

As canções de Canção do Amor Demais

 

Lembra que tempo feliz

Ah! Que saudade

Ipanema era só felicidade

Era como se o amor doesse em paz

Nossa famosa: garota nem sabia

A que ponto a cidade turvaria

Esse Rio de amor que se perdeu


Mesmo a tristeza da gente era mais bela

E além disso se via da janela

Um cantinho de céu e o Redentor

 

É, meu amigo, só resta uma certeza

É preciso acabar com essa tristeza

É preciso inventar de novo o amor


Gilberto Motta nasceu e cresceu em um pequeno circo teatro no interior de São Paulo. Jornalista, repórter de rádio, TV, jornais e revistas; professor universitário e vide documentarista premiado por direção e roteiro. Aposentado, vive e escreve de uma pequena cabana na vila de pescadores da Guarda do Embaú, SC.

Publicações:

– Crônicas e contos, Revista Vírgula, Faculdade Cásper Líbero, SP, entre 1979 e 1982.

– O modal de transportes no Sul do Brasil, dissertação de Mestrado, UFSC, Florianópolis, SC, 2000.

– Miolo (Cânticos para ninar pirados e piradas), Prêmio Sinergia SC, contos/coletânea 2000.

– Narrativas audiovisuais: Construção/Desconstrução/Reinvenção (Ganchos 88...e deu boi nas cabeças), ensaio acadêmico. Ed. Unimar SP, 2008.

– A Incrível Jornada da Menina Careca, romance infanto juvenil, Amazon, 2009.

– Céu de Vaga-lumes e o Circo Imaginário de Motinha e Nhá Fia, crônicas/memórias, Amazon, 2009.

– Tudo poderia ser diferente, inclusive o título, coletânea, Amazon e-book, 2022.

– Do corpo ao corpus, contos/coletânea, Ed. Rocha Soluções Gráficas, SC, 2022.

– Crônicas, contos, poesias e textos coletivos no Café Literário, Plataforma digital Notibras, 2024/2025.

Reportagens e Vídeo documentários: – Repórter, roteirista e apresentador nas redes TV Planalto/Lages, SC, RBS TV, TV Barriga Verde e TV Cultura, Florianópolis, SC, entre 1983 e 2001. – Os Caminhos do Mercosul, série de documentários, Fetiesc/TV Cultura SC, 1984. – O Mundo dos Mangueizais, série de documentários Prêmio Vídeo Terra, Unicamp, SP, 1987. – Ganchos 88...e deu boi nas cabeças, documentário audiovisual Prêmio Festival de Cinema e Vídeo da Bahia e finalista Festival de Cinema e Vídeo de Havana, Cuba, Putz Vídeo, 1988. – A Guerra da Água, vídeo documentário Prêmio Eco Vídeo, Amsterdã, Holanda 2006, TV Marília, SP. – A Mini Cidade Cooperativista, grande reportagem Prêmio Cooperativas Brasileiras dirigindo o programa de TV Cooperativismo em Notícias no Canal Rural nacional, Fecoagro, SC, 2012. 

Redes Sociais: @gilbertopintodamotta, @gilmotinha 

                          Facebook: Gilberto Pinto da Motta


“Re/volver” (Letra e música de Gilberto Motta)

 Ei, amigo, não sufoque / A dor da tua voz interior

Pare, o velho amigo, e perceba / a vida é séria e você não é um bom ator

E o inevitável / o destino ali marcou / e de dúvidas crivou

E agora / o que foi feito daquela certeza / cantada e sentida

Pelos botecos sem classe / a cada nova cerveja / com os amigos do peito / lá no interior

E agora / o que foi feito do cheiro do mato / do cavalo baio / fugindo à galope

Dos olhos de fogo / do enfrentamento / lá no interior

(Estribilho)

Um dia caminhando pelas ruas de São Paulo percebi

Que faço parte da culpa / desse medo nos olhos / da incompreensão geral                  

Um dia caminhando pelas ruas de São Paulo percebi

Que aquilo que achava certo está virando saudade / e eu não sei como impedir

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Letra e música de Gilberto Motta 1978, São Paulo, vencedora do Festival de MPB do Colégio Objetivo SP.

 

Édith Giovanna Gassion (19 de dezembro de 1915 – 10 de outubro de 1963) conhecida como Édith Piaf, foi uma cantora letrista francesa, amplamente considerada a maior cantora popular da França e uma das artistas mais celebradas no século XX. Começou sua carreira em turnê com o pai, aos catorze anos. Foi descoberta em 1935 pelo dono de boate Louis Leplée. Sua vida foi marcada por tragédias. Sua fama se consolidou durante a ocupação alemã durante a Segunda Guerra do século XX. Logo após ela escreveu a letra de “La vie en Rose” (A vida em rosa) que se tornou seu maior sucesso. O reconhecimento do povo francês se estendeu até o final dos seus dias. Sua voz ficou guardada em muitas outras interpretações como “Non, je ne regrette rien”; “Hymne à l’amour “; “ La Foule”. Permanece como um ícone inesquecível!


Lalah - canto La vie en rose, de Edith Piaf


Des yeux qui font baisser les miens

Un rire qui se perd sur sa bouche

Voilà le portrait sans retouche

De l'homme auquel j'appartiens

Quand il me prend dans ses bras

Il me parle tout bas

Je vois la vie en rose

Il me dit des mots d'amour

Des mots de tous les jours

Et ça me fait quelque chose

Il est entré dans mon cœur

Une part de bonheur

Dont je connais la cause

C'est lui pour moi, moi pour lui dans la vie

Il me l'a dit, l'a juré pour la vie

Et dès que je l'aperçois

Alors, je sens en moi

Mon cœur qui bat

Des nuits d'amour à ne plus en finir

Un grand bonheur qui prend sa place

Des ennuis, des chagrins, s'effacent

Heureux, heureux à en mourir

Quand il me prend dans ses bras

Il me parle tout bas

Je vois la vie en rose

Il me dit des mots d'amour

Des mots de tous les jours

Et ça me fait quelque chose

Il est entré dans mon cœur

Une part de bonheur

Dont je connais la cause

C'est toi pour moi, moi pour toi dans la vie

Il me l'a dit, l'a juré pour la vie

Et dès que je t'aperçois

Alors, je sens dans moi

Mon cœur qui bat

Lalala, lala

Lala, lala


- Léa Palmira e Silva “Sonhos não têm cor”

 

Preparar-se para o amanhã

Olhar por ti e ver-te lindo(a) e maravilhoso(a)

Gostar de esporte, ler estudar e viajar nos teus sonhos

Não tem sistema nenhum que te impeça

Sonhar com o amor e alimentar-se dele

Pois ele alimenta a alma de qualquer ser humano

Nada vai te impedir de sonhar!

E aos preconceitos

É através da educação que vais evoluir

Mas agora és uma criança, um adolescente que estas te descobrindo

Amanhã será um adolescente respeitado, depois um homem respeitado

Ou uma mulher que soube aproveitar seu tempo de aprendizado mesmo brincando

O brincar também é aprender, a relação, o respeito, a amizade junto à empatia

Todo ser tem os seus deveres para depois ter seus direitos lutar e conquistá-los

Sonhem, meus queridos!

Não somos todos iguais, cada um tem seu tipo e seu modo de ser ter sua característica

Mas lembre-se de que oportunidade não se desperdiça, agarra-se!

Sonhe com a vida boa e cheia de encantos, ela não tem cor.

Ela tem as características de teus ancestrais

Lute pelos seus direitos de ser como você é, e lute pelo teu espaço.

Mas se prepare para os desafios que vais enfrentar com conhecimento

Coragem e resistência são formas de valorização

A esperança e a fé têm que prevalecer dentro de uma sociedade que exclui

Através da educação, das artes e de leis que possam garantir o ir e vir de qualquer ser humano

Azaleia.

                                

- Marlene Nobre:  Poema "CORPO"

 

Meu corpo é um santuário sagrado!

Meu corpo é a soma de tudo aquilo que sou!

Penso, falo, ouço, sinto

o universo mais perfeito ...

 

Meu corpo exala odor 

Meu corpo foi feito de amor

Meu corpo grita, chora, reclama 

Odeia, ama, agoniza.

 E ninguém enxerga!

 

Meu corpo é tudo aquilo que sou!

Mal cuidado, mal amado...

 O descaso de muitos olhares zombeteiros.

 

Meu corpo é novo,

 meu corpo é velho ,

meu corpo é sombra,

 é luz 

          É a poeira mais certa 

 que pode ser jogada em qualquer lugar!

 

Meu corpo é a veste mais perfeita 

aos olhos de quem me rejeita

 

Meu corpo é maltratado pelo tempo 

Meu corpo é o resultado de tudo 

Aquilo que semeei por caminhos percorridos.

 

 Não foi o destino, nem o acaso.

Foram os atalhos

Feitos por mim

Que me fizeram assim.

 

Meu corpo não é feito de tijolos,

Meu corpo é a soma do que construí 

Por inveja, ódio, rancor 

 

Sou o culpado ou o certo,

O prepotente, o arrogante 

Tudo está encrustado no corpo despudorado

 

 Meu corpo é ingrato com ele mesmo

 e tão mal cuidado 

Por tudo aquilo que sou 

Por tantos vícios 

Carrego um corpo amargurado e cheio de dor

Sou a soma de todas elas:

Das escolhas que sou.

 

Marlene Xavier Nobre nasceu, cresceu, casou e teve três filhos em Florianópolis, SC.

Mudou para São José, SC, e aí vieram os netos.

Em 2017, sua ida ao NETI (UFSC, campus Florianópolis) para cursar oficinas de criação literária que utilizava recursos como a dança grupal e espontânea ao som de músicas clássicas resultou na participação numa coletânea organizada pela ministrante das oficinas. Logo em seguida, lançou seu primeiro livro solo: A meus queridos netos – cartas (Postmix, 2017). Em 2019, cursou outra oficina, desta vez na Biblioteca do CIC, em Florianópolis e em 2020, lançou, seu segundo livro solo: Lembranças e esperanças de uma mulher. Em 2025, publicou textos no Café Literário Notibras. Rede Social: Instagram: @xaviernobre Facebook: Marlene Xavier Nobre.

"Paredes" 

Rosilene Souza.

Percorro os cômodos da casa vazia. Observo as paredes e noto a passagem do tempo impressa nelas. Penso: quantas histórias estas paredes guardam? Se fossem visíveis seriam como uma tatuagem. Continuo explorando as paredes em busca de algo. Algo que não sei bem o que é. Por um instante fecho os olhos. Apalpo o espaço. Paro diante de uma cicatriz. Meu coração palpita de felicidade. Ao abri-los encontro o que procurava. Sorrio. Sabia que aquelas paredes me transportariam no tempo.

 

Rosilene Souza. Mineira, desenvolve pesquisa nas linguagens artísticas: colagem, escrita criativa, fotografia e deficiência visual. Investiga o excesso de imagens e escritas consumidas e produzidas na sociedade. Participa de exposições, feiras e mostras de Arte. Tem trabalhos artísticos e literários publicados em revistas, livros (coletâneas “Do corpo ao corpus, organização Edna Merola, 2022”, “Ninguém escreve por mim, organização Claudio Carvalho, 2024”; catálogos e blogs. Contos e ilustrações publicados pelo Café Literário Notibras (2025).