Perdas entre linhas
Às vezes tropeço na pedra,
Pra desviar da flor,
E de asfalto em asfalto,
de Drumond em Drumond, devagarinho,
o caminho, volto atrás
Pra resgatar evocado ninho.
Perdi os óculos, o WD 70 e o martelo
Varri a poesia e revi lar comezinho
Onde ecoam óculos, WD 70 e martelo:
Museu dos meus, puro elo.
Outras vezes o tropeço na perda
É pra desviar da dor.
(Edna Domenica Merola)
Outrora nos meus tempos de criança
Ora era herói ou justiceiro
Ora
bicho brabo ou engenheiro
Bandido, cavaleiro em andança
O tempo deturpou a esperança
O que é daquele todo inteiro?
Foi-se o sol. Armou um tempo feio
Onde havia tempo de criança
Lá se foi meu projeto de futuro
Finda a ilusão de perfeição
Lá havia ponte, aqui há muro.
Perdi tempo, meta e vocação
Perdi sonho e medo de escuro
Perdi santos e fé na oração.
(Cassiano Silveira)
Ora (direis) contar as perdas, certo
perdeste o Censo! E eu vos direi, no entanto,
Que, pra contá-las, muita vez desperto
E fecho as canelas, pálido de espanto…
E computo por toda a noite, enquanto
A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as lembro (sob um véu esperto).
Direis agora: “Tresloucado amigo!
Que procuras com elas? Que sentido
Tem o que lembras, quando estão contigo?”
E eu vos direi: “Perdei para entendê-las!”
Pois só quem perde pode ver sentido
Ter paz pra ouvir: entender sequelas.
(Edna Domenica Merola)
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