Poema ancestral
Edna Domenica Merola, Léa Palmira e Silva, Marlene
Xavier Nobre, Taís Palhares
Meu lado europeu
É um jubileu
De abraços e traços
Um traseiro afro
Um nariz mouro
Pele alva (de sabe Deus!)
A face com contornos romanos
Em Madri me segregam
(Sou a cara da moça na lata do azeite)
Em Perúgia me chamam de francesa
Em Pomerode sou forasteira
Em Floripa meu sotaque sofre bullying
Em São Paulo trabalho com meu corpo
trabalho com o corpo de minha mãe,
trabalho com o corpo de minha nona...
E, quando isso não é dor,
O retrato do meu avô me sorri no corredor
Português,
Espanhol,
Caboclo,
Mestiça...
À terra: plantar, caçar.
Natureza, liberdade.
Passado, presente futuro.
A vida passada em gerações.
Tudo junto e misturado.
Olhar no espelho,
Enxergar a mãe, o pai, os avôs
E as novas linhagens,
Quais características trarão?
[Tais Palhares]
Sou um lado indígena e outro africana
Isso me faz latina?
A parte de pai é sulina
De mãe, nordestina
Manezinha de Floripa
– Outrora de
praias, recôncavo e tantas belezas naturais
Hoje exploradas pelos capitalistas brutais –
Da ancestralidade, as labutas
Desde a infância quantas lutas!
Acho a velhice demais
Graças aos meus ancestrais.
[Léa Palmira e
Silva].
Vento sul, mar azul, areia a rodopiar:
Mané e manezinha a bailar,
Depois de nove meses
O meu choro "ouvisses".
Nasci no mês do "mata cavalo",
num frio de doer pescoço!
Sou festeira e manezinha nata,
E por ser filha de artistas, sou grata
Cresci comendo pirão,
caldo de peixe e camarão!
Quem trouxe meus ancestrais?
Seria o vento sul soprando nos manguezais?
De onde vim?
Não sei de mim!
Será sou sarará?
Ou será sou sarará crioula? Sei lá!
O que importa é ser faceira,
mané charmosa e maneira.
(Marlene Xavier Nobre)
Em homenagem às moradoras
–
estrangeiras, brasileiras –
E também às turistas
Que curtem Floripa demais
Dedico um soneto sem “ais”:
Canta, Floripa canta… Cantarás!
Escutarás: “Conserva tua história…”
Cidade e praias brilham na memória
Encanta a gente, encanta…Encantarás!
Com belo Boi de Mamão brincarás
Com a Bernunça de boca lusória…
Guga! Avaí! Figueirense! Que glória!
Renda de bilro à Lagoa terás.
Praias da Ilha: ouvirás Mirandinha
Zininho com Amor à Ilha: teu hino
Pântano do Sul, dás tua tainha
Lagoa da Conceição: sol a pino
Lagoa do Peri branca prainha:
Floripa ama e canta como imagino!
[Edna Domenica Merola]
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