Uma
mulher foi linchada sem chance a julgamento, num país em que não há pena de morte. Uma professora e um professor morreram durante assaltos em pontos diferentes do Brasil, recentemente. Atos fatais e distantes como esses
crimes são recorrentes em nossos ouvidos. Mas às vezes tapamos também os olhos
para fatos ‘de fora das telinhas’... Fatos cotidianos que nos escapam... (Será?)
O bulling, a fofoca maldosa, a acusação sem fundamento, o consorciamento efêmero movido pelo interesse ou medo
rolam soltos em nossos dias... Inaugurando a era do oitavo pecado capital, colocando no chinelo os sete anteriores (inveja, ira, luxúria, gula, avareza, preguiça, orgulho).
Já a
TRIBUNA LIVRE onde cada qual expressa livremente sua opinião e responde por ela
deveria ser vista como a praça na Grécia antiga: mera instituição democrática.
As ações
de falar ou escrever hoje são consideradas livres. Nenhuma expressão pode ser
tida como não política. Se pratico a tolerância de ideias isso também é uma
postura política definida. Creiam! Não recebo salário para fazê-lo!
Contou-me
uma colega professora de uma grande cidade brasileira que sua aluna proferiu um
seminário e houve dois comentários um oposto ao outro por parte de duas colegas. A aluna
foi ter com alguém de fora do grupo que a orientou a exigir da professora um
posicionamento que eliminasse o impasse a seu favor. A professora se sentiu acuada. Entendeu que queriam que ela se
transformasse no BICHO PAPÃO, no BICHO CALA-A-BOCA. Entendeu que o que lhe pediam
era algo impossível: que ela deixasse de ser sujeito histórico. Que abdicasse de seus
valores, de suas crenças para se transformar num objeto (e no calor da emoção
comparou o objeto exigido a um cilício!).
Contou-me
uma colega professora de uma grande cidade brasileira que a liberdade de
expressão é o pulmão do processo ensino-aprendizagem. É pela liberdade de
expressão que se respira conhecimento.
Após
ouvir a queixa narrada pela colega professora de uma grande cidade brasileira,
resolvi gastar meu precioso tempo, a conta de energia elétrica da minha casa, minha conta da Internet
e meus neurônios nessa ação política de escrever esse texto.
Espero
compreendam o que me moveu a fazer tal investimento. Espero notem que esse blog é sem
fins lucrativos.
Espero
saibam que tudo o que se escreve tem um preço pago em quilômetros rodados na estrada da vida. Espero perdoem as expressões
comuns e o tom que, aparentemente, o texto toma: de não se voltar para o que é caricatura do positivo. Espero que
se sensibilizem para o pormenor de que acusar a falta de solidariedade é também
dar um lindo exemplo. Espero que os leitores não pratiquem a falta de compaixão com
essa minha colega professora de uma grande cidade brasileira... Creio, ao contrário, que a respeitarão e valorizarão cada vez mais.
Breve
terei alguma poesia... Breve tomarei no colo lindas flores recebidas pelo dia das
mães. Breve enviarei um lindo róseo cartão com todos os elogios do mundo para
essa colega professora que apelido desde já de GENTE ABRE-A-BOCA. Breve direi
que polêmicas são ossos desse ofício de ensinar-aprender. Breve direi que lidar
com a diversidade é trabalhar no andaime da adversidade (por falta
de cultura do diálogo). Breve sonharei novamente com a hora em que reconstruirei
meu olhar dócil que tolera o fel e cria o
mel. Breve tirarei o tango argentino da velha vitrola e cantarei um hino de
glória aos soldados da AUTENTICIDADE. Breve comporei uma canção para cantar na
praça à luz do dia e até quem não for de samba há de parar e ouvir.
Breve
terei alguma poesia... Mesmo que não for do coração, versos escoarão de meus dedos... E
em plena praça, tudo será citação deslocada:
“Felicidade aqui
Pode passar e ouvir
E se ela for de samba
Há de querer ficar”
Mas longe
dessa praça, por licença poética:
“... você, minha amiga/ Já pode chorar”.
Referência
Olê, olá.
Chico Buarque de Holanda. 1965.