sexta-feira, 27 de julho de 2012

Uma Atividade Lúdica para Aprender a Gostar de Ler. Edna Domenica Merola

Professores e pais já clamaram, em algum momento, por alguma fórmula mágica que instalasse o hábito da leitura em crianças e jovens. Comigo não foi diferente! Em algum momento de minha experiência docente clamei por um meio agradável de ensinar o gosto pela literatura e iniciei minhas pesquisas nesse sentido.

O ensino da literatura para crianças e jovens justifica-se pela constatação de que a escola deve se voltar para a construção do ser criativo em seus aspectos estético e ético, tendo por meta que o aluno se constitua em sujeito que aprecie a arte literária e seja crítico da realidade. A superação dos entraves existentes para que a escola siga a meta referida implica em resgatar a função social da escola para crianças e jovens, que necessitam inserir-se de imediato no rol daqueles que são aceitos socialmente, pela vivência do cotidiano escolar. Ao indagar sobre como fazê-lo de forma eficaz, pesquisa no campo do Psicodrama aplicado à escola mostrou que essa inserção pode ser facilitada pelo uso didático do jogo com crianças e adolescentes. A construção do papel de leitor pela mediação dos coetâneos refere-se a uma interpretação do psicodrama sob um enfoque histórico-cultural. Moreno identificou três fases no desenvolvimento de um papel: a primeira que é a tomada de um papel; a segunda que é a fase em que se joga o papel e a terceira que ocorre quando se cria sobre o papel. Quanto mais desenvolvido for o papel, maior será a espontaneidade que ele apresenta, ou seja, maior a capacidade de dar respostas novas a situações novas ou respostas adequadas a situações velhas. O fator espontaneidade é passível de desenvolvimento na interação com os colegas, dadas as circunstâncias estabelecidas pelos contextos, instrumentos e etapas do jogo dramático que configuram a atividade de leitura como vivência de teor ético e estético.
Um relato de atividade de leitura de texto narrativo comparece como ilustração do uso do jogo dramático em intervenção pedagógica. O texto O Jardim do Homem Sábio do livro A Volta do Contador de Histórias foi apresentado em dois segmentos e para cada um foi proposta uma atividade diferente, conforme segue.
“Era uma vez uma cidadezinha onde todas as casas tinham jardins. Havia o jardim do seu Cravonildo, onde tudo era muito arrumadinho, o jardim da Dona Angélica, onde tudo era muito limpo, o da Dona Margarida que era uma senhora muito espaventada, o da Dona Hortênsia que tinha doze filhos, o da Dona Rosalva que era professora, o da Florípedes que era médica, o do Seu João Urtiga que era grande causador de intrigas. E tantos outros jardins.”
Aquecimento– foram propostas as consignas seguintes: andar na sala/ Andar como João Urtiga ou como Dona Florípedes/ Andar como o ‘Seu’ Cravonildo ou como Dona Rosalva/ Como Dona Hortênsia ou Dona Angélica/ Como Dona Margarida ou outro de livre escolha./ Quem você escolheria para representar?/ Reunir-se em grupos farão uma pose para‘foto’ do jardim do personagem escolhido.
“Mas havia dois jardins extremamente diferentes.
O primeiro, o do‘Seu’ Floriano, era na verdade uma fábrica de flores. Se uma roseira não tivesse pelo menos doze rosas, ele a expulsava de seu jardim. ‘Seu’ Floriano participava de campeonatos internacionais e ganhava muitos troféus.
O outro era do‘Seu’ Jasmim, um velhinho chinês, meu vizinho. Observei esse jardim durante muitos anos sem nada notar de especial.
Porém, certo dia, surpreendi ‘Seu’Jasmim esconder uma lágrima, quando olhava a flor mais feia, mais frágil, num cantinho, isolada. E num esforço maior pude notar que aquela flor débil brotara por entre as pedras ― as pedras que‘Seu’ Jasmim não expulsara de seu jardim.”
Dramatização– foi proposto um diálogo entre ‘Seu’ Floriano e ‘Seu’Jasmim, após a escolha dos atores pelo grupo. Após alguns segmentos de falas, foi solicitada a inversão de papéis.
Após a dramatização foram feitos os comentários.

Referências
MEROLA, Edna Domenica. A Volta do Contador de Histórias. Blumenau: Nova Letra. 2011. P 13-14.
_______________________ Desbloqueio da Expressão e Técnicas de Redação. Revista da FEBRAP. S.A. Anais do IV Congresso Brasileiro de Psicodrama. Ano 7, número 4, volume 4. PP 20-31. Campinas: DCI Indústria Gráfica. 1984.
_______________________ Aquecendo a Produção na Sala de Aula. São Paulo: Nativa. 2001. PP 200-201.
_________________O bloqueio da expressão e o ensino de técnicas de redação no Ensino Fundamental.Cidade do Conhecimento, USP (Revista on line). Estratégias argumentativas e exercícios práticos de dissertação.
MORENO, Jacob Levy. Psicodrama. Trad. Bras. 2ª.Ed. São Paulo: Cultrix. 1975.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Encontro de Cora, Coração com você




Cora, Coração (livro de poemas de Edna Domenica Merola) aguarda você para um encontro na Livraria Catarinense (Shopping Beira Mar), amanhã (24/7/2012), a partir das 19 horas e 30 minutos. Até lá!

Reprodução de Notas Publicadas

23 de julho de 2012 Nesta terça-feira, dia 24 de julho, às 19h30, a Livrarias Catarinense no Beiramar Shopping promove o lançamento do livro Cora, Coração (Aut. Catarinense, 200 pág.), coletânea que traz 56 poemas escritos ao longo de quatro décadas. A coletânea foi organizada pela própria autora, Edna Domenica Merola, que distribuiu os textos de modo a contribuir para um melhor fluxo da leitura.
À medida que o leitor desbrava as páginas de Cora, Coração, a autora guia os leitores em enredos que remetem aos mais diversos tipos de sentimentos que, de forma genuína, fazem parte da vida humana.
A ótica feminina sobre o amor é abordada nos poemas Primeiro Apelo, Segundo Apelo, Instantes, Encontro, Na Mão, Encontro Mítico, Plenitude,Carnaval e Transfusão. As memórias da infância são protagonistas em Pirata Estilizado, Cartilha, Bichos em Poesia e Ser Poesia.
A metalinguagem está presente desde o título de Ser Poesia e Manifesto Balãofágico até nos versos de Fio e Cora, Coração – poema homônimo da obra.
Sobre a autora: Edna Domenica Merola é bacharel em Letras, Pedagogia e Psicologia, é mestre em Educação e Comunicação, e autora da dissertação Psicodrama e Psicodramatistas no Brasil, defendida em 2004 na Universidade São Marcos-UNIMARCO.

Jornal Hora de Santa Catarina
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Cora, coraçãoNesta terça-feira, às 19h30min, na Livraria Catarinense do Beiramar Shopping, haverá o lançamento do livro Cora, Coração, da poetisa Edna Domenica Merola. Na obra, a autora selecionou 56 poesias. Uma coletânea de trabalhos escritos ao longo de quatro décadas da arte de escrever.

Cada côsa linda, qui só! De Olho na Ilha
Poeta lança “Cora, Coração” hoje em Florianópolis O livro“Cora, Coração”(Aut. Catarinense, 200 pág.), coletânea que traz 56 poemas escritos ao longo de quatro décadas por Edna Domenica Merola, será lançado nesta terça-feira, 24, às 19h30, na Livrarias Catarinense no Beiramar Shopping, em Florianópolis.A ótica feminina sobre o amor é abordada nos poemas“Primeiro Apelo”, “Segundo Apelo”, “Instantes”,“Encontro”, “Na Mão”, “Encontro Mítico”, “Plenitude”, “Carnaval” e“Transfusão”. As memórias da infância são tema de “Pirata Estilizado”,“Cartilha”, “Bichos em Poesia” e “Ser Poesia”. A metalinguagem está presente desde o título de “Ser Poesia”e “Manifesto Balãofágico” até nos versos de “Fio e Cora, Coração” – poema homônimo da obra. Edna Domenica Merola nasceu na cidade de São Paulo (SP) e atualmente reside em Florianópolis. É bacharel em Letras, Pedagogia e Psicologia e mestre em Educação e Comunicação.

23/07/2012 “Cora, Coração” traz poesias sobre sentimentos
Edna Domenica Merola organizou 56 poemas em obra que será lançada no dia 24 na Livrarias Catarinense

No próximo dia 24 de julho, às 19h30, a Livrarias Catarinense, no Beiramar Shopping, promove o lançamento do livro Cora, Coração, coletânea que traz 56 poemas escritos ao longo de quatro décadas. A coletânea foi organizada pela própria autora, Edna Domenica Merola, que distribuiu os textos de modo a contribuir para um melhor fluxo da leitura.

À medida que o leitor desbrava as páginas de Cora, Coração, a autora guia os leitores em enredos que remetem aos mais diversos tipos de sentimentos que, de forma genuína, fazem parte da vida humana.

A ótica feminina sobre o amor é abordada nos poemas Primeiro Apelo, Segundo Apelo, Instantes, Encontro, Na Mão, Encontro Mítico, Plenitude, Carnaval e Transfusão. As memórias da infância são protagonistas em Pirata Estilizado, Cartilha, Bichos em Poesia e Ser Poesia.

A metalinguagem está presente desde o título de Ser Poesia e Manifesto Balãofágico até nos versos de Fio e Cora, Coração – poema homônimo da obra.

Edna Domenica Merola nasceu na cidade de São Paulo (SP) e atualmente reside em Florianópolis (SC). A autora é bacharel em Letras, Pedagogia e Psicologia, é mestre em Educação e Comunicação, e autora da dissertação Psicodrama e Psicodramatistas no Brasil, defendida em 2004 na Universidade São Marcos - UNIMARCO.
Serviço
Lançamento do livro “Cora, Coração”
Onde: Livrarias Catarinense no Beiramar Shopping – Rua Bocaiúva, nº 2468, Piso L2, Centro, em Florianópolis.
Quando: 24/07, às 19h30
Quanto: Gratuito
Informações: (48) 3271.6030 | www.livrariascatarinense.com.br
Apoio Comunicação. Onde: Livrarias Catarinense no Beiramar Shopping – Rua Bocaiúva, nº 2468, piso Joaquina, Centro, em Florianópolis.... Edna Domenica Merola organizou 56 poemas em obra que será lançada no dia 24 ...

Blog Beiramar Shopping/ julho 24, 2012, Equipe Blog Beiramar Shopping ... coletânea que traz 56 poemas escritos ao longo de quatro décadas por Edna Domenica Merola.

domingo, 1 de julho de 2012

Ensinar a escrever poemas é uma tarefa possível? Por Edna Domenica Merola




.A aula de redação de Poesia é uma atividade pouco desenvolvida na escola, cujo ensino prioriza o pensamento cartesiano, convergente e excludente, relegando o desenvolvimento do pensamento divergente. Os projetos pedagógicos multidisciplinares, interdisciplinares e transdisciplinares comprometem-se com o  desenvolvimento do pensamento crítico e participativo. O resgate da poesia pela escola demanda a opção por projetos que não isolem as disciplinas e não confinem os saberes.  Para dissertar sobre o tema, seria necessário explicar como o ensino da poesia pode contribuir para a necessária humanização das relações sociais, ainda que, paradoxalmente, a poesia pertença ao âmbito do indivíduo. No entanto, pretende-se apenas registrar um testemunho: ensinar a escrever poemas é uma tarefa possível, destinando-se a aprendizes de qualquer idade.
A apresentação gráfica de um poema é vertical, podendo, por esse critério, ser facilmente diferenciada da prosa. A linguagem poética é icônica e sintética, opondo-se nesse sentido à linearidade da prosa. A poesia utiliza linguagem analógica e metafórica, opondo-se ainda à prosa que se inclina a aparentar o lógico, a imitar a realidade e a inventar o verossímil. Além de ser algo diferente da prosa, o que define a poesia para o aprendiz? Os poemas cantados podem contribuir como instrumentos de aprendizagem de ritmos e rimas.
Jogos dramáticos de cunho psicopedagógico podem ajudar na percepção de que a feitura e a leitura poéticas são emocionais e relacionais (o que equivale a dizer, na linguagem de Buber, que pertencem ao âmbito da "relação eu-tu"). A prática pautada nesse tipo de jogo dramático encontra-se em duas publicações de MEROLA, Edna a saber: Desbloqueio da Expressão e Técnicas de Redação (Revista da FEBRAP, vol. 4, 1983); Aquecendo a Produção na Sala de Aula (2001).
Mas para entender o que vem a ser poético é preciso abrir-se a viver o inusitado, seja num laboratório ou oficina de criação, seja na experiência embutida no cotidiano (mas dela destacada).
Um poema resulta de um estado ou momento poético vivido pelo (a) escritor (a). Um momento poético é algo semelhante ao que a Gestalt terapia descreve como o processo de entrar em contato com o aqui e agora. É do âmbito do indivíduo, ainda que nunca diga respeito à personalidade civil e sim a um “eu poético”.
A linguagem poética expressa sensações, remetendo dessa forma aos sentidos humanos: audição, visão, olfato, paladar, tato. Os órgãos dos sentidos contribuem para obter sensações que se processam na mente. A volição, a atenção e o contato são as condições para o surgimento da sensação, da percepção e da consciência. Um tema é poético se traduzir a conscientização de uma experiência de qualidade estética.
Mas o que é qualidade estética? Ela é definida conforme a qualidade das respostas que as artes podem dar a um determinado momento social e cultural. Para o arcadismo valiam os temas bucólicos e pastorais; para o romantismo o amor, a morte, a liberdade; para o parnasianismo contava mais a forma do que o conteúdo, prevalecendo a concepção clássica de busca da perfeição; para os simbolistas o etéreo e o diáfano. Os modernistas incluíram os temas cotidianos. Nas concepções canônicas os efeitos da poesia são estéticos, devendo provocar deleite e sublimação. Nas concepções contemporâneas o ‘feio’ e o ‘impuro’ comparecem como elementos estéticos. Prevalece a noção de que o jogo poético tenha função humanizadora e que contribua para a construção do pensamento divergente (inclusivo e criativo).
No primeiro semestre de 2012, ao realizar oficinas de criação poética, num centro comunitário em Florianópolis, pesquisamos alguns efeitos de intervenções didáticas utilizando relaxamento, mentalizações de cores e sons. As oficinas tiveram por objetivos as práticas da rima, da aliteração e da musicalidade. Na síntese da unidade temática sobre poesia ocorrida nas referidas oficinas, os participantes apontaram como importantes na construção poética: a ativação de emoções no eu poético; a expressão de sensações e sentimentos pela utilização de ícones; o uso da linguagem metafórica.


Sexta-feira, 26 de julho de 2013.Oficinas de Poesia: Planejamento. 

Oficina literária realizada pela professora Edna para as alunos do semestre 2013.2
Recurso didático usado no encontro: Técnica do Remador. No primeiro encontro de curso de Poesia a ocorrer no segundo semestre de 2013, tivemos por tarefa nos conhecer enquanto pessoas leitoras e escritoras de poemas para afinar o planejamento que já se esboçara ao término do semestre anterior. A professora Edna organizou questões sobre as definições dos principais conceitos relativos ao tema. Utilizamos um ‘cartaz’ para cada item a ser definido. Foram eles: diferenças entre a apresentação gráfica de um poema e um texto em prosa. Diferenças entre linguagem poética e linguagem ‘científica’. O que é “momento”poético? O que é “eu poético”? Defina poema, verso, estrofe, ritmo. O que a poesia tem a ver com os cinco sentidos, com sensações, sentimentos, emoções? Defina poesia.
Os cartazes foram passados às mãos de cada participante para ao final obter o registro das expressões de todos os participantes sobre a poesia. A construção grupal inicial foi apreciada por meio de leitura em voz alta do contido em todos os ‘cartazes’.
Segundo o Mini Dicionário Aurélio da Língua Portuguesapoesia é a "Arte de criar imagens, de sugerir emoções por meio de uma linguagem em que se combinam sons, ritmos e significados".
Prosa: “série de palavras dispostas sem obediência a metro nem a rima.”.
Rima é a “uniformidade de sons na terminação de duas ou mais palavras”. É a “repetição do mesmo som, no fim de dois ou muitos versos.”
Os versos podem ser rimados de várias maneiras. 
A oitava rima: é a estância de oito versos em que os pares rimam entre si e os ímpares também, exceto o sétimo verso que rima com o oitavo.
A rima alternada: é aquela em que os versos pares e ímpares rimam respectivamente entre si.
A rima consoante: é aquela em que desde a vogal da sílaba predominante há perfeita semelhança de som.
A rima emparelhada: é a que faz rimar dois versos seguidos.
A rima encadeada: é a rima do final de um verso com o meio do verso seguinte.
A rima interpolada: é aquela em que dois versos que rimam têm de permeio de um até seis versos.
A rima pobre: é aquela em que as palavras têm a mesma categoria gramatical.
A rima rica: é aquela em que as palavras são de categorias gramaticais diferentes.

A rima toante: é aquela que só existe na igualdade das vogais a partir da sílaba predominante.

Terça-feira, 30 de julho de 2013. Primeiras Linhas do Diário de Suor Camoniano da Oficina Literária do NETI.
Camões não escreveu os Lusíadas em um só dia... Obra com cerca de nove mil e duzentos versos.
Há também os poetas que burilam um único soneto (14 versos) durante dias e até meses.
Pensando na prática da "qualidade sempre" (quer com quantidade ou sem), optei, didaticamente, por tentar instalar  nos participantes da Oficina de Criação Literária o conceito de sílaba poética, praticando o uso da métrica. Propus o exercício de registrar pelo menos uma linha poética, diariamente. Lembrando que os versos dos Lusíadas são decassílabos heróicos, verificamos que é necessário também ordenar as palavras de tal modo que a sexta e a décima sílabas sejam tônicas. Sílaba Poética é a menor parte rítmica do verso. Pode corresponder ou não à divisão de sílabas gramaticais: é escolha do poeta. A contagem do total de sílabas é feita a partir da primeira sílaba (átona ou tônica) da primeira palavra do verso, até a última sílaba tônica da última palavra do verso. A professora Edna Domenica Merola enviou aos alunos os seguintes versos para desencadear a tarefa:
“Agora escrevo em versos decassílabos
Diário de suor camoniano”

Quinta-feira, 29 de agosto de 2013.
Dialógica: o Poema e o Poeta. O "Eu poético". O Momento Poético.

Em Autopsicografia, Pessoa descreve como é ser poeta.

Autopsicografia. Fernando Pessoa.

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda.
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.


No poema Não sei quantas almas tenho, o poeta Fernando Pessoa descreve a experiência de viver os múltiplos"eus poéticos".

Não sei quantas almas tenho. Fernando Pessoa.

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: “Fui eu?”
Deus sabe, porque o escreveu.


No poema Todas as Cartas de Amor o poeta Fernando Pessoa descreve a experiência da autoria poética. Mostra a relação entre o texto a ser lido por outrem (poema) e o seu autor (poeta)

Todas as cartas de amor…
Fernando Pessoa
Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.
(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.).

REFERÊNCIAS

BUBER, M. – Do Diálogo e do Dialógico – São Paulo: Perspectiva. 1982.

HOLANDA, A. Mini Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. Disponível em http://www.dicionariodoaurelio.com

MEROLA, E. Desbloqueio da expressão e técnicas de redação através do jogo dramático.
Anais do IV Congresso Brasileiro de Psicodrama. Revista Brasileira de Psicodrama, São Paulo,
v. 1, n.4, p. 20-30, 1984.
_____________ Aquecendo a Produção na Sala de Aula. São Paulo: Nativa. 2001.


PESSOA."Fernando Pessoa - Obra Poética", Cia. José Aguilar Editora - Rio de Janeiro, 1972, p 164.

STEVENS, J. O. Isto é Gestalt. São Paulo: Summus Editorial Ltda., 1975.