Às vezes o acaso é generoso conosco e acontece de conhecermos pessoas especiais como Ema Brígida de Poli que nos brindou recentemente com a publicação do livro As Mulheres da Minha Vida, pela Editora Insular http://loja.insular.com.br/product_info.php/cPath/114/products_id/1199.
A escritora é gaúcha, reside em
Florianópolis há 30 anos, é jornalista com atuação em rádio, jornal e
televisão. Na RBS TV-SC foi produtora, chefe de reportagem e coordenadora do
Núcleo de Atendimento à Globo, durante 17 anos. Assina uma coluna semanal sobre
cinema e séries no Portal Making Of. É professora voluntária junto a imigrantes
e refugiados.
Em As
Mulheres da Minha Vida, a autora nos apresenta aquelas que fizeram a sua
cabeça no decorrer de sua vida. São mulheres que se destacaram em várias
modalidades culturais como Oriana Fallaci (jornalista); Lina Wertmuller
(diretora de cinema); Clarice Lispector e Adélia Prado (escritoras); Elis
Regina, Mercedes Soza e Billie Holiday (cantoras), Ingrid Bergman e Leila Dinis
(atrizes), Frida Kahlo (artista plástica), Simone de Beauvoir (filósofa);
Winnie Mandela (líder política).
– Como foi para você tornar-se escritora
(de literatura), após 17 anos de TV?
– O texto escrito sempre
esteve na minha vida, pois fiz alguns trabalhos em jornais e revistas. Na
verdade, não me afastei muito do Jornalismo, pois o livro é de crônicas. Ainda
não me arrisquei na ficção e talvez jamais o faça.
–
Como foi o processo de feitura do livro As Mulheres de Minha Vida?
– Fui convidada pelo
Nelson Rolim, da Editora Insular, para fazer parte da Série Palavra de Mulher.
Ele me deixou livre para escolher e o que pensei primeiro foi escrever sobre
cinema. Assino uma coluna semanal sobre filmes e séries no Portal Making Of e o
tema me pareceu natural. Mas depois achei que era a chance de partir para algo
diferente e optei pelas crônicas. Escolhi 12 mulheres que sempre admirei pelas
ideias, pela coragem e pelo talento e contei um pouco sobre elas, um pouco
sobre mim. De Adélia Prado a Simone de Beauvoir, de Elis Regina, que tive o
prazer de conhecer, a Clarice Lispector, passando por Leila Diniz, Oriana
Fallaci, Lina Wertmuller e outras queridas do meu coração.
– O livro As Mulheres de Minha Vida faz parte de uma série. Como é essa
série? Como foi a experiência de escrever tendo a dimensão de inserir nessa
série? Como é/foi ter em vista “palavra de mulher”?
– A ideia da Editora foi
abrir espaço para escritoras, conhecidas ou inéditas, de Santa Catarina. As
autoras escolhem o estilo e antes do meu livro, vieram dois de poesia. O
primeiro de Iara Germer com ilustrações da Tita Schames, o segundo de Bruna
Barreto. Já há um 4° volume para sair em breve. No meu caso, a escolha foi bem
literal: não só eu, mas as 12 mulheres também têm sua palavra diretamente
publicada.
– Como avalia a inserção social da
mulher nos anos 1980, 1990, 2000, 2010?
– Acho que é um tema vasto demais para que eu
possa responder em poucas linhas. Fui adolescente nos anos 70 e vim
acompanhando grandes transformações até o momento atual. Minha geração talvez
tenha sido aquela que mais viu o mundo mudar. Se pensar que vi as primeiras
mulheres- e fui uma - poder tomar cafezinho em pé no balcão do bar, porque isso
antes "não pegava bem" ou mulher não ia sozinha a um restaurante sem
ser vista com desconfiança... já dá para se ter uma ideia dessa mudança de
comportamento. Sem falar no mais impactante que foi a longa ditadura militar
que enfrentamos. Infelizmente, hoje vivemos no país um retrocesso político,
cultural e social sem precedentes.
– Você atua em jornalismo e literatura. As doze mulheres de As Mulheres de Minha Vida abrangem
diversos campos das artes e da cultura, em qual ou quais desses campos você
pretende se dedicar, no futuro?
– O amor pelo cinema
entrou na minha vida na infância e gosto de escrever sobre o assunto. Não sou
crítica de cinema, que fique bem claro, apenas dou sugestões e falo de emoções
que os filmes me provocaram. Gosto muito também do formato crônicas. No mais,
sigo fazendo alguns trabalhos como jornalista freelancer e também faço trabalho
voluntário junto a imigrantes e refugiados que vêm para Santa Catarina, o que
me gratifica muito.
– Como o par Escrita e Cinema caminha em
sua vida?
Dizer que “sou cinéfila
desde criancinha” já quase virou um mantra. Já escrevi várias vezes contando
que vou ao cinema desde a mais tenra infância e minhas referências são muito
cinematográficas. Nada mais natural que eu juntasse a escrita ao cinema. É o
que faço assinando a coluna Cine &
Séries semanalmente – acaba de passar das terças para as sextas-feiras para
ficar mais próxima do final de semana - no Portal Making Of
(www.portalmakingof.com.br).A
C&S começou de um jeito, mas foi
mudando nesses quase dois anos “no ar”. Ela foi se tornando temática, com um pé
nos fatos do Brasil e do mundo. Isso me permite falar desde filmes antigos até
alguns mais recentes, mas o forte são mesmo os clássicos. A parte, digamos,
atual está nas séries, um hábito que adotei desde que vi Os Sopranos, cinema da
melhor qualidade na TV. Assim, já são 96 edições escrevendo sobre a velha e a
nova paixões. Sempre deixo claro que não sou crítica de cinema, pois não vejo
só com o cérebro, mas com o coração, o que às vezes me faz gostar de filmes que
os verdadeiros críticos desprezam.Selecionei alguns temas da coluna que me são
caros e podem ser lidos no acervo do Making Of. Já aviso que adoro receber
opiniões, críticas e textos de outros autores para publicar na C& S.
– Como é o seu trabalho voluntário de
ajuda humanitária?
– Sou muito afetada pela
dor do outro e sempre quis sair do discurso para uma ajuda prática. Como
trabalhava em televisão, porém, não dispunha nem dos finais de semana ou
feriados livres. Quando parti para um estilo de vida mais tranqüilo, mais dona
do meu tempo, vi que poderia fazer um trabalho voluntário. Mas qual causa
abraçar? São tantas e tão importantes! Cansei de chorar diante das imagens dos
refugiados morrendo no mar, fugindo da fome e da guerra dos seus países. Chorar
sem ação, de nada adianta. Entendi que se não podia fazer em larga escala,
poderia tentar ajudar os imigrantes e refugiados que chegam aqui em busca de
uma nova vida.
Comecei dando aula de
português para uma jovem mãe síria que veio para o Brasil com o marido e duas
filhinhas. Hoje são meus amigos, e procuro orientá-los e ajudá-los em tudo que
posso. Faço divulgação dos eventos organizados pela Círculos de Hospitalidade,
uma entidade de apoio local e internacional a imigrantes e refugiados. As
feirinhas multiculturais, onde eles vendem comida típica, artesanato, confecção
de tranças e tatuagens de henna, por exemplo, são importantes para sua
subsistência. Muitos eram profissionais bem sucedidos em seus países de origem,
advogados, arquitetos, professores... Aqui, sobrevivem como podem.
Aprendi que se há uma
máxima verdadeira é “quem doa, recebe em dobro”. É muito, muito gratificante
poder ajudar essas famílias, as crianças, dar reforço a pessoas maravilhosas
que se dedicam integralmente às causas humanitárias. Sou mais feliz agora.
–
Quais campos das artes e cultura serão promissores, futuramente, para as
meninas de hoje?
– Acho que está muito
difícil para as novas gerações escolherem um caminho profissional que seja ao
mesmo tempo meio de vida e fonte de satisfação. O próprio jornalismo mudou
muito, as condições de trabalho pioraram e, embora possa ser uma profissão
apaixonante, melhor não recomendar... rsrsrs... Vejo que tudo está muito
voltado às novas tecnologias e pragmaticamente falando, acho que é por aí,
independente de gênero.
–
Quando e como será o próximo livro?
– Não sei se haverá um
próximo livro, não me vejo como uma Escritora, assim, com E maiúsculo. Mas se
surgir uma ideia, uma vontade incontrolável de colocar algo no papel, quem
sabe? É preciso ser realista e falar que o meio editorial passa por uma grande
crise. Grandes redes de livrarias faliram, não pagaram as editoras e hoje elas
sobrevivem com dificuldades. A Editora Insular, com uma estrutura menor,
consegue seguir em frente graças à criatividade e ao esforço do editor.
Obrigada pelo post, Edna. É muito prazeroso falar de escrita, ainda mais com uma escritora.Um abraço.
ResponderExcluirBrígida
Parabéns Edna pela entrevista feita um mimo para a escritora Brígida adorei
ResponderExcluirBela entrevista e imenso prazer poder acompanhar um papo gostoso entre duas pessoas queridas e talentosas, que (também) conheci no excelente projeto Ateliê da Escrita, da Biblioteca Cultural CIC, Floripa/SC. Parabéns a Brígida pelo livbro e ao pessoal da Editora Insular pela coragem/trabalho de lutar pela cultura/literatura em tempos tão absurdos. Força e em frente!Abraço.
ResponderExcluir