Professores
e pais já clamaram, em algum momento, por alguma fórmula mágica que instalasse
o hábito da leitura em crianças e jovens. Comigo não foi diferente! Em algum
momento de minha experiência docente clamei por um meio agradável de ensinar
o gosto pela literatura e iniciei minhas pesquisas nesse sentido.
O ensino
da literatura para crianças e jovens justifica-se pela constatação de que a
escola deve se voltar para a construção do ser criativo em seus aspectos
estético e ético, tendo por meta que o aluno se constitua em sujeito que
aprecie a arte literária e seja crítico da realidade. A superação dos entraves
existentes para que a escola siga a meta referida implica em resgatar a função
social da escola para crianças e jovens, que necessitam inserir-se de imediato
no rol daqueles que são aceitos socialmente, pela vivência do cotidiano escolar.
Ao indagar sobre como fazê-lo de forma eficaz, pesquisa no campo do Psicodrama
aplicado à escola mostrou que essa inserção pode ser facilitada pelo uso
didático do jogo com crianças e adolescentes. A construção do papel de leitor pela mediação dos coetâneos
refere-se a uma interpretação do psicodrama sob um enfoque histórico-cultural.
Moreno identificou três fases no desenvolvimento de um papel: a primeira que é
a tomada de um papel; a segunda que é a fase em que se joga o papel e a
terceira que ocorre quando se cria sobre o papel. Quanto mais desenvolvido for
o papel, maior será a espontaneidade que ele apresenta, ou seja, maior a
capacidade de dar respostas novas a situações novas ou respostas adequadas a
situações velhas. O fator espontaneidade é passível de desenvolvimento na
interação com os colegas, dadas as circunstâncias estabelecidas pelos
contextos, instrumentos e etapas do jogo dramático que configuram a atividade
de leitura como vivência de teor ético e estético.
Um relato de atividade de leitura de texto narrativo comparece como
ilustração do uso do jogo dramático em intervenção pedagógica. O texto O Jardim do Homem Sábio do livro A Volta do Contador de Histórias foi
apresentado em dois segmentos e para cada um foi proposta uma atividade
diferente, conforme segue.
“Era uma vez uma cidadezinha onde todas as casas tinham jardins. Havia o
jardim do seu Cravonildo, onde tudo era muito arrumadinho, o jardim da Dona
Angélica, onde tudo era muito limpo, o da Dona Margarida que era uma senhora
muito espaventada, o da Dona Hortênsia que tinha doze filhos, o da Dona Rosalva
que era professora, o da Florípedes que era médica, o do Seu João Urtiga que
era grande causador de intrigas. E tantos outros jardins.”
Aquecimento– foram propostas as consignas seguintes: andar na sala/ Andar como João
Urtiga ou como Dona Florípedes/ Andar como o ‘Seu’ Cravonildo ou como Dona
Rosalva/ Como Dona Hortênsia ou Dona Angélica/ Como Dona Margarida ou outro de
livre escolha./ Quem você escolheria para representar?/ Reunir-se em grupos
farão uma pose para‘foto’ do jardim do personagem escolhido.
“Mas havia dois jardins extremamente diferentes.
O primeiro, o do‘Seu’ Floriano, era na verdade uma fábrica de flores. Se
uma roseira não tivesse pelo menos doze rosas, ele a expulsava de seu jardim.
‘Seu’ Floriano participava de campeonatos internacionais e ganhava muitos
troféus.
O outro era do‘Seu’ Jasmim, um velhinho chinês, meu vizinho. Observei
esse jardim durante muitos anos sem nada notar de especial.
Porém, certo dia, surpreendi ‘Seu’Jasmim esconder uma lágrima, quando
olhava a flor mais feia, mais frágil, num cantinho, isolada. E num esforço
maior pude notar que aquela flor débil brotara por entre as pedras ― as pedras
que‘Seu’ Jasmim não expulsara de seu jardim.”
Dramatização– foi proposto um diálogo entre ‘Seu’
Floriano e ‘Seu’Jasmim, após a escolha dos atores pelo grupo. Após alguns
segmentos de falas, foi solicitada a inversão de papéis.
Após a dramatização foram feitos os comentários.
Referências
MEROLA,
Edna Domenica. A Volta do Contador de Histórias. Blumenau: Nova Letra.
2011. P 13-14.
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Desbloqueio da Expressão e Técnicas de Redação. Revista da FEBRAP. S.A.
Anais do IV Congresso Brasileiro de Psicodrama. Ano 7, número 4, volume 4. PP
20-31. Campinas: DCI Indústria Gráfica. 1984.
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Aquecendo a Produção na Sala de Aula. São Paulo: Nativa. 2001. PP
200-201.
_________________O
bloqueio da expressão e o ensino de técnicas de redação no Ensino Fundamental.Cidade
do Conhecimento, USP (Revista on line). Estratégias argumentativas e
exercícios práticos de dissertação.
MORENO, Jacob Levy. Psicodrama. Trad. Bras. 2ª.Ed. São
Paulo: Cultrix. 1975.
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