Do corpo ao corpus e a organicidade temática
Uma
coletânea escrita por diferentes autores e que possui organicidade de enredo:
eis o grande diferencial de Do corpo ao corpus.
A
organicidade de enredo e de personagens
“Composto por
diferentes autores e autoras, de gerações outras, a coletânea Do corpo
ao corpus apresenta uma organicidade de enredo e personagens que,
desavisados, concluirão se tratar de um único escritor ou escritora.”. (SOUZA,
Rogério, p 12).
Personagens
“Mesmo nas escritas
curtas, as personagens apresentam uma profundidade psicológica e são
encantadoras, cativando rapidamente os leitores.” (SOUZA, Rogério, p 12).
Enredo
“A perda de cabelo, a
insatisfação com os pés grandes, o beijo forçado dos irmãos siameses, a
tatuagem na mão direita de um jovem triste, etc., ficcionalizam marcas e dores
no corpo como metáfora de uma sociedade que, hipnotizada pelas imagens do Tik
Tok e Instagram, valoriza, em demasia, o aparecer no lugar do ser.” (SOUZA,
Rogério, p 11).
Lê-se em Autoimagem:
“Uma das confissões
foi: odiava os próprios pés. Calçava 41. Falava pra mim que detestava comprar
calçados, que quando os calçava e se olhava no espelho da loja, se sentia como
um daqueles palhaços de circo usando sapatos enormes, desproporcionais. [...]
Falava empolgada da “cirurgia da Cinderela”, até descobrir que o procedimento pouco
influenciaria na numeração que ela usava. Falei que ninguém reparava no tamanho
dos seus pés, [...] - Eu reparo! - dizia ela, encerrando o debate.” (SILVEIRA,
p 101).
Lê-se em Na mão direita:
"Olho para suas mãos e vejo uma tatuagem que cobre a pele de sua
mão direita. Evito que ele perceba minha admiração até porque não somos
próximos, e não posso deduzir o motivo pelo qual ele tenha feito aquela
tatuagem imensa.
Tenho um impulso muito forte de querer saber um pouco da sua vida. Algo
perdido no ar me afirma que aquele quase menino traz consigo uma intensa marca
de dor.” (NOBRE, p 69).
A esperança
“Enxerga-se, no olho
de algumas personagens, a esperança em superar momento não
imaginado nas ficções mais inventivas.” (SOUZA, Rogério, p 11).
Lê-se em Devaneios
de um instante:
“Luta
desigual: sobrevivência versos fenômenos naturais. Apesar das condições
impróprias o seu rosto transmitia alegria, dignidade e esperança.” (SOUZA,
Rosilene, p 55).
Lê-se
em Aquele doce beijo tatuado no desejo:
“Nem sei como
enfrentar esse quase não existir e que mesmo assim, quase inconcebível, acolho
como dádiva única. Espero é de esperança amorosa.” (GIL NETO, p 41)
Introspecção
“Em alguns textos
ouve-se a voz de Clarice Lispector” (SOUZA, Rogério de, p 12).
Lê-se em Aquele doce beijo tatuado no desejo:
“A solidão vai me confessando. É que no silêncio,
apreendo as minhas inconfissões mais plausíveis. Vou aprendendo-me em rodas,
geringonças, insensatez. Inauguro-me em resistências e abro trilhas de me
redescobrir nos mal feitos. Me construo nesse vulcão, nas labaredas das
palavras silenciosas que se entregam ao fluir das mutiladas emoções, mas que se
apagam no brilho dos seus olhos. Que ainda brilham no céu de tanto
arrebatamento. No espelho que ancora esse ínfimo presente posso reconstruir-me
assim. O que vivo é meu andaime. Meu corpo sobrevive a tantas almas, ranhuras,
cortejos.” (GIL NETO, p 42).
Ficção e sonho
“A tese que a ficção deve agir
como um sonho aparece em alguns textos, com figuras mágicas”
(SOUZA, Rogério de, p 12).
Lê-se em Devaneios de um instante:
“Passava os dias, tardes, noites bailando tal qual
uma sereia, só que vestida. Ao invés de seduzir o ingênuo público com minha
voz, seduzia-os com a minha dança. No lugar do mar, um aquário. Os espectadores
ficavam extasiados, encantados, com a minha pessoa. Via os olhares brilhantes,
cobiçosos, estarrecidos, incrédulos, invejosos, furiosos... Olhos, sempre olhos
a me despir e a me cobrir. Algumas miradas ficaram impressas nas minhas retinas
molhadas, ora de lágrimas, ora pela água do aquário.” (SOUZA, Rosilene de, p
55).
Extraordinário
“Diferentes contos - que em alguns momentos se
aproximam da crônica social, apresentam o ordinário e comum de forma única,
transmitindo, sem assustar, que o extraordinário pode aparecer
em acontecimentos simples, como num devaneio sobre a batata da perna - desde
que estejamos sensíveis para olhar ao nosso redor.”. (SOUZA, Rogério, p 12).
Lê-se em Barriga da perna:
“Sentei. Olhei para barriga da perna e vi o tempo.
Músculos flácidos, sem massa, procurando apoio contra a força da gravidade.”
(MOTTA, p 81).
Lembranças
“Aliás, a lembrança enquanto sujeito arrebatador
atravessa muitas escritas. Lembranças dos ensinamentos da avó. Lembranças do
momento atual daqui há 10 anos. Lembranças da leitura de um romance. Lembranças da
ditadura civil-militar no Brasil. Tudo muito sentimental, mas sem ser
sentimentalista.”. (SOUZA, Rogério, p 12).
Lê-se em Nunca iria contecer com você:
“E você recupera na memória os fatos amargos que
teve que testemunhar durante a ditadura militar: as máxis desvalorizações da
moeda nacional; os depósitos compulsórios para sair do país; as censuras de
peças teatrais, filmes e livros; a prisão e o exílio de Caetano Veloso e
Gilberto Gil; a “mudança” de Chico Buarque para a Itália; o silêncio triste que
imperava nos barracões da Filosofia no campus da USP, nos anos 1970; a
obrigatoriedade da Educação Moral e Cívica ou dos chamados Estudos dos
Problemas Brasileiros; que anulou o voto durante muitos anos porque só havia a
ARENA e o MDB; que votou pra presidente pela primeira vez aos 36 anos de
idade.” (MEROLA, p 89).
Lê-se em Brasil 2033:
“Esta história se passa num encontro de professoras
aposentadas, no ano de 2033.
Após várias tentativas frustradas de reunir o
grupo, finalmente o encontro aconteceu no final da tarde, de uma quinta-feira,
no apartamento da Bel.” (POMPEU, p 73).
O amor
Lê-se em Aquele doce beijo tatuado no desejo:
"O meu corpo pulsa na ardência de algo
de voo. Algo que flui e arrebata. Mesmo que efêmero." (GIL NETO, p
41).
Lê-se em Relatos de um amor livre:
"O amor é tudo: é sexo, é conversa, é aprender com o outro." (SILVEIRA,
p 36).
Lê-se em Minha avó:
"O amor por plantas [...] se mantém como raízes das nossas memórias
familiares. Levo como marcas tatuadas os bons e grandes exemplos de minha
avó." (NOBRE,
p 60).
A magia do escrever
“Enxerga-se, no olho de algumas personagens, a
esperança em superar momento não imaginado nas ficções mais inventivas. Porém,
uma marca persistirá. A magia do escrever. Axé!” (SOUZA, Rogério de, p 13).
Lê-se em Caminhar
e ...
Lê-se em Minha avó:
"O amor por plantas [...] se mantém como raízes das nossas memórias familiares. Levo como marcas tatuadas os bons e grandes exemplos de minha avó." (NOBRE, p 60).
“Escrever é praticar magia...
Tirei da
cartola da vivência: lata de lixo, parque de diversões, lentes, gato, dunas,
buraco de ponte feito a boca da Bernunça, ao invés de coelhos. Foi assim que o
mágico do circo que havia na Vila Independência, nos anos 1950, foi morar num
haicai:
Na cartola feia,
coelhos enganam olhos
qu’ alva luz tapeia.” (MEROLA, p. 88).
REFERÊNCIAS
Do corpo ao corpus. GIL NETO, MEROLA, MOTTA, NOBRE. SILVEIRA. POMPEU, SOUZA Rogério, SOUZA Rosilene. ISBN 978-65-87264-99-8. SC, 2022, pp 11,12,13, 36, 41,42,50, 55, 60, 69,73,81,83,88,89,101,105.
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