terça-feira, 28 de maio de 2013

REESCRITA: O USO DA NORMA CULTA. Por Edna Domenica Merola.

Para escrever bem não é necessário saber de cor os coletivos de camelo, lobo, elefante, etc. Mas é preciso fazer cuidadosa revisão do texto, após a escrita. O uso da norma culta associado à utilização de vocabulário usual possibilita que você se comunique por escrito com um maior número de pessoas.

Reescrita de textos digitados no “Word”:
a- Após digitar seu texto é interessante selecionar todo o conteúdo e clicar em layout da página para verificar: orientação= retrato; margens= normal; cores= automático; fonte= times new roman; tamanho=12; b- Clicar em revisão e optar por ortografia e gramática; c- Quando a revisão gerar dúvidas= ir para o google e digitar um nome de dicionário “on line” (Por exemplo: Dicionário Priberam); d- No dicionário digite cada palavra (dúvida em ortografia). Para palavras compostas: tente escrevê-las juntas, se o dicionário não reconhecer, vá para uma fonte geral de pesquisa (o Google, por exemplo) e escreva as 2 palavras separadamente; e- Há pares de palavras que têm a mesma pronúncia. Ex.1: taxa ($) e tacha (cujo diminutivo é tachinha e serve para 'pregar' alguma coisa em algum lugar). Ex. 2: Hesitar e exitar - hesitar é a forma correta quando o verbo significa: demonstrar dúvida; não estar ou não se mostrar seguro; duvidar; vacilar; gaguejar; titubear. Já exitar é o mesmo que ter bom êxito, bom sucesso, resultado satisfatório. Essas palavras são boas para consultar seu significado no dicionário, sempre que forem usadas. f- Uso de verbos + pronomes oblíquos. Ex.: Dê-me o caderno. No "Word", clique em iniciar (no alto à esquerda), depois selecione localizar (no alto à direita) e escreva “me”. O pronome será localizado em seu texto quantas vezes tiver sido usado. Pesquise a regra, usando o Google para consultar gramática e o item “Colocação Pronominal”, corrigindo a colocação feita em seu texto.
g - Rever o uso de crase, usando procedimento análogo ao descrito anteriormente.


Reescrita de textos manuscritos:
Cuidado 1: quando alguém faz um relato oral e utiliza o tempo presente para narrar um fato passado e acontecido com outrem todos entendem. Já na linguagem escrita, é necessário manter o relato no tempo passado para maior clareza. Na narração em discurso indireto, predomina o uso do tempo referido (que é passado, frequentemente). Na narração em discurso direto (fala de personagem), há predominância de verbos no tempo presente.
Uso dos verbos no pretérito passado: para fatos que começam e terminam no passado na hora da narrativa. Uso dos verbos no pretérito imperfeito: para contar fatos repetidos no cotidiano, no passado.

Cuidado 2: palavra cuja pronúncia omite vogais ou imita a vogal da próxima sílaba. Ex.: roupa na fala coloquial ‘apressada’ pode virar “ropa”; ideia pode virar “idea”; envelhecimento pode virar “envelhicimento”, humorada pode virar “humurada”.  Ouviste pode virar “ouvisse”. Significado pode virar “siguinificado”. Mas na escrita é necessário usar a palavra padrão (é a que está no dicionário da Língua Portuguesa do Brasil).

Cuidado 3: Regras de acentuação ( ´ para vogais abertas; ^ para vogais fechadas).

3A‒ Acentuam-se as palavras monossílabas tônicas terminadas em á, ás, é, és, ê, ês, ó, ós, ô, os. Ex.: vê.

3 A 1- Os monossílabos tônicos "céu", "réu", "rói", "mói", "dói" são acentuados.

3B‒ Acentuam-se as palavras oxítonas terminadas em á, ás, é, és, ê, ês, ó, ós, ô, ôs, ém, éns. Ex.: prevê; também, avós, através.

3B1- Acentuam-se as palavras oxítonas "chapéu", "Ilhéus", "herói", "caubói", "corrói" etc.

3C‒ Acentuam-se as palavras paroxítonas terminadas em l, i, n, u, r, x, ã, ão, is, us, ãs, ãos,eis.
Ex.: Possível, níveis.

3C.1‒ Acentuam-se as palavras paroxítonas terminadas em ditongo crescente. Ex.: exercício, humanitário, ciências, assistência, deficiência, importância, memória, história, Lúcia, família.

3C2- De acordo com o novo sistema ortográfico, são eliminados os acentos dos ditongos abertos tônicos que se encontram na penúltima sílaba das palavras, ou seja, o acento desaparece apenas nas paroxítonas. Passamos, portanto, a escrever "heroico", "paranoico", "ideia" e "assembleia", todas sem acento, assim como: "eu apoio" de pronúncia aberta (no Brasil).

3D‒ Acentuam-se todas as palavras proparoxítonas. Ex.: Mônica; Florianópolis, germânica, política, indígena.

3E‒ Acentua-se a vogal “i”que formar sílaba sozinha ou seguida por “s”. Ex.: sobressaíram, saíste.

3F‒ acentua-se a vogal “u” que formar sílaba sozinha ou seguida por “s”. Ex.: gaúcha; conteúdo.
3G‒ A Reforma Ortográfica Acordo Brasil e Portugal (01/01/2009) eliminou quase todos os acentos diferenciais. Como nas palavras: cores, medo, interesse, fora (verbo, advérbio e preposição acidental). Não há mais distinção gráfica entre o substantivo "apoio" (pronúncia fechada) e a forma verbal "apoio" ("eu apoio"), de pronúncia aberta no Brasil. Atenção: pôde (passado) e pode (presente).

Não são acentuados os encontros vocálicos tais como ocorrem nas palavras ideia; plateia. Não se usa mais o trema (Ex.: frequente, consequente).

Cuidado 4: As palavras tais como tarô, tricô, crochê,... já estão em nosso idioma e devem ser escritas sem o ‘t’, no final.

Cuidado 5: dificuldades ortográficas tais como uso de “s,z,ç”. Ex.; extensão, estender, permissão, asilos, pesquisas, amassado, sobressaíram. Dói, mói. Vez, talvez, através.

Cuidado 6: Uso da crase. Quando o verbo for acompanhado da preposição 'a' e de uma palavra feminina. Crase é a fusão da preposição a + artigo a. Ex.: Vou à (a+a) escola. A ocorrência de crase é marcada com o acento grave (`). A troca de escola por um substantivo masculino equivalente comprova a existência de preposição e artigo: Vou ao (a+o) colégio. Ex.: Vir à tona; às 9 horas.

Cuidado 7: O til (~) é usado para sinalizar que a vogal é nasal. Ex.: fã.

Cuidado 8: As siglas são todas com letras maiúsculas. Ex.: Acre – AC; Alagoas – AL; Amapá – AP; Amazonas – AM; Bahia – BA; Ceará – CE; Distrito Federal – DF; Espírito Santo – ES; Goiás – GO; Maranhão – MA; Mato Grosso – MT; Mato Grosso do Sul – MS; Minas Gerais – MG;Pará – PA; Paraíba – PB; Paraná - PR; Pernambuco – PE; Piauí – PI; Rio de Janeiro – RJ; Rio Grande do Norte – RN; Rio Grande do Sul – RS; Rondônia – RO; Roraima – RR; Santa Catarina – SC; São Paulo – SP; Sergipe – SE; Tocantins – TO.


ADENDO EM 17/5/2016. SUGESTÕES DE LEITURAS

‒ Para escritores iniciantes que pretendem escrever sobre fatos da infância recomendo a leitura do livro Infância (Graciliano Ramos) e do Conto de Escola, de Machado de Assis, disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000268.pdf .

‒ Para quem gosta de escrever sobre a existência (sentimentos, emoções, perdas) indico a crônica Os Flamboyants, Rubem Alves.

‒ Para quem escreve poesias indico ler Mensagem (Fernando Pessoa), O livro do Desassossego (Bernardo Soares); Estrela da vida inteira (Manuel Bandeira).

‒ A todos indico o conto Pirlimpsiquice (Guimarães Rosas) https://www.youtube.com/watch?v=e1DwcTjwuWM

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Carta Aberta: NÃO à adversidade; SIM à diversidade.


Dentre tudo o que coleciono ou aprecio, só não posso abrir mão da palavra literária. Dentre as coisas que posso relevar, só não posso incluir a omissão frente aos atos dos que se julgam "mais iguais", criando rituais e cerimoniais de exclusões e gerando  adversidades...  A busca dos direitos coletivos deve superar a denúncia e congregar por vias da diversidade.


1- No caminho com Maiakóvski
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem;
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
De Eduardo Alves da Costa
Atribuído erroneamente a Bertolt Brecht e Vladimir Maiakóvski

2- Zuerst kamen sie für die Kommunisten, und ich war nicht Kommunist, und da hab ich nichts gesagt und nichts getan, und dann kamen sie für die Gewerkschaftler, und ich war kein Gewerkschaftler,und sie kamen für die Sozialdemokraten, und sie kamen für die Katholiken, und sie kamen für die Juden, und ich war keiner von denen, und dann kamen sie für mich, und da war keiner mehr, der schreien konnte.
(Trecho de sermão de Martin Niemöller, pastor luterano, à época do Nazismo)
2- Um dia vieram e levaram meu vizinho que  era  judeu. Como não sou judeu, não me incomodei. No dia seguinte vieram e levaram meu outro vizinho que era comunista. Como não sou comunista, não me incomodei. No terceiro dia vieram e levaram meu vizinho católico. Como não sou católico, não me incomodei. No quarto dia, vieram e me levaram; já não havia mais ninguém para reclamar.
 
(Jornal da Poesia, por Soares Feitosa)

3-"Não vim plantar em demasia
Nem vou implorar nostalgia
Vim bem cantar a sinergia"
                                    Edna Domenica Merola

                                             

domingo, 19 de maio de 2013

Celebração da Natalidade. Por Edna Domenica Merola.


Era uma vez pessoas comuns que nasceram em diferentes estados da federação brasileira, em cidades grandes ou pequenas... Viveram décadas acumulando experiências diversas: profissionais, familiares, existenciais, estéticas.
Chegado o momento em que lazer e vivência estética devem emergir do lago da solidão, surge a busca por algum tipo de agrupamento que não seja pautado em bingo e cerveja.
Um grupo assim reunido vai desvelando os talentos esquecidos por circuitos comerciais como meios de produção... Talentos escondidos pelo próprio indivíduo: uma latência atribuída a algum educador (professor ou parental) do rol instalado no decorrer da infância pretérita...
Mas na maturidade, a força do grupo pode ainda fazer com que talentos comuns ou especiais possam, pouco a pouco, ir se descolando da insegurança introjetada. A menos valia acumulada pode ser substituída e fazer brotar os projetos de ações sociais e pessoais. Então haverá troca entre os saberes de ordem acadêmica ou do senso comum... Haverá amizade entre as diferentes gerações...
Obviamente, os estranhamentos também acontecem, pois tudo faz parte do viver.
O importante é que a festa para celebrar a natalidade tome o lugar do isolamento. E que os rituais de inclusão tomem o lugar dos ritos de exclusão.
Todo mundo é possuidor da cartela pontencialmente certa e, portanto, com dedicação todos serão premiados com a autoestima e a autonomia otimizada. A sensação de celebração que outrora viria atrelada ao consumo pode ser redimensionada. Pois ela vem da leveza da alma. É hormônio da felicidade? Ou beleza da igualdade?
Tente, experimente... Cantar e dançar com amigos antes do sol se pôr... Comemorar seu aniversário ou de seu amigo, seja da idade que for!

sábado, 18 de maio de 2013

Fio. Por Edna Domenica Merola

FIO
 Da terra,

inspiro
hortelã

O ar aroma
enleva
leva acalanta


Do ar,
expiro
nítido astral


- Hortelã: tela


(metamorfoses


formas


cores)


- Telas roxas


Da terra,
Colho a lã:
fio roxo
que encontra
outras formas
outras cores
outras metamorfoses
                        
                                                                outras tecelãs
Tece a lã,
O encontro
Multicor
com fios
filhos da vida,
plenamente,
terrena.


Aulas e 'Flashes'. Por Edna Domenica Merola.



A professora era extremosa, tinha domínio do conteúdo que ensinava e exagerava ao se ocupar com o preparo das aulas. Num desses arroubos pedagógicos enviou um e-mail aos alunos:
‒ Por favor, revejam as sínteses das aulas da primeira unidade. Enviem suas dúvidas, suas perguntas, suas constatações sobre os assuntos das aulas anteriores.
Só a aluna mais quieta e mais discreta da sala de aula respondeu:
‒ “Entendi cada passo, mas me sinto ainda muito crua na formatação do enredo... Ao procurar dar sentido. Sinto-me bem escrevendo. Mas vou colocando frases sem sentido... Parecendo flashes, no ouvido... De repente paro, e não vem mais nada. Só você faz dar sentido...”
‒ O processo de escrita criativa é assim mesmo. Primeiro escreve em flashes (como você chamou). Depois faz outra atividade: de preferência totalmente diferente da escrita. Essa outra ação estimulará outras regiões do cérebro diferentes daquela responsável pela criação com a palavra. Depois volta a ler o texto novamente. Só então poderá fazer as correções e 'dar sentido'. Essa busca de sentido é de alto risco: não pode tirar a beleza do que parecia ‘sem sentido’ e foi originalmente expresso na primeira versão. Nesse ponto de vista, torna-se importante o domínio dos instrumentos linguísticos. Por exemplo, as regras de pontuação que determinam como se dará a leitura.
‒ Outra opção é pedir para alguém ler em voz alta. Desta forma, você poderá ver onde a pessoa dá entonação diferente da que você imaginou. Outro recurso é pedir para alguém explicar o que entendeu, para ver se foi o que você quis dizer. Para treinar esse processo, em 'sala de aula', é preciso haver confiança mútua estabelecida entre pares de alunos. Considero isso básico no exercício de entendimento do texto do outro. Enquanto isso não se estabelece, vamos usando a interferência centrada na figura da professora que propõe inversões de sequências de parágrafos e altera a pontuação. E isso vai:
‒ “Tornando cada texto mais bonito que o outro”. ‒ escreveu a aluna.
‒ A prática pedagógica que prioriza o saber da professora não desenvolve autonomia do aluno por si só. Decorre daí ser necessário incluir o trabalho com colegas de aprendizagem.
‒ Em dupla? ‒ inquiriu a aluna prontamente.
‒ A dupla é uma experiência humana ancestral. Começa com o bebê e sua mãe. E com a mãe e seu bebê. Há dois ângulos diferentes da relação em dupla. Você percebe?
‒ Ah! Acabei de entender aquela primeira aula do semestre... Você colocou música e pediu que fechássemos os olhos para olhar para dentro. Depois de algumas músicas daquela forma é que abrimos os olhos para copiar o movimento do outro.
‒ E esse outro era um colega. Então para cada dupla havia um modelo diferente. ‒ explicou a Professora.
‒ E depois invertemos os papeis. Eu dançava e minha colega me imitava ‒ completou a aluna.
‒ Isso ocorre sempre: o bebê também molda o comportamento de sua mãe. Ela deve aprender a decifrar seu choro para alimentá-lo e confortá-lo. Senão...
‒ Dança! ‒ completou jocosamente a aluna.
‒ É isso mesmo! A formação da dupla é uma via de duas mãos: uma tarefa em dupla. As interações em uma dupla, seus padrões de comunicação, seu estilo de funcionamento fazem concluir que se trata de uma terceira instância. A dupla que dança é diferente da soma do bailarino A + o bailarino B. ‒ discursou a professora.
‒ Então vou responder ao e-mail do meu colega de dupla de entrevista. Ele acabou de entrar on line. Tchau, Professora. ‒ despediu-se a aluna.
A professora extremosa continuou frente ao teclado e a telinha. Considerou que tinha dialogado de uma forma que agradaria... Talvez ao Sócrates! Achou que não, leitor? Ou talvez à mãe do Sócrates... Quem sabe?
Só sei que a professora arroubada considerou que aquilo poderia ser postado em seu blog. E se não gerasse diálogo do tipo maiêutico, poderia gerar bate-papo literário. Redigiu os flashes necessários. Corrigiu o texto já postado, já que seu campo de visão não avistasse nenhum cristão... E nem pagão... Uma vez estivessem os leitores ausentes, a arroubada Professora extremosa pensou em reler o texto imaginando-se outra pessoa... Quem sabe em pé? Mas o corpo queria permanecer na cadeira. E suas mãos continuavam a dedilhar o teclado e a acompanhar a tela... A Professora extremosa (e que também era uma aprendiz, sempre) avaliou que estava com sorte, pois alguém respondera... Era uma 'voz' abalizada e amiga:
‒ A união dos "flashes" e até de textos escritos em momentos diferentes depende de reescrita do argumento inicial da própria narrativa ('a entrada' que aponta para algo). O título geral de um trabalho tem de ser voltado para seu foco. A colocação de uma epígrafe (ou citação) pode diminuir a clareza do texto se não for colocada em diálogo com o título e com o foco da narrativa. O processo intuitivo de escrita dá mais trabalho em sua composição. Mas depois de reescrito percebe-se a beleza não só de seu produto, mas de todo o processo.
A Professora extremosa escreveu:
‒ Você consegue inverter o papel com quem cria. Outros só alcançam a compreensão do Espelho, pois não conseguem desenvolver o Duplo... Necessário para a criação da terceira instância, numa dupla. A criação dessa instância é a obra relacional: ela é estética. Não obrigatoriamente Suave... Bela... Perfeita, mas que denominamos obra relacional estética.
A Professora releu sua fala e achou-a muito teórica. Tentou fazer um duplo com sua aluna mais quieta e mais discreta da sua sala de aula. Avaliou que ela entendia a 'obra relacional estética' por meio de seu silêncio sábio.
‒ É como vejo o silêncio que aprende e ensina. ‒ ponderaria com seu olhar presente.
A Professora apagou sua fala sobre "a inversão de papéis" e "a obra relacional estética" e pensando no "silêncio sábio" escreveu à voz amiga:

‒ Obrigada pela presença! Saudade!