A volta do Contador de Histórias não é
apenas um livro de simples palavras bonitas, pois mostra a vida, levando a uma
viagem na qual sonho, fantasia e a mais pura realidade se misturam. O uso do
tempo na narrativa frequentemente estabelece uma ponte entre o momento presente
e o passado. O uso da temporalidade é um píer que nos leva ao barco do futuro
para retornar ao presente mais vivido, mais inteiro; movimentando-se sem medo
de quebrar as regras e de construir tudo de novo com uma nova roupagem.
Os diferentes narradores dos contos escritos por Edna Domenica Merola enfrentam a questão dos mistérios das escolhas humanas , conduzindo a narrativa
na linha tênue entre o conforto do conhecido e as delícias do que se tem a
desvendar. O Conto O Jardim do homem sábio – o de menor
número de páginas, expressa na voz do narrador que acompanha ‘o homem
sábio’ na observação dos
esforços para conseguir resultados, e a sabedoria para aperfeiçoar e ressaltar
os recursos recebidos.
A autora faz
um duplo convite: ao imaginário e ao palpável. Em seu modo de narrar realiza um
passeio pelos protagonistas escondidos em vestes da rotina do dia a dia. No
entanto, os leitores de alguma forma podem reverenciar personagens ao
reconhecer-se em algum lugar de suas histórias cadenciadas e harmônicas.
O conto O colar segue a
construção narrativa machadiana espelhando o conto A Cartomante.
"Conto em Pas de Deux” fala das "mortes" em vida,
de nosso crescimento, a criação de nossas próprias regras – pagando para ver,
ou se deixando abater com o mesmo resultado que nos levantou. É um repensar
sobre como a gente vê a vida. E como a vemos é que faz dela rica, boa ou má...
O conto Conversa de Coruja remete
à simbolização
do trabalho como busca de aperfeiçoamento e de realização. Retrata a briga interna
entre o saber fazer e o saber observar: as diferentes formas de visão – de
dramaturgo e de crítico, cada um em sua receptividade perante a vida.
Edna,
aquariana com ascendente em peixes, tem mente provocadora que inspira a arte,
que enriquece o ser humano, afasta-se dos clichês e transforma as coisas
básicas em algo primordial: a essência humana.
Desafia, como
um toque de trovões, a movimentar a mente, sem medo de dar gratuitamente sua
chave mestra do conhecimento e vivência. Tudo isto pulverizado com bom humor e
alegria, do denso ao etéreo: uma vida em uma dimensão mais abrangente.
A leitura dos
diversos contos é um convite para o leitor peregrinar entre o conceitual e o
cotidiano. Convida o leitor a adentrar num estado onde se casam o sagrado e o
profano. Com certeza, ninguém sairá ileso de mergulhar numa grande experiência
de aprendizagem ao ler essas doze histórias humanas e naturais que dialogam de forma ímpar com cada um dos doze temperamentos referentes às casas
astrológicas.
O último dos doze contos – A volta do contador de Histórias, homônimo da obra, narrado em
primeira pessoa – traz o sobrenatural como tema. Seria esse conto o mais
próximo da alma da autora? Deixo a questão para o leitor e faço a previsão de que cada um terá um
encontro estético com pelo menos um dos doze contos. Confesso acreditar que Edna já
era contista antes mesmo de nascer.
Santos, maio de 2011.
Oleni Oliveira Lobo
Psicóloga e Psicodramatista
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